Você Reparou?

Derluh Dantas
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou? Impossível não ter reparado. Inventaram uma história antiga e acreditam que é real, disseminam-na por todo canto do mundo. A história é sobre um homem que se opôs a dinâmica de seu tempo, saiu de casa ainda moço e decidiu que iria pregar o amor e o respeito, revolucionou com seu conceito de perdão. Esse mesmo homem, que ao que aparenta era feito de bênçãos e compaixão, é figura usada para sustentar ódio, preconceito, discriminação. Este homem que preferiu morrer pedindo perdão pelos seus algozes, é usado de justificativas para guerras, assassinatos, violências tantas. Não é apenas uma contradição, não pode ser tão simples assim.
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”? Impossível, sério que você não reparou? Antes, família era aquele lugar de respeito, aonde a gente ia quando o mundo ficava frio ou assustador demais. Mas, há quem queira rotular família por um padrão exclusivo e pior que justificam isso aceitando a exclusão de um filho, a condenação de um pai, a violência contra uma criança ou uma mulher – dizendo que para educar ou evitar mal maior. Que mal maior pode existir do que sofrer abandono e violência de quem foi escolhido ‘naturalmente’ para nos cuidar? São perguntas retóricas, eu sei que a maldade tem se popularizado como educação.
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”? Existe quem acredita que o problema do mundo é o acesso, a informação, a oportunidade de fala. Como assim?! Ouvi dizer que antigamente era melhor, as pessoas não tinham tantas informações e por isso eram melhores. Bem verdade, se você é homem, machista, branco, com boa condição financeira, boas influências sociais e por aí vai. Porque para o negro escravizado ou perseguido pelo tom de sua pele, não era tão bom assim. Para mulher que apanhava em casa, por motivos vários e chegava ao hospital dizendo que era apenas queda ou coice de mula, também não me parecia tão bom assim. A violência tem aumentado, mas acho que é pelo justo oposto, falta de informação ao respeito, ao amor, ao direito de que cada um tem sua história e sua vida a ser protegida, cuidada e respeitada. E mais, a violência que aumenta, talvez seja apenas a oportunidade que muitos têm tido de denunciá-la, de tirar da reclusão da ‘intimidade’.
- O mundo cresceu. Tudo mudou.
Alguém perguntou:
- Será que Deus mudou? Ou será que mudamos de Deus?
Será que Deus mudou?
Ou Será que mudamos de Deus?
Você pode dizer que estou falando de meu umbigo... Que eu falo do que não conheço. Talvez você tenha razão. Mas, vamos mudar de pele com quem julgamos errado uma vez e então perceberá o quão cruel e idiota é essa sua ignorância eleita como religião.


Post-scriptum: Ouvi um homem dizer que o amor que via na casa do vizinho era abominação, ele gritava isso enquanto xingava a esposa, batia no filho e se masturbava pensando na colega de trabalho. E depois da rotina, ia para roda de ‘irmãos’ falar de quem merecia cura, apedrejamento, reclusão.

Trechos das músicas:
"Relicário" de Nando Reis
"O dedo de deus" de Arrigo Barnabé e Mário Manga
- Respectivamente -
Ambas interpretadas por Cássia Eller.

In-conto'

Derluh Dantas

Ela o queria por completo, úmido, rijo, dentro. Ele a via como uma puritana, perdida naquele mundo de gente. Os olhos haviam se encontrado, mas os pensamentos ainda eram destoantes. Ele queria uma aliança que durasse mais de uma semana. Ela só queria um encontro intenso, que mesmo sendo uma noite, ficasse para sempre marcado na pele, na lembrança. Ele pensava em amor de domingo, em passeio no parque, abrigo. Ela queria uma trilha perigosa, balada molhada, gozo sem aviso. Ela queria ser penetrada, lambida, usada. Ele preferia poesia, conversa sobre futuro, expectativas. Os olhos ainda imploravam mais tempo, mais conexão. O corpo almejava pelo encontro, o coração era um descompasso em palpitação. Os lábios insinuavam um sorriso, os dela falavam de desejo ardente, os dele eram algo como bobo pedido. Suor, gemido, sussurro. Contrato, passeio no parque, planejar bobagens. Ele era o tipo almoço de domingo, ela preferia tequila e comida apimentada. Enquanto o mundo se perdia em rotinas, eles se encontravam em caos. Mas, esse conto fala dela, mudemos o foco do encontro. Ela mordia os lábios, usava as mãos e imaginava ele a apertá-la. Queria que ele a assaltasse daquele lugar, levasse-a para um canto qualquer e usasse seu corpo como uma comida exótica, quente, proibida. Ela quer que ele use a língua, os lábios, desvende cada parte de seu corpo feminino inflamado, arrepiado. Ela quer a língua dele por beijar seus lábios, sejam os superiores, os grandes, os inferiores. Que ele saiba desvendá-la, explora-la, invadi-la. Ela deseja ser abusada da forma mais pervertida, prazerosa, livre. E de tantos desencontros em sentidos e devaneios, ele foi pra casa alimentar o cão e ela foi usar o chuveirinho mais uma vez. Aproveitaria aquela noite solitária e fria em seu apartamento, com queijos, filmes e vinhos.

Falando nisso'

 
Derluh Dantas
Quantas cores, odores, sabores. Há formas supremas, sublimes, simples. Diversidade de sentidos. Pode começar com um olhar. Pode começar com muitos segredos. Pode ser de dentro pra fora, pode ser oposto, senso. De fora pra dentro. Pode ser mão única, mão inglesa, mão francesa, de que cultura for. Pode ser imensidão brasileira, pode ser intensidade africana... Pode ser gordura americana. Há bossa, jazz, samba. Há funk, por que não? Celebridade, desconhecido. Há amor de todo começo, meio, tipo. Não sei do fim. Mesmo com a morte, fica a lembrança. Mesmo com a indiferença, fica a esperança. Há sentidos. Multiplicidade de tons, lendas, mitos. Dizem romântico, brutal, insano. Tanto crime, disseram que por seu nome. Quanta paz, surgida por seu encanto. Por vezes, calado, explícito no olhar. Por outras, explícito na fala, escondido no estar. Há o livre, o cativo, o liberto. Dizem que é escolha, mas não se pode evitar quando surge ou desenha. Dizem que é espontâneo, mas há os que começaram com contratos no altar. Dependendo da cultura, dependendo do olhar, dependendo da história. Sempre um infinito oceânico, uma imensidão de mar, amar. Há uns que dizem ser errado, há os que chamam ser insano. Há os louvados, os mistificados. Há os que são expressões de manifestos, há os que são de cabresto aberto. Há os que machucam e muitos que curam, cicatrizam. Não há idade certa de começo, nem tem cabível ao final. Uns vivem frente a morte, outros surgem antes de ser vida. Pode ser cofre, diário, vitrina. Uns atribuem ao divino, outros dizem ser profano. Fato é ser do mundo, do sujeito puro ou imundo. Não distingue nobre, puta ou inglório. É incondicionalidade na escolha, mas lhe atribuem muitas características para existência. Alguns confundem com expectativas correspondidas, outros com frustrações inevitáveis. Mas, é amor de toda forma, tipo. São histórias e magias. É sexo, prosa, poesia. É tempo e estadia. É amor de múltipla forma. É arrepio e acalmar. Amor de gente, de bicho... Toda imagem, carinho ou beijo de amor é legítimo em existir, expressar. Amar.

Admito, simples!

Derluh Dantas

Desculpa, realidade... Eu quero um amor que saiba pegar nas mãos. Eu quero sorrisos altos, que as cabeças se encontram e há o aconchego bom nos ombros. Eu quero o afago dos cabelos, o carinho na orelha, o calor dos olhos e da pele. Eu quero sinestesia, quero sentidos, assim que o abraço seja realizado. Eu quero dança desajeitada, mesmo que não haja nenhum som, nenhum ritmo. Eu quero assim, realidade. Não me importa que os amores surjam daqueles aplicativos virtuais, se as pessoas precisam se curtir, se interessar, combinar. Eu quero mais, que seja simples. Eu quero encontro numa esquina qualquer. Eu quero que nossos olhares se cruzem e que meio acidental fiquemos tímidos, mas que o sorriso quebre o silêncio e seja recíproco sem nem percebemos quem começou. Eu quero brilho. Não precisa ser belo, do tipo que arrase quarteirão, mas precisa ser encantado, do tipo que faça palpitar frenético meu coração. Eu quero assistir um filme bobo qualquer, e que os cabelos sejam usados para fazer cachinhos, mesmo que eles não existam. Eu quero afago na orelha e ouvir perto dela, a voz sussurrada, me chamando de besta. Eu quero amor de verdade, daqueles que vivemos aos 16 anos, que é proibido, encantador e que pode vencer qualquer barreira imposta pelo destino. Realidade, eu sei que anda difícil, esse meu desejo, e agradeço pelas provas que me têm apresentando. Cada encontro que termina no primeiro momento, tem me feito querer ainda mais encantando. Estou me cansando, bem verdade, mas cada lágrima que dispenso por um sentimento, paixão arrebatadora que se vai, mesmo no primeiro beijo, eu desejo ainda mais o conto do meu divino salgueiro. Que pena confiar em quem se vai levando o conto como piada boba, mas minha alma sabe das tentativas que permito... Só há beijo, quando me faço encanto. Amo você, meu desejo querido!

Santa Pesquisa: