Incongruências desnecessárias'

Derluh Dantas
O que tem acontecido com alguns? São feridas e ataques sem qualquer motivo aparente. Trocam-se tiros, ofensas, tapas e indiferenças, quando apenas o silêncio e um ‘desculpas’ seria o suficiente para sanar tantas dores presentes e futuras. Alguns parecem buscar o sentido da vida justamente onde ela se perde, na violência gratuita e infundada. Acho ainda mais nocivo essa falta de gratidão, não precisa se submeter pelo feito no passado, mas é desnecessário atacar com toda artilharia no presente quem te fez bem antes. É uma falta de humor, de riso, de abraço... Toda palavra parece se tornar ataque, para alguns. O cômico é que até o elogio, o lisonjeio, ofende quem se cega com a mágoa, o rancor, esse ‘não vai passar em branco’. Recentemente, tenho discutido com alguns essa defesa à pena de morte, confesso não entender. Como pode alguém julgar o outro por ter matado e defender a morte de alguém? A morte, a ferida, a ofensa, por vezes machucam muito mais quem não tem a ver, do que quem está na relação tênue, dicotômica, variável entre culpado e vítima. Por vezes, é tanta maldade no mundo, que eu não tenho como negar minha empatia quase que patológica com os animais irracionais que vagam por aí. Hoje, vi um cachorro com olhar triste e distante, ao me aproximar do portão, ele não se abalou. Apenas se levantou de seu canto, com latidos, abano de rabo, brilho no olhar, quando seu dono chegou. E o cão, o irracional, não se preocupou muito com a indiferença de seu dono, ele apenas estava feliz por saber que seu companheiro chegou bem em casa, depois de mais um dia de luta e batalha. Não digo com isso que devemos ter amor incondicional, ou que devemos acolher quem nos agride, mas confesso que defendo o respeito sobre todas as coisas, principalmente sobre a vida e as escolhas do outro. Já sofremos tanto pelo tempo e inconstância da história, que não consigo compreender a função nociva de fazer o outro infeliz, que alguns parecem escolher e desempenhar tão bem. Não falta amor ao mundo, falta aos sujeitos permitirem-se amar!

Retalho das más notícias'

Derluh Dantas
Então... Já chorei, tive vontade de vomitar. Até me escondi no canto do quarto, ali no apertadinho entre o guarda-roupa e a parede. Quis mais uma vez ver o mundo sumir diante de meus olhos, mas não aconteceu - apesar de ter sentido algo bem por aí. Quis poder desfazer alguns passos alheios, quis poder evitar, proteger... Algumas palavras me surgiam, enquanto as lágrimas faziam companhia. Vieram lembranças que nem aconteceram de fato, mas são sinceras às minhas memórias. Eu me lembrei do sorriso, do olhar brincalhão e mesmo de algumas expressões de deboche e desafio. Mas, existe a morte. Não que ela seja ruim. Ela não é. O que machuca é a falta que ela provoca. A ausência, aquela certeza de que não nos esbarraremos de novo para um abraço ou só uma admiração calada e distante. Fomos apresentados algumas vezes, outras nem foi preciso, não era necessário. Acho que a vida tem dessas: a pessoa chega, te faz bem mesmo que de longe e vai embora ainda cedo. Cedo?! Não sei bem... Porém, falo da precocidade apenas pelo meu desejo de mais alguns encontros, outras palavras, mais abraços. Voltando a essa partida, para quem fica é dor. Para quem vai, não sabemos. Acho que se fosse possível, faríamos a vida ainda mais duradoura do que parece. Contudo, acho que a morte é a prova viva de como desperdiçamos o bom, o belo e depois temos que viver com o arrependimento do que poderia ter sido... Mas, ainda nos restam as maravilhosas lembranças de quem se foi. E volto ao apertadinho, volta o desejo de vômito, o choro e a sábia necessidade do silêncio. 

Com saudades e tristeza,
Que assim seja!

Ser Sozinho'


Derluh Dantas
Talvez. Talvez, realmente eu tenho aprendido a ser sozinho. Não é uma questão de simples costume, é de aprendizagem, de descobrir gozo, onde antes existia apenas medo e desespero. Engraçado, em meio a esse ser sozinho, algumas lembranças tentam causar certo desconforto, certa loucura, desejos de volta. Mas, ser sozinho ensina um tanto do malabarismo entre silêncio e som. Já não assusta o espelho, as formas começam a serem aceitas com um tanto mais de carinho e acalanto. Os olhos piscam! Já não têm a fome infiltrada, apenas reconhece as cores, o belo por entre o pseudovazio de algumas rotinas. Risos. As lembranças, quer dizer... As músicas, as pedras, lugares, que antes causavam dúvidas sobre a dignidade que parecia perdida, se tornaram lugares míticos, fantasias de um tempo que já não cabe mais. Ser sozinho – é engraçado eu me categorizar assim, ainda não vou às baladas sem um amigo em presença, ainda não me sinto a vontade na estrada sem uma companhia para prosear... Porém, sim, considero-me ser sozinho em tantos outros aspectos. Já não consigo mais a adulação, a insistência... Aprendi a deixar voar. Ao mesmo tempo em que vejo os poucos que chegam... Partirem! Já não dói tanto. Creio que por ter aprendido a voar sozinho, também. As fotografias já não necessitam de poses, de mordidas, beijos ou abraços, são fotografias sinceras de mim. Sim, há belas companhias, sinceros abraços, beijos, mas já não há mais o anseio dos mesmos. Há o respeito ao tempo, à estadia, ao pouso e à despedida, que há vezes que nem existe. Apenas chegam, fazem umas cócegas ímpares e simplesmente viram nuvens indo embora com o vento. Não há remorso, pelo contrário, aprender a ser sozinho me faz valorizar o tempo, ainda que aparente efêmero, por vezes se torna infinito. E por isso, agradeço em sinceridade descabida, o reconhecimento de ser sozinho.

Pedido sério ao mar


Você tem mistérios profundos. Por vezes, leva o amor para longe, outras até o aproxima. Algumas vidas foram desfeitas ao seu poder, outras... protegidas, bem verdade. Eu não sei se aquele menino de belo sorriso entrou em seu reino, eu não sei se você tem algo a ver com isso. Eu não sei onde ele possa estar, mas não deixo de cantar ao mar o desejo que ele volte bem. Não importa muito se houver alguns arranhões, não importa se ele tiver perdido algumas lembranças, só queremos que ele volte logo e com alegria para nos brindar algumas vezes mais com seu sorriso. Eu sei que sou intruso nessa dor, mas é uma dor que partilho. A dor de não saber onde ele está, a esperança de que ele esteja bem e um tanto protegido em algum lugar desse mundo. Eu sei, Mar... Eu sei que você nem sempre nos dar oportunidade de outra chance, eu sei que suas ondas são sempre as primeiras e únicas, mas uma vez mais eu te imploro: Usa seus mistérios e sua magia para trazê-lo bem aos nossos braços e abraços.

Eu sei que parece abuso, sei que você deva ter outros afazeres pelo mundo... Mas, belo Mar, não é pelas possíveis lágrimas que me provoca que não posso ter esperanças em seu poder de amar. Só queremos que ele volte logo e bem. Foi perto de ti que ele desapareceu, sendo assim, tenho esperanças em ti... Que ele esteja bem e que logo nos volte com muitos olhares, enredos e sorrisos!

Em magia e com amor,
Derluh Dantas.

OBs.: O Universitário Henrique Amaral Roza, de 23 anos, desapareceu na Praia de Itacoatiara, na Região Oceânica de Niterói, na última sexta-feira do dia 15/11, por volta das 15h. Ele estava com alguns amigos na praia, deixou seus pertences com o grupo e saiu sozinho em direção ao mar, mas desde então não foi mais visto. Ele estava com uma bermuda verde e camiseta cinza, como dito pelas últimas pessoas que estavam com ele. Não sabemos se ele entrou no mar, se foi em outra direção, não sabemos o que aconteceu... Caso alguém tenha alguma informação que possa ajudar na busca do estudante, pode entrar em contato com Juraci Amaral, tio do rapaz que reside em Niterói, pelo telefone (021) 7913-6067 ou com alguém que possa nos ajudar a encontrá-lo.

Filho de Água e Ar'

Derluh Dantas
Filho das águas, eu sou de elemento ar.
Gosto das imperfeições sinceras, gosto daquele sabor de amar.
Sou um misto de medos,
Calor fora do lugar
Gosto da liberdade verdadeira
Prefiro não perguntar.
Passei esse tempo em sua busca,
Em cada canto buscava o seu olhar.
Há momentos que simplesmente me cansam
Há desejos que simplesmente não me fazem cessar
Não espere Drummond ou Shakespeare
Eu sou baiano demais para me resumir ou aparentar
Gosto de ser elemento torto, elemento comum
Sou de signo aquário, se isso for importante revelar
Filho das águas, de elemento ar
Para além de mais um na multidão,
Devo ser para quem souber desvendar.

Tic-tac-tic!

Derluh Dantas
Não posso me desculpar agora. Pensei em usar onomatopeias e descrever em detalhes os sons e os detalhes de um momento qualquer. Seriam palavras coloridas para disfarçar os espinhos cravados por entre a pele, por debaixo dos pelos cerrados. Meus lábios tremem à lembrança de seus beijos, aqueles demorados que nunca nos foram permitidos. Poderia falar de cores, odores ou voltar às onomatopeias do relógio de ponteiro, das gotas de chuva e do barulho do vento, mas você não estaria de olhos despertos para ler ou ouvir o que as palavras aqui tecem apenas para te ver sorrir. Mas, sinceramente, e daí? Eu aprendi que há uma responsabilidade magnífica naquele que ama, mas não há obrigatoriedade de recompensas ou retribuições. Faz-se preciso entender que gostar de alguém, não é tê-lo como um bibelô qualquer, escondido na gaveta do meio da penteadeira. Gostar de alguém de verdade, às vezes, é justamente ir embora e deixá-lo descobrir outros caminhos que você possa não estar. É loucura estar vivo e devaneio maior é amar. Sendo assim, fico aqui à ébria lembrança de seus sorrisos, esperando como um louco um oceano meu para mergulhar e me inundar. Para não fugir ao dito: 'tic-tic-tac-tic'.

Falta de mim'

Derluh Dantas

Estava tudo em silêncio, tudo milimetricamente parado e em silêncio. Seus olhos ainda estavam um tanto úmidos. Esses, ainda um tanto sonolentos, percorreram todo o ambiente parecendo querer encontrar um brilho distinto. Ele levantou-se, vestiu as roupas que estavam no cabideiro e saiu ainda tonto do sonho que tivera. Sobre o sonho desta noite, não lembrava nem ao menos uma cor, um ruído, um vestígio do que teria sido, mas sabia que fora bom, apenas sentia que fora. Sorriu diante do espelho, pensou em se banhar, mas ouviu um barulho na sala... Barulho que o fez sair por um instante do devaneio e percorrer os olhos naquela realidade vazia. Os livros sobre a mesa, alguns papeis caídos no chão, a janela fechada, o chaveiro pendurado na porta balançava e dele vinha o barulho. Alguns besouros pareciam ter feito a festa no balcão da cozinha e dormido ali mesmo depois de uma dança ébria. Ele resolveu ligar o som, quebrar um pouco com o silêncio que perturbava e ocupava toda a sala. Ao apertar o play, uma voz feminina, melancólica e triste o fez chorar instantaneamente. Ele lembrou que seu sonho era sobre lembranças, memórias de momentos que ele imaginou viver até aquele tempo e não viveu. Com aquele choro, aquela voz, os besouros e o silêncio, ele percebeu a dor alucinante de ter se perdido e sentiu saudades afiadas de quem ele era para além daquela falta de sentidos.

Minha vaidade'

Derluh Dantas’

Foram alguns convites... Todos derretidos pelas circunstâncias da palavra ou de algum insistente espirro. Veio à dança, o chuveiro e o canto forte de um rock qualquer ou de uma voz doce de um italiano boêmio. Tomou duas doses do mais forte absinto azul, cinco doses da pura tequila marroquina. Embriagou-se de uma brisa qualquer. Pensou em sair, pensou em ligar, fugir. Pensou um misto de tantos desejos, que ao seu redor não encontrou se quer uma oportunidade, uma ponte, um beijo. Mas, desnudando a fábula e fantasia, estava na sala de TV, o aperto no peito, o fim da novela das sete e saudades de um tempo que não teve acesso. Foi assim que se fez sentir essa fábula rotina.

Lento luar'

Derluh Dantas

O céu já se faz negro com pequenos pontos de luzes coloridas. Estrelinhas que piscam em silêncio, lá de longe, me fazendo companhia. Já não ouço mais sua voz dentro do meu peito, eu deixei as janelas abertas e parece que só agora você percebeu e se foi. Em meio à sala vazia, o Jazz já não me faz mais suspirar. Algumas lágrimas ainda rolam no rosto quanto toca aquele sambinha antigo, aquela voz feminina, o sax e a bossa. Eu aumento o som, talvez uma tentativa vã de fazer calar essa saudade escandalosa. Não se preocupe, não estou falando de você aqui... São saudades de ter alguém para abraçar, de desejar o toque da pele, do gosto. De ter uma companhia mesmo que a solidão seja rotina. Engraçado, eu sei o desenho dos olhos, eu sei a cor dos lábios, eu imagino cada detalhe da pele macia, do pelo arrepiado, do toque delicado com a ponta do nariz... Mas, você ainda não existe para meus acalantos, para meus lamentos, para meus sorrisos desenhar. Engraçado como amar, para mim ao menos, não precisa necessariamente do presente e da companhia, é algo além da insana vontade que se forma no maracatu, no frevo ardente, no axé cadente. Eu gosto mesmo de dançar e amar, se querem me condenar por isso, sou intensamente culpado e não paro de amar e dançar nem uma vez mais! Assim, se faz dança nessa noite de lento luar. 

Realidade'

Derluh Dantas
Andando pelo mundo eu vi uma pessoa se dizer contra o aborto em defesa da vida, ser a favor da pena de morte em argumento sobre a mesma. Eu ouvi um homem que se dizia pregar o bem e o amor, ofender, punir, proibir o outro de amar e ser amado. Eu presenciei uma mãe discutir com um homem por fumar maconha, dizendo proteger sua filha presente e ao mesmo tempo estar com uma latinha de cerveja em uma mão, na mesma um cigarro aceso e usar a outra mão para agredir uma terceira mulher em questão. Então, a maconha desconhecida é mais prejudicial para uma filha que ver sua mãe violentar, ser vulgar, incoerente e bêbada?
Eu ouvi pessoas falarem de um Deus que criou a liberdade e essas mesmas saírem por aí cessando o direito dos outros.
Andando pelo mundo eu presenciei o amor seleto, o direito discreto e a violência descaradamente defendida, aplaudida, desferida. Eu senti um homem berrar aos ventos que a vida de outro valia menos que o espelho quebrado de um ônibus qualquer, e os outros que falavam de segurança defenderam o desejo de assassinar. Eu vi crianças serem mortas e violentadas com o consentimento de adultos que as colocaram no mundo e nada fizeram por elas. Vi adultos saudáveis tiraram tudo do outro e depois não aceitarem serem agredidas por quem não tem mais nada a perder, além de uma vida miserável.
Eu ouvi argumentos distintos para os mesmos comportamentos. “Ele merece morrer, antes que tire a vida de alguém” – e me pergunto, então, você também? É estranho sobre os mesmos olhos que defendem a vida, você presenciar as mãos manchadas por mortes. E no meio de tudo isso, eu me vi. Um alguém pequeno e miúdo que sonha em outro mundo e não faz nada de fato por esse aqui. Mas, o que fazer se sempre tento e não consigo? Continuar tentando, ao menos por uma consciência tranquila e condizente com o que acredito e defendo. E de todos os males do mundo, tenho certeza e sinto que ainda há gente verdadeiramente de bem por aí.

