Quase Paráfrase Benditas'


Derluh Dantas
Benditos os sorrisos que guardei e todos os que distribuí sem perceber a quem... Benditos os sorrisos que recebi e os tantos que pude sentir, seja pela voz ou pelo olhar límpido e sincero que experimentei... Benditos os desejos realizados e os tantos outros que eu não realizei. Benditos os cabelos dourados que nunca tive e os negros que me são reais e caros. Benditas as almas errantes que esbarrei e as tantas que ainda não tive contado. Benditos sejam os ventos que soprei e os tantos que me forem e serão soprados. Benditos os que eu amei e os tantos que serão amados! Bendita seja a história que trilhei e as tantas que me ficaram imaginadas.


Inspirado em Benditas - de Zélia Duncan e Mart'nália

Rua dos Cata-ventos'


Mário Quintana
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.


Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.


Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!


Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

- no momento pareceu que falava de mim'

Não sou barco'


Derluh Dantas
Estou em outro lugar. Não sei em que rumo foi parar aquele cais, não sei onde está o porto final. Nem mesmo sei se existe um lugar para atracar. Estou perdido nesse mar sem fim e descubro-me não barco. Pois sim, não sou um barco a deriva, nem uma canoa ou navio, não sou nada a navegar. Sou um adulto que não aprendeu a deixar de ser menino, não sei ainda o que significa o tão falado “correr atrás”... Mas, tenho que experimentar, ousar, tentar! De todos os erros cometidos, aprendi uma coisa que quero levar comigo: As portas e janelas ficaram entre abertas, quem quiser entrar que seja do bem e quem quiser partir que vá sem protestos e sem pena de mim!!! Sendo assim: Bem vindo! Ou Adeus!

Tempo de pipa' (Cícero)

Artista: Cícero Lins
Música: Tempo de pipa
Ano: 2011
Álbum: Canções de Apartamento
Direção: João Gila
Fotografia: Daniel Leitte

"Mas tudo bem 

O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
E o mundo vai nascer de novo"

Sou como Sou! PRETA'


Artista: Preta Gil
Música: Sou como sou!
Ano: 2012
Direção: Fernando Torquatto


Diálogo quase real'


Derluh Dantas
- O que você faz aqui há essa hora? Por que agora? Eu pensei que você já tivesse dito tudo antes, pensei que já tivesse usado todas as armas que imaginou contra mim... De que irá me acusar agora? Qual palavra irá inventar para me ofender, porque todas as existentes você já usou naquela noite em que disse que eu era o maior erro da sua vida...

[Silêncio e som de lágrimas em uma alma fria que parecia se derreter com aquelas palavras...]

Longa pausa e:

- Eu vim lhe devolver o coração que você tinha deixado para trás e dizer que o meu ficará com você... Você foi meu primeiro amor e quero, mesmo com todos os erros que eu possa ter cometido ou te acusado cometer... [Mais lágrimas] Mesmo com esse fim real, eu quero que meu coração fique com você. Porque mesmo todas as vezes que eu fui embora, eu o deixei contigo e senti que ele sempre foi e sei que sempre será bem cuidado...


[...] Então, ele pensou em voltar, dizer que tudo bem e continuarem juntos pela eternidade, como planejaram naquelas noites de amor e naquelas conversas de carinho... Mas, antes que pudesse se recompor, viu nos olhos do amante que o amor não era mais o mesmo, havia desfalecido, se cansado... Não havia paraíso ou lugar para voltar... E o outro foi embora, deixando pra trás dois corações e um amor de dois para que apenas um cuidasse – o que ficou.

Falta colorir'


Derluh Dantas
Era tanta gente on-line, tanta gente ao seu lado e sua voz calada enquanto seus sentimentos giravam dentro de si... Ele queria alguém com quem falar, contar um causo, brilhar uma máscara ou apenas uma companhia em que pudesse chorar e sorrir. Não pensava em namoro, amantes ou madrugadas, ele queria um amigo pra curtir. Mas, mesmo com tantos contatos e possibilidades, mesmo com tanta gente pelo mundo dizendo-se disponível, ele mais uma vez se sentiu perdido e sozinho. Ele estava em casa, deitado no sofá, escrevendo contos bobos e pensando o que o futuro reservara para si. Não tinha respostas simples, tampouco alguém com quem a angústia dividir!

Dó Min Go'



Derluh Dantas
A tarde estava nublada e por entre as nuvens a lua apareceu como um sorriso luminoso em uma porção pequena de azul. A calçada estava ainda úmida da garoa fina que caíra minutos antes daqueles passos tocarem o chão. Era tudo uma mistura de emoções e sentimentos impensados, algo que se assemelha a saudade em um presente bom. Não havia lágrimas em seu rosto, apenas um sorriso tímido de um tempo que fora bom...

Seiscentos e Sessenta e Seis


Mario Quintana
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Patinho feio - minha versão'


Derluh Dantas
E o patinho feio ficava de longe, resumido a sua diferença e seu silêncio. Em sua bolha, o patinho observava as cores que sentia, os odores que experimentava, as tantas diversidades que estavam ali, vivas para além da diferença que ele fora resumido. Então, com toda essa diversidade, por que minha diferença incomoda tanto? Por que no meio de toda diferença a minha foi à privilegiada ao exílio dos exóticos? Por que eu posso ser divertido, eu posso ser artista ou palhaço, mas não posso ter os mesmo direitos dos meus irmãozinhos??? Por que só eu sou o patinho feio? Então, em seu exílio o patinho observava, via que cada um dos seus irmãos mudava as penas, eram tantas cores distintas, mas ele continuava sendo o patinho feio e diferente.  E o que mais lhe doía não era ser diferente, era o ser obrigado a ser sozinho e ser julgado por isso...

Eu escrevi um poema triste...

Mário Quintana
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

O silêncio


Mário Quintana
O mundo, às vezes, fica-me tão insignificativo
Como um filme que houvesse perdido de repente o som.
Vejo homens, mulheres: peixes abrindo e fechando a boca num aquário.
Ou multidões: macacos pula-pulando nas arquibancadas dos estádios...
Mas o mais triste é essa tristeza toda colorida dos carnavais
Como a maquilagem das velhas prostitutas fazendo trottoir.
Às vezes eu penso que já fui um dia um rei, imóvel no seu palanque,
Obrigado a ficar olhando
Intermináveis desfiles, torneios, procissões, tudo isso...
Oh! Decididamente o meu reino não é deste mundo!
Nem do outro...


[Bem como tenho me sentido...]

Só uma recaída'


Derluh Dantas
Ele havia ouvido cada sentimento dito, tanto o de começo, quanto os surgidos pelo caminho, como os ditos no possível fim. Havia acreditado em todos, ainda que a insegurança o tivesse abalado tantas vezes. Mas para o outro, agora viagens, amigos, bebidas, gostos e palavras mudaram... Ele vê na madrugada a foto, prova de um crime – crime apenas na cabeça dele. Ele percebe agora que ele era a prisão quase confortável que o outro se afogara, mas agora ambos estavam livres. Um ainda respeitando o sentimento, ficou intacto em casa, se guardando as feridas provocadas, deixando passar o tempo. Ele, este ser inútil que vos falar ficou com uma dúvida tola:
Por que todos parecem se curar tão rápido de mim???

Ciranda Dali'

Derluh Dantas
Não eram mais ciranda, nem brincadeiras de roda ou de criança. Eram a verdade que se figurava em um rosto, em uma palavra limpa e sincera, lágrimas infantis de um adulto. Não precisa ter medo, ainda que o medo seja incontrolável e inconstante, permita-se sentir raiva, dor, desespero, mas não deixe que isso seja uma constância. Era o paraíso para fora dali. Era um portal de outra dança, de outro lugar que a metafísica aplicada não alcança, lança, descansa. Era tudo isso e mais um pouco para mim. Não era para ser passado ou futuro, era o presente que se figurava dentro de mim. Canção de roda, cantiga trovadora de um poeta sem modos ou fim. Talento de um anjo torto, caído, sem dom, mistura larga de dom assim. Era pra ser um pouco disso, um tanto daquilo outro, era pra ser sentido e sentir. Era tanta coisa que no fim era nada, apenas mais uma ciranda, brincadeiras de roda e de criança, faz de conta... Era tudo mais o fim!

Fotografias'



Derluh Dantas
Olhando aquelas fotografias antigas... O mesmo sorriso podia ser sentido tempos depois. Os cabelos ora curtos, ora nem tanto. Os olhos denunciando por vezes o mais intenso dos brilhos já vistos. A pergunta se formou por outro motivo: se era tão bom por que acabou tão rápido, ao menos na opinião de um dos lados? A resposta era simples, acabou o capitulo, o tempo - o vento - mudou o rumo da proa... Agora era navegar por outros mares e lugares. Mas, as fotografias, agora antigas seriam levadas no peito e ao alcance do desejo dos olhos, afinal eram boas e alegres as lembranças que elas provocam. Tantos risos, lágrimas cristalizadas, brilhos e sentimentos dos mais distintos, não têm como deixar as fotografias por lá, naquela casa fria e vazia... Levo todas comigo!

Ele e a dança'



Derluh Dantas
Os pés estavam descalços a descobrir cada grão de areia e pedra no chão. Talvez, algumas pessoas que o vissem assim, achariam que ele estava louco, mas ele não se importava. Levantava as mãos para o alto e dançava como se estivesse sido levado pelo embalo mágico que só ele sentia. Seus olhos estavam fechados, enquanto seu corpo estava completamente entregue ao ritmo do vento que balbuciava as folhas e galhos das árvores. Em sua face marcas das lágrimas caídas momentos antes e o desenho ainda sutil de um sorriso tímido. Ele não parecia feliz ou triste, apenas estava entregue aquele embalo mítico da natureza. Ele estava sozinho, mas a solidão não o acompanhara naquela dança. 

Era ela, eu'


 Derluh Dantas
Seu nome não era importante ser dito ainda. Apenas, precisam saber que ela estava de vestido vermelho, lápis nos olhos e sua confissão de culpada nos lábios e em toda extremidade de seu corpo. Sim, ela cansou de negar sua culpa, de admitir sua inocência. Devido às circunstâncias de seu crime, ela poderia ser tudo, menos inocente de toda e qualquer acusação. Sim, era meio vítima, se olhássemos por outro ângulo, mas agora isso não era importante. Ela enchera os olhos de sinceridade e da forma mais autêntica que tinha, arrumou suas palavras dentro do peito, deixou algumas lágrimas caírem lhe borrando a maquiagem e saiu olhando para trás. Seu maior e o único crime de verdade: ter amado de mais e não ter sabido dosar!

Sobre aqui atemporal'


Derluh Dantas
A porta está aberta, entre e fique a vontade. Pode sentar-se no sofá vermelho, ou se preferir o chão sempre será confortável aos pés descalços. Não precisa se acanhar, esta casa além de minha, sempre será nossa. Pode servir-se do que quiser, temos satisfação a todos os desejos, só não espere que alguém lhe ofereça sem pedir, sem tentar, sem se movimentar. Se quiser, a janela só está encostada, temos uma vista linda, não sei se você se lembra. Caso queira saciar a sede, aqui não nos faltam água, frutas e os líquidos mais saborosos a todo e qualquer paladar... Você perdeu nosso endereço? Não precisa ficar assustado ou confuso, feche os olhos por um momento e deixe seus passos livres, eu segurarei sua mão até chegarmos. Ou, se preferir, pode mantê-los abertos e se encantar com a beleza e a contradição do caminho. É possível que sinta medo, mas não se preocupe, o medo faz parte de nós, só não permita que ele lhe faça parar, calar, cegar. Este, sempre que você deixar, será o nosso lar!

Santa Pesquisa: