Derluh Dantas
Estava tudo em silêncio, tudo milimetricamente
parado e em silêncio. Seus olhos ainda estavam um tanto úmidos. Esses, ainda um
tanto sonolentos, percorreram todo o ambiente parecendo querer encontrar um
brilho distinto. Ele levantou-se, vestiu as roupas que estavam no cabideiro e
saiu ainda tonto do sonho que tivera. Sobre o sonho desta noite, não lembrava
nem ao menos uma cor, um ruído, um vestígio do que teria sido, mas sabia que
fora bom, apenas sentia que fora. Sorriu diante do espelho, pensou em se
banhar, mas ouviu um barulho na sala... Barulho que o fez sair por um instante
do devaneio e percorrer os olhos naquela realidade vazia. Os livros sobre a
mesa, alguns papeis caídos no chão, a janela fechada, o chaveiro pendurado na
porta balançava e dele vinha o barulho. Alguns besouros pareciam ter feito a
festa no balcão da cozinha e dormido ali mesmo depois de uma dança ébria. Ele resolveu
ligar o som, quebrar um pouco com o silêncio que perturbava e ocupava toda a
sala. Ao apertar o play, uma voz feminina, melancólica e triste o fez chorar instantaneamente.
Ele lembrou que seu sonho era sobre lembranças, memórias de momentos que ele
imaginou viver até aquele tempo e não viveu. Com aquele choro, aquela voz, os
besouros e o silêncio, ele percebeu a dor alucinante de ter se perdido e sentiu
saudades afiadas de quem ele era para além daquela falta de sentidos.
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