Encanto da pedrinha'


Ao longe, parecia uma pedra opaca. Já não pulsava, já não batia... Já se fazia distante e desconhecida da vida. Essa pedra ficava guardada entre muitas palavras acadêmicas, abstrações de amores, filosofias, Dizia-se feliz apenas com histórias alheias.
Havia uma poesia circundante, se dizia de sonho distante ou mesmo de história não existida. Pelas janelas de onde se escondia, olhava com desinteresse o mundo de fora, pensava não ter mais nada humano que o despertaria. Continuou admirando as borboletas, as flores pequeninas, as cores minimalistas que lhe surgiam em uma estranha rotina.
Gostava do sono, pois nele podia ser outros, e a pedra reluzia, mas ao acordar a pedra continuava vazia e fria. Há uma magia que não lhe abandona, mas nada que pareça haver encantos. Até um dia qualquer na grama...
O cansaço e o por do sol, a desesperança que se apossou no menino e ao encontrar aquela figura diferente ao comum já visto, a apatia voou. Eis que o tolo fez a volta, quis ficar, o que dizer? O que esperar? Mas, pareceu não ser visto. A pedra mudou de cor, de textura, de ritmo. Já não importava o cansaço de domingo, já não importava a falta de encanto, quis arriscar.
Um pedaço de papel, caneta preta, a letra do amigo, o que fazer no momento seguinte? Troca de olhares por belos encantados três segundos, calafrios, agir normalmente, gaguejos e o ‘oi, posso conhecer vocês?’ Como ser mais tolo? Não há espaço ao poeta medíocre para experimentar verdadeiro amor. Sendo assim, lhe deixo livre, sujeito descrente, deixo em paz minha pedrinha carente. Contudo, ainda desejo que você surja em um beijo qualquer, um abraço insistente e vamos de novo, até o dia que haverá mais que um continente entre a gente, haverá a distância maior da semente, do encanto, da flor...
Com carinho,
Derluh Dantas

Miúdo!


Eu vou falar baixinho, os passarinhos nem irão ouvir de seus galhos. Eu quero sussurrar bem pertinho de sua orelha e quem sabe até tocar os lábios como se fossem sons em formas de beijinhos. Mas... Ainda que eu use palavras de passarinho, com formas de amor-perfeito e cores de uma nascente de rio, ainda assim acho que você iria se assustar. Deve haver algo em minha voz ou uma magia estranha em meu ritmo de falar que faz semente se assustar e brotar em outro lugar.  Não precisa de medo ou lamento, gosto de sua pele, sinto algo especial em seu olhar... E falando baixinho: se eu soubesse como, faria questão de todo dia te paquerar um tiquinho e quem sabe no fim de tarde, em um farol especial teríamos um beijo ao nos entregar. 
Carinhosamente,
Derluh Dantas.

Vírgulas, olhares e som!

Derluh Dantas'
- Calma! Pode sentar, fica a vontade. Conte-me o que te traz aqui e vamos às palavras que surgem... Palavras de um tempo recente, mas que já provocam belas saudades e pensamentos.
Tarde de segunda, em uma lancha ao mar. Voltando para casa. Em meio ao barulho do motor, de pessoas falando, celulares tocando... Decido me ocultar dali. Nos fones de ouvido declarações de belos sentimentos em forma de música que alguém arriscou/confessou. Depois de algum tempo com a música e a apreciação das faces presentes, do mar, prefiro me entregar à literatura. Um bom livro, metade da história, música, um sentimento gostoso de estar sozinho naquela imensidão de mar. Entre um sorriso ou pensamento que a leitura e a música provocavam, eu apreciava o mar.
- O mar! ...
Ao refletir os raios solares, o mar parecia um cobertor de prata maleável, com ágatas verdes, turmalinas azuis, jade, tudo entre o metal prata. Esse tapete mágico escondia um mundo imaginário, uma fábula desejada, fábula que inspira o transporte para perto do mar límpido e revolto do domingo, do mar que vai mudando de cor junto com as vestes do céu e acaba se tornando em profundezas negras. O negro, alguns pontos de pedras preciosas de múltiplas cores, pontos de luz espalhados por aquele breu infinito.
- Mas, voltando...
Há um prazer delicado em poder mergulhar naquilo que não existe para além dos olhos. Eu fui visitar sementes que nunca brotaram e viraram pequenas pedras que ora machucam, ora enfeitam minh’alma. Pedras tão distintas, algumas são bem polidas, outras opacas, outras tantas ásperas e de brilhos intensos, mas todas fundamentais para as lágrimas e sorrisos que sou.
- Sendo assim, caro leitor... Não me delongue o som, eu me encantei por um olhar distante, um olhar que direi que foi para mim e que a boca não pronunciou ou admitiu. Eu senti a solidão intensa de não se sentir parte de nada concreto, nada real, mas que de uma forma estranha eu senti uma conexão cósmica com a vida particular e fabulosa que surgiu de uma conexão imaginária de três segundos. Porém, como dizem os racionais: “não há nada especial nisso”, complemento apenas, se você não sentir. E foi assim, um tempo estressante, uma companhia amiga e duas descobertas fantásticas. O que mais posso querer? Como disse a menina com nome de diva brasileira e sobrenome famoso: Espero ouvir mais histórias (e fazer parte de algumas)”.


Assim encerro essas: Que venham os acontecimentos... Pequenos, bons, belos, passageiros, como vierem!

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Sobre as flores'

Derluh Dantas

Enquanto tomo o café quente, fico a imaginar que personagem eu seria em alguma história de ficção. Provavelmente, teria que ser um drama, alguém tentando negociar com a vida o prenuncio da morte. Um personagem triste, meio cabisbaixo, que fica imaginando a possibilidade de mudança, mas não sai da poltrona mais confortável da sala. Ele negocia com as paredes às suas rugas. No espelho do banheiro imagina diálogos intensos, mas não há alguém com quem conversar. Cada zumbido de mosca o desperta, o prende a atenção. Enquanto ele beberica o café que lhe queima a língua, ele lacrimeja pela dor de se sentir ainda vivo. Quando outro personagem morre, ele se questiona por que a vez dele não chega. Como a vida pode matar uma mãe e deixar esse infame parasita ainda vivo? Esqueci que não era pra eu ser tão intenso, posso voltar a falar das flores, de suas cores e odores. Perdão, mas o sangue que percorre em meu corpo leva consigo o veneno e antídoto para essa minha monotonia triste. Não deveria reclamar, tenho superficialmente tudo o que preciso e dirão que só tenho a agradecer e agradeço de coração e alma... Mas, o sorriso que me falta, se faz por essa ausência de sentido em raízes que não tenho, de asas que me pesam e não me fazem voar. Mas, voltemos às flores. São belas formas e cores, não é mesmo?

Puta!

Derluh Dantas

Essa vadia anda um tanto mais ousada e arredia. Ela surge sem prenúncio, não me deixa dormir, me acorda no meio da noite, me excita, me inibe. Eu ando covarde para assumir as formas que ela apresenta, para apresentar os odores que ela me obriga. Simplesmente, sou pequeno demais. Presunção minha acreditar que ela se deitava comigo por prazer... Começo a acreditar que ela apenas me abusa, me fazendo sentir o gosto do voo, mas me provando a incapacidade de voar. Ela esfrega seus cabelos negros, seus seios pontudos e volumosos... Faz gemidos quentes ao pé do ouvido, me acaricia as nádegas, a virilha, esfrega sinuosa em meu sexo. Ela faz e se desfaz em brumas. Em suas mãos há manchas negras e azuis, há calos, mãos másculas. Ela sorri pra mim diante do espelho, me faz perceber o abjeto que sou, me faz querer amor. Ela tinge meus olhos, desnuda meu corpo. Cada sinal, cada mancha ou expressão se torna desejo e volúpia. Provoca-me lembranças de momentos que não vivi, me faz recordar sabores que não experimentei... Será que essa vadia é assim com outros por aí? Presunção minha pensar em monogamia com a puta que me envolve, que me desperta calafrios, paixões, luxúrias, amor e prazer. Venha, louca inspiração, inunda esse seu escravo, esse meu ser.

Dia Amelístico!


O baú estava revirado. As palavras se amontoavam pelo chão sem um sentido lógico. A luz do sol estava mais amarelada, um tanto mais quente e eu não saberia descrever o vento. 
Houve roda de capoeira pela manhã, uma ‘louca’ senhora Carmem revelando que eu sou belo, uma amiga feliz. Poderia ser um dia qualquer, mas ao despertar com um estrondo achando ser trovão, mesmo naquele céu intensamente azul, o dia gritava ser único. Estranho domingo atípico 
Em uma praça antiga, os velhos sorriam em olhos com seus netos pirralhos a brincar. Cachorros descansavam às sombras das pequenas árvores, como se curassem ressaca da vida. Jovens casais pareciam necessitar de um ambiente mais íntimo que um banquinho de praça, era cafuné, beijos e pernas. Um careca brutamonte em seu tom de pele quase transparente e tatuagens tribais, fez-me lembrar de que ‘os brutos também amam’. Um jovem casal e seus filhos por escolha, escolha da vida, talvez.  
Tudo tão intimista e minimalista, a lagartixa na palmeira ainda anã, os passarinhos buscando alimento na grama, o sol se pondo e eu na companhia de uma amiga que buscava alguma música que combinasse com o fim de tarde. Eu poderia tecer cada detalhe daquele momento, mas nem de longe eu conseguiria expressar a plenitude que senti. Ao sentir todas aquelas cenas eu descobri uma paz feliz, me senti infinito!

- Caro leitor, nem de perto as produções humanas, como as palavras, poderiam expressar cena tão única que o amor anda tecendo, colorindo por aí. A cronologia não faria sentido algum à sensibilidade tentada aqui, desse domingo alaranjado em nossas bolhas, sorrisos e olhares tão amelísticos, por assim dizer.
Com amor,
Derluh Dantas.

Conto negro'

Derluh Dantas
E tudo que viera de seu passado ancestral, era demonizado por ela. Não tinha a menor ideia de seus avós que morreram tentando defender sua crença, sua cultura, sua fé. Ela fora batizada aos seis anos, aos quinze, dizia que por amor e revelação, se converteu em verdadeira Cristã. Foi-se para outra congregação. Quando menos percebeu, sua pele não era mais negra, seu paladar não era mais rústico. Acarajé era proibido ao menos que mudasse de nome e de mãos que o prepare. Agora ela se tornou uma mulher, chamá-la de negra, dizia que a denegria. Ela era parda, mulher de família e boa Cristã. Ao ver seu irmão de branco toda sexta-feira, orava baixinho que Deus a livrasse do mal e ainda gritava pra ele: “sua vida anda pra trás por adoração a esse demônio negro e Quilombola!” Mal sabe ela que seu pai sangra do lado de fora, e aquele exorcismo que ela pediu ao pastor outro dia, era seu pai tentando pedir perdão aos Orixás, era o toque e seu amor ancestral calado... Afinal de contas, ela só tem saúde e uma história, porque seu pai acreditou em sua crença e a escondeu na mata de seu algoz, que hoje ela chama de pastor amado!

*Qualquer semelhança com a realidade é mera inspiração!

Outra Madalena Cristina'

Derluh Dantas

Eram muitas acusações para uma pessoa suportar em apenas uma vida. Era vadia, puta, promiscua, falsa, dissimulada, preguiçoso, dramático... Pieguices. Se houvesse pedras pelo caminho, muitas seriam lançadas àquela face sem sequer uma gota ínfima de remorso. Havia cansaço em seu olhar e ombros. Olhou-se mais uma vez no espelho, decidiu mudar. Trocou as roupas claras, por diversos tons de cores, uma explosão anunciada em vestes. Mudou sua postura, decidiu estufar o peito aos desafios da vida. Já que sua maior acusação era se deitar em primeiros e muitos encontros, decidiu fazer por onde essa fama de puta. Quanto ao drama que lhe acusavam – que se danem os demais. As lágrimas e dores são suas. Se não querem ouvir Meu lamento ou samba, que tampem os ouvidos, mudem de lugar. Não preciso de batom vermelho, meus lábios já estão por demais rubros de desejo. Não necessito maquiagem, a barba esconde as manchas, meus olhos dissimulam a paz. E esse sou eu, sem culpas ou ‘mas’.

Mexe comigo'


“Eu a havia sentido tão perto durante a noite que sentia o rumor de seu respirar no quarto de dormir, e a pulsação de sua face em meu travesseiro. Só assim entendi que tivéssemos podido fazer tanto em tão pouco tempo. Eu me lembrava de ter subido no escabelo da biblioteca e a recordava desperta com seu vestidinho de flores recebendo os livros para colocá-los a salvo. Via como ela corria de um lado a outro na casa batalhando com a tormenta, empapada de chuva e com água pelos tornozelos. Recordava como preparou no dia seguinte o café da manhã que nunca houve, e que pôs a mesa enquanto secava o chão e punha ordem no naufrágio da casa. Nunca esqueci seu olha sombrio enquanto tomávamos o café da manhã: por que você me conheceu tão velho? Respondi com a verdade: A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente.” 
(MÁRQUEZ, G. G. Memória de Minhas Putas Tristes. 23ªEd. Rio de Janeiro: Record, 2012. Pg. 68)


- Assim são os fatos sobre o primeiro Amor: 
Nós o sentimos em realidades e lembranças que ainda não tivemos a oportunidade de vivermos para além de nossas emoções e ilusões. E tantas vezes temos saudades de momentos que não existirem para além de um desejo recorrente! 
(De Derluh Dantas, 2013)

Blurred Lines'

Derluh Dantas

A inspiração vai se insinuando como uma vadia sedutora, uma dama, dona de si. As palavras que surgem são abafadas por uma censura insana, medo de parecer demasiado pieguices. Mas, de que importa à alma bandida, ser um tanto mais livre e ridícula? Nada. A honra é só uma mancha contraditória que muitos não entendem bem e adoram sair pelo mundo a dissimulá-la com outros conceitos. Deixo minha domesticação de lado e aquela coisa estranha que chamam de orgulho para anunciar aos ventos que tenho saudades de ti. Vieram lembranças de suas formas, do cheiro absinto que sentia ao ver seus olhos, do seu sorriso. Não era pra ser uma fábula de amor e não é... Pense nessas palavras como uma porta ao infinito, um universo em paralelo a esse que vivo e o admitido desejo proibido de ti. Não precisa olhar para o lado que me encontro, não precisa me ouvir, nem ler essas palavras aqui... Elas são dispensas ao vento, são insinuações proibidas de uma inspiração vadia. Sou eu e as lembranças de tempos que não vivi. Meu corpo se arrepia, os lábios se contorcem, se excitam, formam sorrisos. Eu quero o toque em pele, para além desse afago em alma que sinto. Mas, não é sobre você, não é sobre alguém que exista, ao menos não o conheço ainda. Ou, talvez, não tive a oportunidade de reconhecê-lo. Que inspiração insana, sai, vem... Apossa-se de mim! 

Enfim'


Derluh Dantas

São apenas clichês. As formas, as cores, odores. Tudo parece semelhante ao que foi posto antes. Mas, não se engane, há uma magia única transmutando o familiar em explosão de surpresas, delírios. A estrada escura e o pedido de que aconteça a mudança. Mas, o mundo parece calado e surdo, não parece se importar muito. Abra os olhos e perceba que há algo oculto em todo óbvio ser. As cascas vão se rompendo, você vai se ferindo, quando menos perceber o reflexo no espelho irá parecer um desconhecido. Não é que não seja você, você mudou. Em meio essa mudança, faço um pedido cadente, que não se perca o poder de me surpreender. Assim vou sendo um velho ancião, que parece não perder a alma de criança. Sem valor de bom ou ruim, eu só quero voar um tiquinho mais por aí. Hora de romper essas raízes, sacudir as velhas folhas e permitir que as sementes desvendem o mundo. Perdoem-me os clichês e as reprises, tenho vividos em lugares muito parecidos, sem tantos encontros queridos e assim vou me fazendo para o porvir. Mas, ainda não era bem isso que quero expressar aqui... Em silêncio, deixarei para outra oportunidade a parte que quero que leias de mim.

Minha visita'

Derluh Dantas

Ela chegou segunda. Já era noite e todos pareciam se preparar para dormir, mas ela queria falar de suas aventuras, contar porque andava longe. Em seu vestido leve e as sandálias rasteiras, ainda mantinha aquele frescor que só aquela mulher parecia ter. Ela tecia palavras soltas, difíceis de compreender, contemplava o amor enquanto narrava sua vida. Ela era uma narradora completamente intrínseca a quem quisesse entender. Eu ria apenas pelos cabelos em voo, ainda que não houvesse vento passando pela sala. Aquela mulher parece ter uma magia que a cerca, provavelmente é a mais sincera consorte de Iansã. Ela tem o sorriso aberto, o peito leve, o olhar mais intenso e doce que alguém possa ter. Ela sou eu, minha parte feminina, minha porção mulher. Eu sou essa mulher que me chamo de Cristina, eu sou essa mulher que se vai por vaidades íntimas, mas não é presunção, se quiser dizer. Então, convido aos leitores corajosos e sem juízos de valor, ou que os tenha, não importa o que for, a conhecer um pouco mais desse personagem que sou. Cristina é mulher da vida, é amante, dona-de-casa, é vadia. Cristina, são os tantos gritos que essa falsa moral social tenta calar, tenta ocultar, mas que só faz reacender ainda mais a tentação, a paixão. Vamos, Cristina, eu preciso demais da sua companhia. E se algum falso moralista parecer, se tentarem copular, estuprar, violentar ou calar você, façamos dele um brinquedo roto, que o sofrimento fará transcender. 

Minha Oração’

Derluh Dantas

Peço licença, primeiro à poesia. Após meu pedido à rima, peço permissão ao povo do terreiro, o povo de coração negro. Eu quero pedir bênçãos ao deus de axé, meu pai em devoção. Quero pedir à rainha das águas, à deusa das marés e à que se veste em vermelho, às três irmãs, quero pedir sabedoria e paixão. Peço licença para às almas errantes e às demais, quero usar o dom literário que me faz esse ser abstração. Logunedé, pai de inspiração e intuição, minha alma carece de sua intervenção para continuar. Que nos braços de Oxum eu reencontre aquela minha característica única em amar, reamar, amar. Nas curvas de Iemanjá que eu retorne ao meu direito em ser livre, voar, nadar. Iansã, não me abandone o direito de lutar e conquistar. Eu peço ao povo de Angola, aos filhos de Queto, em Yorubá de alma, eu peço que me inspirem rodar. Eu peço a cada entidade antiga, a toda e sincera magia que o mundo se inspire um tanto mais em amar. Eu vi gente lutando pelo amor-próprio, vi gente defendendo o amor do outro, eu vi gente tentando salvar. Sei que o mundo anda um tormento, sei que a maldade parece estar vencendo, mas ainda temos uns raros amantes da vida para acreditar. Eu desejo a cada fé ou crença, ou mesmo a falta dela, que os humanos se reconectem à vida, como eu pude sentir na magia daquele sorriso e olhar. E assim eu volto a pedir licença mais uma vez, nos permita amar!

Os Personagens'

Derluh Dantas

Ele usa lanças em palavras e em silêncio. Ele tem um dom torto em machucar a quem o ama.  Ela tem o nariz mais belo, os olhos mais dissimulados e a alma um tanto avessa às demais mulheres que lhe alcançam. O outro tem uma doçura que inebria, um canto que surda às demais cantigas e não fala de amor, mas pede pra ficar. São tantos personagens estranhos, que seria uma obra deveras complicada para compilar, divulgar, narrar, registrar. Amar. Melhor, poderiam ser pequenas fábulas, cada um com seu próprio panteão de características e cores, muitos tons. Porém... Todos se vão embora, oras ao nascer do sol, oras ao seu se pôr. Não sei se fora meu perfume, ou se fora a expressão, o fato é a solidão que sempre antecede e procede a essas presenças tão fugazes e intensas... Nem vou falar das finitudes da vida. Há outro personagem, que em sua gama de contradições, se torna o sujeito mais apaixonante que pudera encontrar. De todos os citados, há os tantos outros que não conheço, espero que entre os desconhecidos exista aquele amor que verdadeiramente eu possa amar. Não desconsidero que seja amor os aqui citados, mas apenas não julgo ser o momento certo para admitir... Talvez, o outro alguém que deveras chegar, possa ser um desses personagens em outro momento e/ou lugar. 

Howl'

Derluh Dantas

A porta estava aberta, eu havia batido no intuito de te acordar. Quem sabe ao despertar desse seu sono, você não viria atrás de mim? Como fui tolo com essa crença infantil. Eu me lembro dos seus sorrisos e sempre havia algo em seu olhar que falava de uma despedida, de um ‘não sei’, de um ‘já fui’... E eu como um tolo, com essa esperança vadia me dizendo para ter fé. Fé? Fui caminhando cada vez mais para beira do precipício, confesso que era uma visão sem igual. Magnífica ainda é um adjetivo pequeno perto da grandeza daquela emoção. Cheguei mais perto, derrapei... Ao cair senti uma dor afiada atravessando cada certeza, cada lembrança, cada momento que eu tinha como bom. Era o me afastar de você. Na queda, em algum ponto entre o choque no paredão de pedra e alguns galhos em espinhos, eu me senti livre. Voei em meio ao samba único de Beth Carvalho, não tenho certeza. Bethânia, mesmo alguns dizendo pieguices ‘cult’, me fez voar um tanto mais e acabei encontrando o verde profundo do mar. Era uma dança, não havia percebido que não precisava de você comigo. Bailava com minhas saudades, dispensava ao chão nossas lembranças, como se plantasse para nascer algo melhor, outra árvore. Em meio à minha dança, minha solidão se vestiu de um vermelho atraente e salto agulha, ela já era minha parceira de dança por muito tempo, já não doía seu sorriso ou seu olhar, ela era minha amante. E assim, você se fez outra memória comigo.

"My fingers claw your skin
Try to tear my way in
You are the moon that breaks the night
For which I have to

Howl, howl"¹

¹Music of Florence Welch / Paul Epworth

Verborragia feat. Woodstock!

Apenas mais de mim!

Derluh Dantas
As escritas deveriam começar com o tempo, dizer do lugar e dos personagens. Mas, não se faz necessário no momento, o sentido não é racional, apenas um alento a mais. Eu estou amargo, não é de amargura, de raiva ou coisa do tipo, é apenas amargo, de gosto, de expressão, forma. Tenho aflorado algumas cores em mim, alguns sorrisos distintos têm me ocorrido no oculto do quarto ou do banho, depende muito. Eu tenho me apaixonado pela ausência que me é constante. Até confesso que sou pesado demais para quem deseja voar. Porém, sou um eterno encantado por borboletas, suas asas frágeis, seu voar, bailar... Eu gosto de sua forma pregressa, também. Amo cada fase singela da sua vida a se transformar. Mudei o rumo do assunto, alguns poderão alertar. Outros mais desnecessários, dirão que estou num processo verborrágico sem sentido. Talvez, seja bem isso, mas sentido tem de monte. Eu sinto saudades, eu sinto lágrimas, eu sinto sorrisos, amores, despedidas, odores e partidas... Eu sinto tudo dentro de mim, sem ousadia ou pornografia – confesso que, também, gostaria de sentir essas, mas não sinto aqui. Eu tenho sentido vontade de sair, de usar a mochila guardada e voar para longe, outro tempo, Woodstock seria perfeito para mim.


– Tempo, faz um acordo comigo e me leva para Woodstock. Pode me deixar perder por lá, sem volta ou tempo. Eu quero o amor livre, sem esses acordos de passado, futuro, de ainda é cedo ou algo do tipo. Quero amar livremente, poder dançar na lama e ser estranhamente livre. Leva-me a Woodstock, Tempo. Ainda que não seja romântico como imagino, que seja sinceramente livre.

Segunda e Planos'

Derluh Dantas
Eu sou livre. Assim começa essa forma que vos apresento. Eu sou livre! Eu tenho defeitos grandes, tortos, constituintes e que me incompleta, me incapacitam, me diferenciam dos demais que andam por aí. Não, não pense em juízo de valor, não estou falando de melhor ou pior, longe disso. Sendo ainda mais sincero, nem poderia sinalizar se é bom ou ruim. Apenas o que sou. Outro ponto, não é sobre amor, não é sobre você ou sobre o ‘nós’ (esse que só existe em meio aos contos fantasiosos da realidade). Sendo assim, eu gostaria de tecer uma cena, colorir, talvez. Acho o amor um sujeito vaidoso, canalha e um tanto quanto imaturo demais - COMIGO. Pois é, olhando o passado, o Amor adora me usar de antídoto. Eu surjo como a exceção, enxugo algumas lágrimas, provoco alguns sorrisos e fico com as belas fotografias. Porém, quando estou com o coração numa bandeja e o juízo adormecido ou dopado – não sei bem – o outro chega e aí... Kaboom! O amor acontece e já não caibo mais no meio do caminho. Bem assim: Sofro – ‘Eu’ aparece – Danço – Posso amar de novo... Só que é outro alguém, aquele alguém. Não, não pense que conheço pessoas canalhas, isso envolveria meus amigos – e eles não são assim. É sobre mim, mesmo. Talvez, eu seja esse personagem dos livros sagrados, o anjo que não pode amar, mas que cuida, zela, acompanha algumas lágrimas... Porém, não existe para além mais. Como sou pretensioso, eu sei! É que eu sou livre. Para não enlouquecer, eu preciso desses acordos. Ou são as histórias que me provocam esses timbres. Eu sinto que fomos felizes, eu vejo as fotografias, eu sinto. Só que sou um intervalo à vida e uma hora ela chama. Não quero ser leviano ou intransigente aos amores que disseram existir por mim. São belos, são maravilhosos, uma nuvem única. Mas, até esses amores que me juraram fidelidade, companheirismo, companhia, se diluem na rotina dos dias. Você deve estar pensando e eu concordo: O problema deve estar em mim. E daí? Eu sou livre, eu sou solitário, sou dramático, sou assim. Talvez, um dia eu não seja exceção de alguém, eu não seja o sujeito paliativo, eu não seja a oportunidade de redenção. Talvez, um dia eu não seja a salvação, o desabafo. Não quero ser o primeiro o Amor, de quem quer que seja. Eu só gostaria de ser Alguém para Alguém de verdade, sem ser o primeiro, sem ser a exceção à regra. Só ser alguém por um tempo maior do que a latência dos defeitos. Afinal, eu sou livre e tenho muitos inúmeros defeitos. Ah! Não esqueçam que devo ter adjetivos bons, também. Surpreenda-me.


Não irei pensar nos efeitos dessas palavras... Apenas, meu vômito – IGNORE! 

Meu Relicário - III

Derluh Dantas
Eu quero explicar algo que me atravessa o estomago e o ar. Mas, não tenho como explicar algo que não me faz lógica cabível. Sendo assim, me resta apenas devanear os pensamentos em algumas poucas palavras. Por muito tempo, eu acreditei conhecer o que seria o amor. Imaginava o salgueiro chorão, o rio cadente e mesmo os sorrisos confessionais. Eu imaginava a troca de olhares, o toque e que os amantes teriam uma intimidade única, como pum, espinha, odores não aceitáveis socialmente e não apenas isso. Eu imaginava o amor como toda falta de limite entre duas pessoas, pense em falta de limite como aquele lugar comum que tudo pode ser compartilhado, dito, acolhido. Eu imaginava o amor como algo espontâneo e até acreditava que uma pessoa não poderia amar a outra do nada. Eu podia jurar que quando alguém ama outro alguém, um dia esse ‘outro’ se atenta da oportunidade única daquele amor. Mas, isso causa o problema de logística, ou o problema de identificação. Não sei bem. Amor, não é carência, não é cobrança, não é ausência, não é impossibilidade, não é facilidade, nem dificuldade. Mas, o que é o amor? Amor é substância única, não sei se perene, não sei se fugaz. Acredito que não respeita o tempo, ou faz um acordo único com ele, que o relógio ou calendário acaba ironizando os demais. Acho que existem algumas obras da sétima arte que chegam próximo ao que o amor se parece para mim, contudo a vida sempre tece retalhos a mais. E o que eu queria explicar, eu quero explicar que não sei se acredito mais no amor, ele tem sido um ser travesso ao meu estomago e ar.


Eu sou surpreendido por um olhar na multidão, acredito que pode ser a diferença que cabia em minhas orações e um belo dia, voltando para casa, a chuva como o prenúncio clichê e minhas lágrimas como seu verdadeiro prognóstico me assaltam o ar e embrulham o estomago na certeza que naquela falta de adeus, era o adeus que se anunciava. E choro, sofro, busco os amigos e eles já não estão mais lá. Encontro-me sozinho, choro um tanto mais, me desespero. Porém, pela primeira vez não penso no fim, penso na vida, nessa contradição arrebatadora de amar. Pois é, eu que tanto sonho em amor, acabo sendo criança boba ao me deparar com o Verbo Amar. Eu fujo, também, eu tenho medo, tenho desejos e choro. Eu sorrio com meu choro, eu gargalho com minha tola inocência. Amar é para poucos, raros e únicos. Talvez, algum dia, seja para mim. E quando acontecer, se acontecer, eu quero estar o mais limpo dessas histórias possível. Afinal, não quero menosprezar o que vivi, o que senti, o que recitei, mas não posso supervalorizar essas histórias miúdas frente ao verbo do que imagino ser amar!

Sol fez isso'

Derluh Dantas

Eu não gosto de clausuras alheias.
 Sou contra passarinhos em gaiolas, 
contra aquários pequeninos que iludem os peixinhos. 
Sou contra tudo que aprisiona, sempre fui. 
Mas, agora eu descobri que sufoco. 
Sufoco plantas brotando, flores em botão... 
Eu crio tanta expectativa e poesias em volta do vir a ser, que acaba sufocando e afastando toda beleza pretendida. 
Eu sou um brinquedo torto, melhor... 
Eu sou o torto desejo do menino que abre para ver o que tem dentro do brinquedo novo. 
Descobri isso agora, como um cuspe lançado à alma. 
Alento. 
Gosto dos meus melhores amigos, são tão cheios de liberdade que me lançam verdades sem estribilhos. 
E fico assim doendo em mim mais um tanto, talvez seja rompendo essas grades que eu mesmo me aprisiono. 
Hoje dancei com a chuva, foram as cores do céu, foi o brilho do dia, foi essa vontade contida. 
Hoje sorri sozinho, agora choro... Mas, estranhamente confuso, foram sentimentos de singela e pacífica alegria. 
Então, eu não gosto de prender passarinhos ou peixinhos, não quero sufocar plantinhas, sufocar a mim... 
E assim vou me tecendo, me colorindo, me refazendo... 
Talvez, um dia, alguém me descubra assim: 
Um brinquedo torto, meio usado, meio riscado, 
Quebrado num canto qualquer, com um brilho e uma alegria que só um, você, poderá ver, se quiser.

Olhar na Avenida'

Derluh Dantas
Ele estava sentado fazia um tempo, seu olhar parecia fixo ao nada de algum ponto. Ele parecia totalmente destoante, tudo contrastava com sua presença naquele banco de concreto. Era uma avenida, era noite, era festa e seus olhos não pareciam tão alegres quanto o mundo que o cercava. Ele não parecia tão estranho nem tão comum quanto os muitos que passavam por ele. Havia de um lado a companhia de sua amiga que já estava em outra sintonia, segurava com apreço um litro de licor; do outro lado há a solidão que o acompanha onde for. Não parecia ser triste, mas já não tinha ostentação alguma de alegria ou esperança de coisas melhores por vir. Ele havia se contentado com a cor cinza que lhe cabia tão bem em pele e alma. Era um sujeito comum, que não parecia conectado ou cabível à vida. E sem expectativas ou grandes sonhos ele foi buscar ajuda, só para ser ouvido. Começou a desejar a superficialidade das coisas, ele falava de roupas, cortes, cabelos e maquiagens, com a amiga que dizia não entender ou se importar com nada disso. Quando começaram a falar de seios, de pernas, de mulheres, em meio a um grupo um olhar o contrastou, seus olhos brilharam em um fogo ardente. Primeiro ele achou ser desafio, aceitou... Depois, ele pensou ser paquera, ele sorriu... Por último ele já estava entregue a um desejo instantâneo de querer saber mais sobre aquele olhar que o despertou na avenida. E assim os dias se seguiram e ele não consegue mais pensar em outra coisa a não ser vida, alegria e o olhar na avenida... Desejando um tanto mais daquele primeiro olhar, mais algumas vezes!

Apenas Quinta'


Há dias que essas palavras me acompanham. Sempre que durmo acho que elas irão embora e pela manhã já não estarão mais na espreita, engano. Cada dia as palavras ganham mais contrastes e se destacam ainda mais aos sentidos do dia, da rotina, da apatia, da falta... Quais são essas palavras? Tudo bem, as palavras são essas:
Eu vou embora. Talvez, você nem perceba por um tempo. Provavelmente, um dia, você olhará para o canto que eu costumava te chamar, que eu costumava te esperar e até te tocava quando minhas mãos alcançavam seu ritmo. A dor de ir embora será pela falta de perceber seu sorriso, a falta de ouvir seus cantos, de sentir suas danças (que sei, nunca foram para mim). Porém, acho que a maior dor é essa certeza de que você não vai sentir minha falta, não vai pensar em mim, nem mesmo lembrar-se-á dos sorrisos e lágrimas que compartilhamos escondidos, naquele quarto à meia-luz. Talvez, um dia você perceba a marca no sofá, o volume que tinha os lençóis e tenha a sensação de que algo falta ali, mas não irá se recordar de minha face, toque, de minhas palavras, de mim.
Pareço um tanto trágico ou dramático, como adoram sinalizar por aí. Talvez, eu seja mesmo... Uma mariposa acabou de cortar o céu púrpuro em um traço de voo reto, lindo! Não quero mudar de assunto, não quero ir embora, não quero ficar sem você, sem esse querer... Por isso, espero que você perceba as cores, os sons, toques e sorrisos que provoco em você. Que perceba, antes que acabe, esse bem que nossa companhia, o eu e você, o nós nos faz. Se for para ser um amor inventado, que não seja apenas mais um. E o céu tem mudado de cor... E sua chegada me faz sorrir como um menino que acabou de descobrir que daquele pequeno embrulho feio, surge asas, cores, fada mais bela. Fantasias. Eu falo do nosso amor, do meu querer por você!
Essa não é uma indireta, estou falando sobre esse sentimento que não sei o nome. Sobre esse alguém que desencontro, encontro, canto. Sobre um alguém que tem me feito experimentar toda ambiguidade de Ser! Alguém que tenho entendido amar, encontrar, arriscar... Alguém que com o olhar me fez experimentar viver.

Perdão
Com Amor,
Derluh Dantas’

ÁGUA seres AR

Derluh Dantas

Eu poderia começar por um clichê qualquer, mas tudo que tenho pra dizer já foi dito de alguma forma. Pois é, minha liberdade insana tem me feito assim meio aparente repetitivo. Eu sei que o país está em crise, a sociedade tem buscado movimentos mais intensos de mudanças. Eu reconheço as tantas críticas sociais e os tantos outros assuntos que me revoltam... Mas, eu tenho vivido sorrisos distintos, tenho querido você para mim. Tenho querido dançar, viver um tanto mais em seus braços. Gosto de te ouvir berrar no asfalto, de te ouvir cantar em tom alto. Eu poderia dizer um tanto quanto que gosto de você, seria um tanto mais de clichê. Ah! Preciso lembrar por sussurros em seu ouvido: “Gosto tanto de seus fofos defeitos, também!”. E não sei explicar o que sinto. Não, raro leitor, não é que não saiba definir, dizer como começou ou o porquê de ser assim... Eu simplesmente opto pelo poder legítimo de apenas sentir. Eu lembro que você falou de não poder jogar-se ao abismo, por machucar... Tens razão, no fim da queda pode haver o machucado ou a dor, mas eu quero voar um tanto mais com você. Sendo assim, me lanço nesse mundo novo que você tem ‘desvendado’ pra mim. E se for um amor inventado, irreal, como você mesmo me apresentou por Karina Zeviani, admito:

“Eu quero que você me queira
Antes que eu desinteresse
Antes que outro alguém comece
Antes que eu perca a ordem e grite que eu quero te ver
E antes
Que o nada se acabe
Que sobre tudo haja verdade
Nesse amor inventado, criado pra ser...”¹



¹ Amor inventado, composição de Karina Zeviani.

Eu [a]Mar'

Derluh Dantas
Eu confesso. Depois de muitas discussões, reflexões e abstrações. Eu confesso, estou confuso sobre o amor. Por um tempo fui fiel ao sentimento que não existiu para além de mim, não tinha pincel ou tela para expressar. Acreditei, então, que o amor podia ser esse apenas doar, cuidar, silenciar... Mas, depois quis mais... Guardei a fidelidade e aquele sentimento bem fundo no baú e fui experimentar a vida, arrisquei outros tons e comecei a buscar ou permitir o amar. Agora imaginava o amor em ação. Mudou de nome, mudou de forma, agora ao invés de amor, eu quero o amar. Arrisquei uns passos e tropecei em todos. Arrisquei uns pulos e fui ao chão, como a certeza do que acontece a um tomate lançado por alguém na multidão. Depois desses riscos, eu desisti, talvez o amar não seja para mim. Fui ficando raso, sentia algumas saudades minhas, até pensei em me querer de volta, em me procurar, mas já havia me tornado raso de mais. Assim, um olhar doce surgiu, um olhar que pareceu me destacar na multidão. Arrisquei um tanto de ousadia, quis saber mais sobre o olhar. Fui à busca, conheci, encontrei, reencontrei... Em meio aos encontros, desencontros, desencantos, eu inventei de entregar-me. Porém, esqueci que sou como o mar e amar para mim é como ele fica em março, cheio de ressacas, correntezas, explosões. De longe, talvez, eu era interessante, de perto me tornei esse fardo que se precisa nadar para longe. E uma vez longe, para que voltar? Assim, eu retomo ao tempo do amor e descubro mais uma vez que não me cabe, talvez, o amar!

Meus diálogos com o Tempo'

Derluh Dantas

Peço licença às pessoas que vagam pelo mundo e quero pedir uma visita sincera do Tempo.

- Pode se sentar aí mesmo, Tempo, eu tenho algumas dúvidas que não posso deixar para outro responder, se não você.

(Silêncio)

- Eu gostaria que você me explicasse que diaxo é esse que todo mundo diz ser fundamental, julga querer e que ninguém parece encontrar a quem oferecer e/ou receber? Como um sentimento de tão pequena expressão pode provocar tantos sorrisos, lágrimas, desencontros e ilusões? O senhor se julga o curandeiro de tudo... Então, me explica como pode alguém gostar de alguém que não gosta da gente? O que faz uma pessoa aparecer, tirar você do rumo raso da sua história, só para dizer ‘não é bem isso’ e ir embora sem tempo de mais nada. Por que permite tamanha perversidade à alma dos seres? Eu sei que nós humanos não somos dignos de mais nada, mas então por que fazer seres tão ‘abjetos’ existir em um mundo tão estranho? Por que fazer alguém acreditar que tudo pode ser diferente, se no fim das contas vai ser igual a todo resto?

- Quer mais chá, Senhor Tempo? Não posso apressar a fervura da água, não sei apressar o crescer da planta, dizem que tudo tem uma medida certa do senhor... Então, me explica por que essa medida não me contempla? Por que eu tenho que ser esse ser tão visceral, preguiçoso, apaixonado por algo que todos julgam precipitado e tão pouco?

(Silêncio)


- Tempo, não vai embora ainda, ou melhor, me leva com você agora!

Outro sobre Relicário's

Derluh Dantas

Eu estava sentado bem próximo ao mar, olhava o bailar das ondas. O vento fazia melodias com a bainha branca que se formava do movimento sinuoso do mar. Eu estava tranquilo e com o coração aquietado no peito, algumas vezes havia vontade de lágrimas, mas elas estavam tão quietas quanto todo e qualquer sorriso. Os amigos eram companhias agradáveis e leves, eles chegavam e partiam com fácil acesso. Eu me encontrava raso e na superfície da minha vida, do meu ser. Tudo parecia maduro, da vida cinza de um menino que deixou de ser. Pensei que seria assim minha vida de adulto. Quando tudo parecia demasiado raso, eu começo a ser contrastado na minha visão do quer seria amor, amar... Vieram os vômitos, acho que foi a faxina da alma, o espírito crescendo dentro do corpo ainda pequeno. Depois vieram as dores, talvez seja aquele aperto do conteúdo maior que sua frágil embalagem. Quando tudo era desistir, um olhar surgiu na multidão e sumiu com assustadora velocidade. Busquei, procurei, questionei... Mas, o olhar estava em outra sintonia, foi ele que, de alguma forma ‘mágica’, me reencontrou em uma multidão ainda maior. E desde então eu tenho sido esse insistente querer e me perder, me reencontrando ainda como aquele menino imaturo que deseja você só para mim. Admito sinceramente que não sei ao certo o que é amar, o que é amor e se mereço o mesmo nessa forma torta e pequena que sou!

Amor Compassível'

Derluh Dantas
Sinceridade, essa é a palavra que tenho em mente para vos falar. Eu ensaiei algumas introduções, algumas frases, contos, mas não estava encontrando algo que coubesse ao que desejo expressar. Ainda não encontrei, mas vou deixando as palavras tecerem a imagem que desejo. Eu não sei o que é o amor, não sei o que é amar. Por muito tempo planejei histórias que eu julgava serem sinceras fábulas sobre amor, sobre cuidar, querer... Mas, minha vida de tentar ser adulto tem me surpreendido em muitos detalhes, poeiras e fotografias. Eu já não consigo falar de cirandas e não imaginar quem as cantava tempos atrás, quem ainda as canta atualmente. Bebendo uma cerveja e entregando vômitos emocionais sobre minha amiga, um olhar surgiu aos transeuntes, primeiro pensei ser afronta, depois curiosidade e no meio da estrada já não tinha mais o olhar e me perdi, fantasiei. Depois de algum tempo, de desilusões, de abstrações e músicas, o olhar retoma a paisagem, faz sorrir. Tudo se transforma em meio aquela face, não sei se é real, não sei se era fantasia... Eu só sei que a quis – que a quero. Busquei pelos amigos para saber um pouco mais, busquei em meio às selvas de gente, mas aquele olhar não era familiar dali, não correspondia àquele tumultuado contexto. O olhar era doce, maroto, sutil e ao mesmo tempo passional, sensual, intrigante e conquistador. E quem sustentava o olhar, era um complexo ainda mais belo de se sentir. Eu não posso negar, seria precipitado falar de algo que não conheço, mas falarei que tenho sentido algo que a convenção chama de amor!

Sonso Skywalker'

Derluh Dantas

Não sei como começar a expor esse turbilhão de cores que surgem por aqui. Não sei se é o melhor momento, nem mesmo sei que palavras usar. Talvez, a Cristina soubesse definir melhor, usaria o vermelho de começo e depois tingiria tudo em múltiplos sentidos, toques, sabores... Mas, não sou a Cristina.  Então, não sei ao certo como aconteceu, mesmo lembrando exatamente daquele olhar em meio à multidão. Chovia... O sol estava atrasado, mas já amanhecia por esse lado do mundo. Escorreguei algumas vezes e por outras fiquei em dúvida se aquele olhar seria mesmo para mim. Parecia um ser encantado, saído de outros contos e com o poder único da invisibilidade – como o autor que vos fala?! Acho que não... Aquele personagem sabia bem alterar seu status, ele sabia como ser visível e invisível ao simples despertar de sua vontade. Quando pisquei por um tempo um tanto mais longo, ao abrir os olhos, sua imagem tinha sumido. Busquei aquele ser por entre multidões, nuvens, sons... Nada! Resolvi perguntar aos personagens que pareciam acompanhá-lo, mas ele havia sumido por entre portais, havia voltado ao local desconhecido, aos outros contos. Depois de algumas buscas, sem muita explicação, um pequeno mago de fofura incomparável e inconfundível, que muito conhecia meu passado, tinha as respostas que eu procurei na madrugada anterior. E foi assim que tudo começou... Entre conversas e pedidos de ‘o que eu devo saber sobre você’, o sonso personagem de outro conto ocupou meus dias! E a continuação surgirá de outras configurações de prosas, poesias e palavras...

Uma mulher que eu senti - Real!

Derluh Dantas'
Parecia uma mulher comum. Tinha os cabelos cacheados, cabelos cheios que chegavam ao meio da costa curvada. Os seios pareciam pequenos relevos pontudos, mas conseguiam encher as mãos de qualquer amante que sabe acariciar um belo seio. Seu corpo era de uma mulher adulta, que não parecia ainda ter amadurecido como mulher. De toda a sua fuga do padrão de beleza estabelecido, os seus olhos e sorriso despontava ser uma mulher atípica. Ela caminhava pela rua com seu vestido feito à mão, parecendo ser reaproveitamento de retalhos, mas lhe caia tão bem com aquele andar sinuoso, sem parecer oferecido ou vulgar e aqueles cabelos soltos, embaraçados e livres ao vento. Era uma deusa entre as mesquinharias dos homens. Era uma mulher que de tantas marcas, feridas abertas, preservava na expressão de sua presença a leveza de uma dama, de uma moleca. Talvez, caro leitor, você pense que eu a conheça de algum lugar, que eu a tenha inventado, mas nenhuma afirmativa é real. Eu esperava no carro, minha mãe tinha ido comprar vassouras... Quando o calor assolava-me a fronte, vir-me-ei para o lado e não de espanto lá estava aquela mulher, não era nenhuma beldade, mas do jeito que a vi, parecia uma ninfa fugida de algum conto mítico de Homero. E eu, um oráculo vago e inexperiente a observá-la! – Queria amá-la de verdade, apenas como uma mulher pode amar outra mulher – Que me perdoem os falsos deuses, eu desejei fundir-me a ela – eu sendo outra mulher de seios, pele, lábios e cabelos, duas deusas em nirvana descoberta!

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