Os Personagens'

Derluh Dantas

Ele usa lanças em palavras e em silêncio. Ele tem um dom torto em machucar a quem o ama.  Ela tem o nariz mais belo, os olhos mais dissimulados e a alma um tanto avessa às demais mulheres que lhe alcançam. O outro tem uma doçura que inebria, um canto que surda às demais cantigas e não fala de amor, mas pede pra ficar. São tantos personagens estranhos, que seria uma obra deveras complicada para compilar, divulgar, narrar, registrar. Amar. Melhor, poderiam ser pequenas fábulas, cada um com seu próprio panteão de características e cores, muitos tons. Porém... Todos se vão embora, oras ao nascer do sol, oras ao seu se pôr. Não sei se fora meu perfume, ou se fora a expressão, o fato é a solidão que sempre antecede e procede a essas presenças tão fugazes e intensas... Nem vou falar das finitudes da vida. Há outro personagem, que em sua gama de contradições, se torna o sujeito mais apaixonante que pudera encontrar. De todos os citados, há os tantos outros que não conheço, espero que entre os desconhecidos exista aquele amor que verdadeiramente eu possa amar. Não desconsidero que seja amor os aqui citados, mas apenas não julgo ser o momento certo para admitir... Talvez, o outro alguém que deveras chegar, possa ser um desses personagens em outro momento e/ou lugar. 

Howl'

Derluh Dantas

A porta estava aberta, eu havia batido no intuito de te acordar. Quem sabe ao despertar desse seu sono, você não viria atrás de mim? Como fui tolo com essa crença infantil. Eu me lembro dos seus sorrisos e sempre havia algo em seu olhar que falava de uma despedida, de um ‘não sei’, de um ‘já fui’... E eu como um tolo, com essa esperança vadia me dizendo para ter fé. Fé? Fui caminhando cada vez mais para beira do precipício, confesso que era uma visão sem igual. Magnífica ainda é um adjetivo pequeno perto da grandeza daquela emoção. Cheguei mais perto, derrapei... Ao cair senti uma dor afiada atravessando cada certeza, cada lembrança, cada momento que eu tinha como bom. Era o me afastar de você. Na queda, em algum ponto entre o choque no paredão de pedra e alguns galhos em espinhos, eu me senti livre. Voei em meio ao samba único de Beth Carvalho, não tenho certeza. Bethânia, mesmo alguns dizendo pieguices ‘cult’, me fez voar um tanto mais e acabei encontrando o verde profundo do mar. Era uma dança, não havia percebido que não precisava de você comigo. Bailava com minhas saudades, dispensava ao chão nossas lembranças, como se plantasse para nascer algo melhor, outra árvore. Em meio à minha dança, minha solidão se vestiu de um vermelho atraente e salto agulha, ela já era minha parceira de dança por muito tempo, já não doía seu sorriso ou seu olhar, ela era minha amante. E assim, você se fez outra memória comigo.

"My fingers claw your skin
Try to tear my way in
You are the moon that breaks the night
For which I have to

Howl, howl"¹

¹Music of Florence Welch / Paul Epworth

Verborragia feat. Woodstock!

Apenas mais de mim!

Derluh Dantas
As escritas deveriam começar com o tempo, dizer do lugar e dos personagens. Mas, não se faz necessário no momento, o sentido não é racional, apenas um alento a mais. Eu estou amargo, não é de amargura, de raiva ou coisa do tipo, é apenas amargo, de gosto, de expressão, forma. Tenho aflorado algumas cores em mim, alguns sorrisos distintos têm me ocorrido no oculto do quarto ou do banho, depende muito. Eu tenho me apaixonado pela ausência que me é constante. Até confesso que sou pesado demais para quem deseja voar. Porém, sou um eterno encantado por borboletas, suas asas frágeis, seu voar, bailar... Eu gosto de sua forma pregressa, também. Amo cada fase singela da sua vida a se transformar. Mudei o rumo do assunto, alguns poderão alertar. Outros mais desnecessários, dirão que estou num processo verborrágico sem sentido. Talvez, seja bem isso, mas sentido tem de monte. Eu sinto saudades, eu sinto lágrimas, eu sinto sorrisos, amores, despedidas, odores e partidas... Eu sinto tudo dentro de mim, sem ousadia ou pornografia – confesso que, também, gostaria de sentir essas, mas não sinto aqui. Eu tenho sentido vontade de sair, de usar a mochila guardada e voar para longe, outro tempo, Woodstock seria perfeito para mim.


