Sobre as flores'

Derluh Dantas

Enquanto tomo o café quente, fico a imaginar que personagem eu seria em alguma história de ficção. Provavelmente, teria que ser um drama, alguém tentando negociar com a vida o prenuncio da morte. Um personagem triste, meio cabisbaixo, que fica imaginando a possibilidade de mudança, mas não sai da poltrona mais confortável da sala. Ele negocia com as paredes às suas rugas. No espelho do banheiro imagina diálogos intensos, mas não há alguém com quem conversar. Cada zumbido de mosca o desperta, o prende a atenção. Enquanto ele beberica o café que lhe queima a língua, ele lacrimeja pela dor de se sentir ainda vivo. Quando outro personagem morre, ele se questiona por que a vez dele não chega. Como a vida pode matar uma mãe e deixar esse infame parasita ainda vivo? Esqueci que não era pra eu ser tão intenso, posso voltar a falar das flores, de suas cores e odores. Perdão, mas o sangue que percorre em meu corpo leva consigo o veneno e antídoto para essa minha monotonia triste. Não deveria reclamar, tenho superficialmente tudo o que preciso e dirão que só tenho a agradecer e agradeço de coração e alma... Mas, o sorriso que me falta, se faz por essa ausência de sentido em raízes que não tenho, de asas que me pesam e não me fazem voar. Mas, voltemos às flores. São belas formas e cores, não é mesmo?

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