– Tempo, faz um acordo comigo e me leva para Woodstock. Pode me deixar perder por lá, sem volta ou tempo. Eu quero o amor livre, sem esses acordos de passado, futuro, de ainda é cedo ou algo do tipo. Quero amar livremente, poder dançar na lama e ser estranhamente livre. Leva-me a Woodstock, Tempo. Ainda que não seja romântico como imagino, que seja sinceramente livre.

Segunda e Planos'

Derluh Dantas
Eu sou livre. Assim começa essa forma que vos apresento. Eu sou livre! Eu tenho defeitos grandes, tortos, constituintes e que me incompleta, me incapacitam, me diferenciam dos demais que andam por aí. Não, não pense em juízo de valor, não estou falando de melhor ou pior, longe disso. Sendo ainda mais sincero, nem poderia sinalizar se é bom ou ruim. Apenas o que sou. Outro ponto, não é sobre amor, não é sobre você ou sobre o ‘nós’ (esse que só existe em meio aos contos fantasiosos da realidade). Sendo assim, eu gostaria de tecer uma cena, colorir, talvez. Acho o amor um sujeito vaidoso, canalha e um tanto quanto imaturo demais - COMIGO. Pois é, olhando o passado, o Amor adora me usar de antídoto. Eu surjo como a exceção, enxugo algumas lágrimas, provoco alguns sorrisos e fico com as belas fotografias. Porém, quando estou com o coração numa bandeja e o juízo adormecido ou dopado – não sei bem – o outro chega e aí... Kaboom! O amor acontece e já não caibo mais no meio do caminho. Bem assim: Sofro – ‘Eu’ aparece – Danço – Posso amar de novo... Só que é outro alguém, aquele alguém. Não, não pense que conheço pessoas canalhas, isso envolveria meus amigos – e eles não são assim. É sobre mim, mesmo. Talvez, eu seja esse personagem dos livros sagrados, o anjo que não pode amar, mas que cuida, zela, acompanha algumas lágrimas... Porém, não existe para além mais. Como sou pretensioso, eu sei! É que eu sou livre. Para não enlouquecer, eu preciso desses acordos. Ou são as histórias que me provocam esses timbres. Eu sinto que fomos felizes, eu vejo as fotografias, eu sinto. Só que sou um intervalo à vida e uma hora ela chama. Não quero ser leviano ou intransigente aos amores que disseram existir por mim. São belos, são maravilhosos, uma nuvem única. Mas, até esses amores que me juraram fidelidade, companheirismo, companhia, se diluem na rotina dos dias. Você deve estar pensando e eu concordo: O problema deve estar em mim. E daí? Eu sou livre, eu sou solitário, sou dramático, sou assim. Talvez, um dia eu não seja exceção de alguém, eu não seja o sujeito paliativo, eu não seja a oportunidade de redenção. Talvez, um dia eu não seja a salvação, o desabafo. Não quero ser o primeiro o Amor, de quem quer que seja. Eu só gostaria de ser Alguém para Alguém de verdade, sem ser o primeiro, sem ser a exceção à regra. Só ser alguém por um tempo maior do que a latência dos defeitos. Afinal, eu sou livre e tenho muitos inúmeros defeitos. Ah! Não esqueçam que devo ter adjetivos bons, também. Surpreenda-me.


Não irei pensar nos efeitos dessas palavras... Apenas, meu vômito – IGNORE! 

Meu Relicário - III

Derluh Dantas
Eu quero explicar algo que me atravessa o estomago e o ar. Mas, não tenho como explicar algo que não me faz lógica cabível. Sendo assim, me resta apenas devanear os pensamentos em algumas poucas palavras. Por muito tempo, eu acreditei conhecer o que seria o amor. Imaginava o salgueiro chorão, o rio cadente e mesmo os sorrisos confessionais. Eu imaginava a troca de olhares, o toque e que os amantes teriam uma intimidade única, como pum, espinha, odores não aceitáveis socialmente e não apenas isso. Eu imaginava o amor como toda falta de limite entre duas pessoas, pense em falta de limite como aquele lugar comum que tudo pode ser compartilhado, dito, acolhido. Eu imaginava o amor como algo espontâneo e até acreditava que uma pessoa não poderia amar a outra do nada. Eu podia jurar que quando alguém ama outro alguém, um dia esse ‘outro’ se atenta da oportunidade única daquele amor. Mas, isso causa o problema de logística, ou o problema de identificação. Não sei bem. Amor, não é carência, não é cobrança, não é ausência, não é impossibilidade, não é facilidade, nem dificuldade. Mas, o que é o amor? Amor é substância única, não sei se perene, não sei se fugaz. Acredito que não respeita o tempo, ou faz um acordo único com ele, que o relógio ou calendário acaba ironizando os demais. Acho que existem algumas obras da sétima arte que chegam próximo ao que o amor se parece para mim, contudo a vida sempre tece retalhos a mais. E o que eu queria explicar, eu quero explicar que não sei se acredito mais no amor, ele tem sido um ser travesso ao meu estomago e ar.


Eu sou surpreendido por um olhar na multidão, acredito que pode ser a diferença que cabia em minhas orações e um belo dia, voltando para casa, a chuva como o prenúncio clichê e minhas lágrimas como seu verdadeiro prognóstico me assaltam o ar e embrulham o estomago na certeza que naquela falta de adeus, era o adeus que se anunciava. E choro, sofro, busco os amigos e eles já não estão mais lá. Encontro-me sozinho, choro um tanto mais, me desespero. Porém, pela primeira vez não penso no fim, penso na vida, nessa contradição arrebatadora de amar. Pois é, eu que tanto sonho em amor, acabo sendo criança boba ao me deparar com o Verbo Amar. Eu fujo, também, eu tenho medo, tenho desejos e choro. Eu sorrio com meu choro, eu gargalho com minha tola inocência. Amar é para poucos, raros e únicos. Talvez, algum dia, seja para mim. E quando acontecer, se acontecer, eu quero estar o mais limpo dessas histórias possível. Afinal, não quero menosprezar o que vivi, o que senti, o que recitei, mas não posso supervalorizar essas histórias miúdas frente ao verbo do que imagino ser amar!

Sol fez isso'

Derluh Dantas

Eu não gosto de clausuras alheias.
 Sou contra passarinhos em gaiolas, 
contra aquários pequeninos que iludem os peixinhos. 
Sou contra tudo que aprisiona, sempre fui. 
Mas, agora eu descobri que sufoco. 
Sufoco plantas brotando, flores em botão... 
Eu crio tanta expectativa e poesias em volta do vir a ser, que acaba sufocando e afastando toda beleza pretendida. 
Eu sou um brinquedo torto, melhor... 
Eu sou o torto desejo do menino que abre para ver o que tem dentro do brinquedo novo. 
Descobri isso agora, como um cuspe lançado à alma. 
Alento. 
Gosto dos meus melhores amigos, são tão cheios de liberdade que me lançam verdades sem estribilhos. 
E fico assim doendo em mim mais um tanto, talvez seja rompendo essas grades que eu mesmo me aprisiono. 
Hoje dancei com a chuva, foram as cores do céu, foi o brilho do dia, foi essa vontade contida. 
Hoje sorri sozinho, agora choro... Mas, estranhamente confuso, foram sentimentos de singela e pacífica alegria. 
Então, eu não gosto de prender passarinhos ou peixinhos, não quero sufocar plantinhas, sufocar a mim... 
E assim vou me tecendo, me colorindo, me refazendo... 
Talvez, um dia, alguém me descubra assim: 
Um brinquedo torto, meio usado, meio riscado, 
Quebrado num canto qualquer, com um brilho e uma alegria que só um, você, poderá ver, se quiser.

Olhar na Avenida'

Derluh Dantas
Ele estava sentado fazia um tempo, seu olhar parecia fixo ao nada de algum ponto. Ele parecia totalmente destoante, tudo contrastava com sua presença naquele banco de concreto. Era uma avenida, era noite, era festa e seus olhos não pareciam tão alegres quanto o mundo que o cercava. Ele não parecia tão estranho nem tão comum quanto os muitos que passavam por ele. Havia de um lado a companhia de sua amiga que já estava em outra sintonia, segurava com apreço um litro de licor; do outro lado há a solidão que o acompanha onde for. Não parecia ser triste, mas já não tinha ostentação alguma de alegria ou esperança de coisas melhores por vir. Ele havia se contentado com a cor cinza que lhe cabia tão bem em pele e alma. Era um sujeito comum, que não parecia conectado ou cabível à vida. E sem expectativas ou grandes sonhos ele foi buscar ajuda, só para ser ouvido. Começou a desejar a superficialidade das coisas, ele falava de roupas, cortes, cabelos e maquiagens, com a amiga que dizia não entender ou se importar com nada disso. Quando começaram a falar de seios, de pernas, de mulheres, em meio a um grupo um olhar o contrastou, seus olhos brilharam em um fogo ardente. Primeiro ele achou ser desafio, aceitou... Depois, ele pensou ser paquera, ele sorriu... Por último ele já estava entregue a um desejo instantâneo de querer saber mais sobre aquele olhar que o despertou na avenida. E assim os dias se seguiram e ele não consegue mais pensar em outra coisa a não ser vida, alegria e o olhar na avenida... Desejando um tanto mais daquele primeiro olhar, mais algumas vezes!

Apenas Quinta'


Há dias que essas palavras me acompanham. Sempre que durmo acho que elas irão embora e pela manhã já não estarão mais na espreita, engano. Cada dia as palavras ganham mais contrastes e se destacam ainda mais aos sentidos do dia, da rotina, da apatia, da falta... Quais são essas palavras? Tudo bem, as palavras são essas:
Eu vou embora. Talvez, você nem perceba por um tempo. Provavelmente, um dia, você olhará para o canto que eu costumava te chamar, que eu costumava te esperar e até te tocava quando minhas mãos alcançavam seu ritmo. A dor de ir embora será pela falta de perceber seu sorriso, a falta de ouvir seus cantos, de sentir suas danças (que sei, nunca foram para mim). Porém, acho que a maior dor é essa certeza de que você não vai sentir minha falta, não vai pensar em mim, nem mesmo lembrar-se-á dos sorrisos e lágrimas que compartilhamos escondidos, naquele quarto à meia-luz. Talvez, um dia você perceba a marca no sofá, o volume que tinha os lençóis e tenha a sensação de que algo falta ali, mas não irá se recordar de minha face, toque, de minhas palavras, de mim.
Pareço um tanto trágico ou dramático, como adoram sinalizar por aí. Talvez, eu seja mesmo... Uma mariposa acabou de cortar o céu púrpuro em um traço de voo reto, lindo! Não quero mudar de assunto, não quero ir embora, não quero ficar sem você, sem esse querer... Por isso, espero que você perceba as cores, os sons, toques e sorrisos que provoco em você. Que perceba, antes que acabe, esse bem que nossa companhia, o eu e você, o nós nos faz. Se for para ser um amor inventado, que não seja apenas mais um. E o céu tem mudado de cor... E sua chegada me faz sorrir como um menino que acabou de descobrir que daquele pequeno embrulho feio, surge asas, cores, fada mais bela. Fantasias. Eu falo do nosso amor, do meu querer por você!
Essa não é uma indireta, estou falando sobre esse sentimento que não sei o nome. Sobre esse alguém que desencontro, encontro, canto. Sobre um alguém que tem me feito experimentar toda ambiguidade de Ser! Alguém que tenho entendido amar, encontrar, arriscar... Alguém que com o olhar me fez experimentar viver.

Perdão
Com Amor,
Derluh Dantas’

Santa Pesquisa: