Olhar no Salão - Entrega'

Derluh Dantas

As horas avançaram pela noite e as belas mulheres já estavam ébrias pelo álcool consumido, pela conversa caminhada, pelas lembranças, pelos desejos adormecidos, agora totalmente despertados. Cristina ria com o sabor de proibido daquele encontro, ela estava deixando sua própria censura de lado para experimentar o que sua alma ousava.
Conversaram um pouco mais e olharam o relógio de madeira e prata pendurado atrás do balcão. Uma hora e vinte e dois minutos da manhã, melhor partirem para seus recantos nesse mundo. Ao saírem do pub, resolveram caminhar um pouco mais pela pracinha pouco iluminada, era onde iriam pegar o táxi para irem embora. Na caminhada, uma chuva torrente caiu fina sobre o corpo quente daquelas mulheres, a ligação tênue, elétrica que existia entre elas em contato com a chuva fina, fez atiçar ainda mais a tensão envolvente entre as duas. Cristina ria com o sabor daquele encontro, a outra se assustava, mas não demonstrava temor ao seu desejo. Então, como a Marta já tinha tomado tantas iniciativas, Cristina resolveu puxar aquela mulher de cabelos rubros para perto de seu corpo e bailaram na chuva. Os seios se tocavam, as mãos acariciavam umas as outras, toque macio, quente, desejado. Cristina, em meio aos rodopios secretos na chuva, segurou a nuca daquela mulher e lançou um beijo terno, úmido e macio. As pernas se lançavam como se o som fosse quente, uma lambada, um tango, talvez. Elas foram tomadas por uma libido envolvente e intensa, queriam se tocar, se descobrir novamente.
Depois de alguns minutos de entrega e perigo na pracinha pouco iluminada, à sombra de um ipê florido, Cristina sussurra que deseja passar toda aquela noite em companhia da outra. Essa sorri e a convida para um hotel, no qual está hospedada – será que ela já esperava por essa possibilidade? Provavelmente, sim... Estava preparada para um encontro mais íntimo. As duas foram caminhando até o táxi mais próximo e foram ao seu ninho de amor. No carro, elas ainda tiveram a oportunidade de disfarçadamente tocarem as pernas uma da outra, roçarem panturrilha com panturrilha, os pés, cada parte do corpo que não denunciasse o desejo de ambas ao motorista atento as duas beldades em seu táxi, mas que alimentasse o prazer, a cobiça de uma sobre a outra.
Depois de alguns quilômetros percorridos e um silêncio que muito falava às duas, chegaram ao Grand Hotel Palace. Pagaram ao taxista e entraram pela grande porta de vidro com contornos dourados. No grande salão, Marta foi ao recepcionista para comunicar que estaria acompanhada e para saber se havia algum recado – outra coisa foi combinada, mas Cristina não conseguiu ouvir ou entender muito bem o que foi dito. Depois desse diálogo cordial, Marta chamou por Cristina e foram ao último elevador no canto esquerdo, tudo era bastante luxuoso, atraente. Marta passou um cartão, apertou o andar e uma senha, estava hospedada em uma suíte presidencial com um elevador particular. Ao entrarem à suíte, Cristina se encantou com uma área enorme e muito bem decorada. Uma mesa grande com belas flores, frutas. Marta ansiava por Cristina e a beijou intensamente, antes que essa pudesse olhar toda a suíte. Foram para o quarto, onde havia uma grande cama confortável e bela, cheia de pétalas de rosas vermelhas, com duas taças no criado mudo e um balde de gelo com duas garrafas fechadas de prosecco. Parecia um sonho luxuoso.
As duas começaram a se despir, enquanto os lábios não se afastavam, a língua percorria o pescoço, as pernas se entrelaçavam. Em questão de segundos já não havia mais nenhuma parte coberta. O corpo e a alma daquelas mulheres estavam nus, expostos, em completo contato. Marta pegou uma das garrafas de prosecco e despejou algumas gotas sobre os seios empinados de Cristina, lambendo-os com prazer e total cuidado logo em seguida... Cristina suspirava, enquanto suas mãos acariciavam os seios, as nádegas, a cintura de sua amante sedutora. Eram línguas, lambidas, pequenas, intensas, leves mordidas. Mãos que acariciavam a superfície do corpo, que percorriam, exploravam as entradas, a alma. Um total misto de prazer e entrega. O pecado da luxúria era um paraíso para aquelas duas almas em transe, paixão, em transa, em prazer, delírio.
O cheiro de uva com rosas envolvia o quarto formando uma névoa de frenesi. As duas mulheres estavam tão entregues e sensíveis à libido que exalavam um cheiro atraente e sinestésico às narinas, ao paladar, ao tato da outra. Começaram a percorrer cada pedaço do corpo com o toque leve da língua, em algumas regiões permitia-se mordiscadas, lambidas mais fortes e sucção. Bico dos seios, nádegas, cintura, pescoço, coxas, lábios úmidos, lábios molhados, os pequenos lábios, a boca, língua, os grandes. Elas começaram a penetrar o corpo da outra com a língua, apertando a cintura. A boca de uma encontrava os grandes, os pequenos lábios da outra – o clitóris era percorrido, sugado, delicadamente acariciado pela ágil língua da amante. Depois de muito sorverem o néctar saído da outra, ainda com o gosto na boca se beijaram, misturando os gostos, os cheiros, os delírios. Enquanto as bocas se juntavam e se entregavam ao bailar de línguas e sabores, os seios se apertavam, se entrechocavam num subir e descer entre si, seios, bicos, colo, seios. As pernas se entrelaçavam não mais se beijando apenas com duas bocas, eram quatro... Dois pares que se conectavam por completo, com total encontro, energia, entrega, prazer.
E foram até o amanhecer entre carícias, nirvanas do deleite, beijos, sussurros, delírios. As mulheres se amaram até o sol alto do meio dia. Amaram-se na luz sutil do abajur, no alaranjado do amanhecer, no sol alto do dia. Depois de tanto prazer, Cristina e Marta resolveram que era hora de se levantarem e enfrentarem o dia lá fora. Tomaram banho juntas, o que valeria mais um conto. As duas tomaram café da manhã em pleno meio dia, na própria suíte. Uma hora e meia da tarde Cristina se despediu com um beijo demorado e algumas lágrimas contidas nos olhos. Sentia que outro encontro daquele, com essa ruiva em particular, demoraria mais alguns ciclos. Contudo, na mente de Marta, já se passava planos de outros encontros... Assim se tem o fim de um olhar no salão e o inicio de outros contos da Cristina.

O fim?

Lembrando como fora antes do olhar no salão'


Derluh Dantas
Ao ver Cristina entrar pelo Pub, Marta pareceu se iluminar de uma aura serena e radiante. Não tinha como não percebê-la em meio aos outros, foi a primeira pessoa que Cristina cruzou o olhar ao passar por aquela porta de madeira escura, nobre e arqueada. Elas sorriram ainda à distância, pareciam dizer muito com apenas aquele olhar e sorriso. Sentaram no final do balcão e beberam, conversaram, se entregaram a magia daquele encontro. Enquanto palavras surgiam do diálogo doce, as mãos se chocavam, arrepios. Vez ou outra as pernas roçavam uma na outra, era como se ambas desejassem a outra por completo, despida, livre, entregue. Mas, havia se passado muito tempo desde a intimidade das duas, qual seria as intenções de ambas? Será que o corpo enganava a alma ou apenas demonstrava aquilo que o espírito ansiava em ter?
Em meio aos devaneios do diálogo, o passado foi trazido ao momento íntimo. Marta resolveu insinuar que não esquecera aquela noite depois dos estudos na biblioteca central da universidade. Cristina sorriu, se fez de desentendida, era a oportunidade de conhecer a intenção daquela bela mulher de cabelos rubros e boca carnuda. Assim, com o interesse insinuante de Cristina e a ousadia de Marta... Os fatos daquela primeira noite  de sensualidade e prazer das duas foram lembrados...
Aos leitores:
Cristina estava sentindo dificuldades com algumas matérias e acabara de começar a dividir o quarto com a nova aluna transferida. As duas foram alocadas ao mesmo dormitório por motivos escusos e desconhecidos. Cristina dividia com outra garota, mas esta a incomodava por de mais, era barulho noite e dia, contudo ela não reclamava. Um belo dia ao voltar para o apartamento depois das aulas, se deparou com Marta, uma mulher ruiva e atraente, com pouco mais de vinte anos e um jeito angelical no olhar. As duas não tiveram oportunidade de conversar muito, Marta já tinha outros compromissos, só se apresentaram, trocaram algumas palavras cordiais e foi assim durante toda a semana. Na sexta-feira, por volta das 17h, Cristina resolveu tirar o atraso dos estudos na biblioteca central da faculdade. Ficou por lá, entre livros e anotações até a uma da manhã, quando o vigia abandonava o turno e tinha que fechar as portas das áreas sociais. Enquanto se despedia do vigia, Cristina sentiu estar sendo observada, mas não se importou muito, deveras ser apenas impressão da noite de luar crescente. Ao subir as escadas que dava acesso ao seu apartamento, ela novamente sentiu que estava sendo seguida e resolveu adiantar o passo. Ao entrar abruptamente pelo dormitório, assustada, se deparou com a bela ruiva de camisola transparente, mostrando todas as suas curvas. A que dormia, despertou com um ar temeroso e de preocupação com a outra que chegara ofegante. Levantou-se, pegou um copo d’água no frigobar repleto de adesivos mimosos e tentou acalmar a moça assustada. Nesse intuito de acalmar a outra, elas acabaram se acariciando. Em meio às lágrimas, Cristina tomou o ímpeto de beijar a nova colega de quarto, no qual não foi repreendida, pelo contrário. As duas começaram um descobrir-se pelo corpo da outra, com toques, carícias, beijos e línguas. Elas começaram uma noite tórrida de entrega, amor e delírio. Apesar da falta de experiência das duas jovens, elas se entregaram ao instinto do desejo. As mãos acariciavam os seios, enquanto lábios e língua beijavam, lambia de forma leve o pescoço, o colo, os seios. As mãos roçavam, abriam caminhos por entre pernas cruzadas. Os pés se acariciavam uns aos outros. Ambas, pareciam amantes de anos. Não havia censura aos lábios, línguas, mãos, desejos... Era tudo liberdade, descoberta e prazer. Cristina sussurrava agradecimentos e elogios aos ouvidos de Marta, enquanto essa lambia, mordiscava e retribua a cada palavra dada. Dedos penetravam o corpo da outra, como se quanto mais dentro fosse, maior a conexão mágica de desejos e sentimentos entre as das duas. Beijavam-se demoradamente, beijos quentes, molhados, sensualmente libidinosos. Naquela noite o nirvana de prazer e de gozo foi acessado simetricamente nos corpos daquelas duas mulheres.
Toda essa cena foi lembrada por ambas num misto de nervoso, saudosismo, prazer e suspiros. Elas deixavam claro que não foi apenas uma noite que as tinham ligado uma a outra. Foi toda a magia que envolve o encontro dessas duas deusas femininas e sensuais. Apesar de todo o prazer envolvido, aquela fora a única noite que as duas se permitiram tamanha liberdade. Nesse momento, o diálogo despontou certo pesar nos olhos e palavras de ambas. Marta no dia seguinte se desculpou dizendo que aquilo não mais se repetiria, mesmo Cristina dizendo que havia sido maravilhoso e que adoraria que muitas recaídas como aquela acontecessem. Porém, Marta disse que não era lésbica, que tinha namorado e que as duas poderiam apenas ser amigas e nada mais. E assim foi, mesmo com algumas carícias trocadas no calar da noite, alguns beijos furtivos e outros tantos ‘encontros’ que apenas amigas não costumam experimentar. Elas nunca mais tiveram ou se permitiram o prazer como o sentido naquela primeira noite de luxúria e encontro.
Ao chegar nessa encruzilhada de palavras e sentidos, Cristina agora lembrara porque fez questão de apagar a Marta de sua memória. Não tinha muita paciência e destreza para lidar com pessoas que se limitam, se apegam e escapam pelos rótulos que lhe são auto-impostos ou aceitos. Mas, pagara para ver até onde aquele encontro e a ‘transformação’ da antiga companheira de quarto iria. Cristina, apesar da pouca paciência com pessoas ‘limitadas’, tinha certo prazer com desafios e jogos sensuais. Talvez, por isso tenha aceitado ser amiga íntima da Marta na época da faculdade e agora ter aceitado esse novo reencontro. Queria saber até onde iriam as possibilidades dessa energia que as envolve. Tomaram mais alguns Drinks e prosearam um tanto mais, sem cobranças, sem tiradas de dúvidas, acusações ou nada do tipo. Apenas, deixaram as palavras surgirem como encontro de duas almas amigas que se desejam e são livres do tempo e dos rótulos que um dia as afastaram.

[Continua...]

Não acho graça'

Derluh Dantas
Sendo clichê e entediante por mais uma vez e outras tantas ainda. Falaram algumas vezes do fim do mundo, que seria hoje, amanhã, daqui a um mês, não sei bem. Algumas pessoas se assustaram da primeira vez, outras desconsideraram de cara, alguns se aproveitaram para persuadir ‘fiéis’ e algumas só fizeram piadas: “open bar”, “arrebatamentos” e blá blá blá. Sendo sincero e refletindo sobre o fim do mundo, seria bom que todos acreditassem que realmente ele se acabará um dia ou já está nesse processo e de forma acelerada. As pessoas estão sem viver as perdas e fazem muitos danos ao mundo, aos outros, a si mesmas. Estive olhando da janela de casa e são homens maduros, heterossexuais e bem casados quase quebrando o pescoço, por meninas que são mais novas que suas filhas, as mesmas que eles seguram a mão para atravessarem a rua. Existem pessoas que têm dado mais valor a dez reais ou um aparelho celular, do que a vida de um pai que volta do trabalho com o saco de pão para sustento de sua família. Pessoas que em seus carros ‘turbinados’ passam dos limites e sobrevivem – inacreditavelmente – matam o pai, o filho e o tio de outra família – sem intenção de matar – afirma o advogado de defesa. É um tal de quem tem mais, quem ganha mais, quem está com a razão que todos parecem ter esquecido que realmente existe um fim, não apenas para o vizinho, o fim para cada um de nós, para todos nós. Sobre a invasão Zoombie? É estranho ir à rua e não saber quem daqueles bandidos engravatados irão proporcionar a morte de hoje. Sim, escolhemos governantes num aval de opções sujas, ralas, medíocres e eles acabam por reiterar o caos de nossas vidas. Sim, para mim, são ricos governantes que ‘criam e cultivam’ esse sistema de ‘Zombies’ faminto por violência, morte e sangue. É um ciclo vicioso que infelizmente os Maias previram, viveram... Mas, não acertaram o fim! – Ainda teremos mais alguns absurdos para sentirmos no cotidiano nosso de cada dia.

Depois do Olhar no Salão'

Derluh Dantas

Havia se passado muito tempo desde àquela festa. Cristina havia novamente esquecido da Marta, ela não ligou, não se fez presente. Em meio ao quarto, meio iluminado pela aquela luz alaranjada, Cristina resolveu re-mexer em álbuns antigos. Gostava de ver suas fotografias e lembrar-se das pessoas que já não se fazem presentes em seu contexto, mas foram essenciais para ela chegar até ali. Encontrou algumas fotos da Marta e se questionou o que será que acontecera para ela não ter ligado? Cristina, não era de esperar atitudes alheias, aprendera com o mundo que aquilo que se vai, não foi perdido, foi apenas prazer ou dor passageira. Ela sorriu lembrando-se do último encontro e um arrepio subiu pela sua espinha. Havia se passado dois meses... Dois meses que ela não pensava e não tinha contato algum com a Marta. Engraçado como algumas pessoas surgem da neblina do esquecimento e logo em seguida somem por ela de novo. Cristina deixou aqueles pensamentos junto com os álbuns, que agora eram guardados novamente no baú das recordações... Resolveu tomar um banho quente e deixar seus pensamentos ganharem dimensão em seu corpo. Enquanto se banhava, o seu celular tocou... Uma, duas, três ligações perdidas. Após o banho, Cristina pegou o celular e retornou ao número registrado, era a Marta convidado-a para um Drink. Ela sorriu diante do espelho – quanta coincidência envolve essas duas. 
Marta havia combinado de se encontrarem no True Colors – um Pub cultural, na Rua do Ouvidor, que ficava apenas a vinte minutos do apartamento da Cristina. Ela estava ansiosa por esse encontro, vestiu sua combinação branca de renda e um vestido justo e negro com um sobretudo cinza, era noite e ela estava se sentindo um pouco mais misteriosa que de costume. No Pub, Marta a esperava de camisa branca, terninho grafite, saia tubinho lisa e um scarpin roxo que contrastava com os tons sóbrios de sua roupa. Ambas haviam maneirado na maquiagem, batom vermelho-claro e olhos marcados de negros para acentuar o brilho no olhar das duas àquela noite. Apesar, de ser um encontro casual entre duas amigas antigas, a ansiedade povoava a alma daquelas mulheres.

O encontro ficará para outra parte do conto!

Bifurcação Marina' Parte II


Derluh Dantas
Mergulhou de olhos abertos naquela água salgada. Talvez, quisesse ver o mundo de outro ângulo, enxergar o que ainda não foi avistado. Talvez, em meio ao mergulho pudesse ser surpreendido por uma luz à razão e assim sairia do mar com a decisão tomada, com o vislumbre de outro caminho, da bifurcação e da mudança. Porém, foi surpreendido por uma luz no fundo, sem metáforas e foi tragado para outro mundo. Lá existiam seres meio humanos meio peixes. Eram os seres mitológicos chamados de sereias e tritões pelos humanos. Foi levado embora, inexplicavelmente conseguia respirar mesmo submerso no oceano profundo. Seus pés, suas pernas foram sofrendo mutações até virarem uma calda frondosa de tritão, eram muitas cores, respiração. Ele nadou, o que parecia mais velho veio apresentando-o aos demais moradores desconfiados daquele lugar. Aquele homem metade peixe sabia seu nome e parecia conhecer tudo sobre o novo sujeito. Aqueles seres intrigantes estavam assustados com o intruso. Mas, sabiam que tempo ido, tempo vindo, sempre surgia um novo morador para aquele lugar. Aquele estranho parecia ser diferente dos demais, dos que ali se encontravam há tempos e dos que chegavam vez ou outra prematuramente. Aquele estranho guardava uma pureza incomum no olhar. Talvez, ele ainda esteja confuso do porque estava naquele novo lugar e do como chegou até ali. Em sua mente vinham turbilhões de pensamentos e dúvidas... Mas, havia uma certeza: Ele estava vivo de outra forma, em outro lugar.

Bifurcação Marina' Parte I


Derluh Dantas
Sentou-se próximo ao mar, queria que as ondas o acertassem fazendo despertar para a vida. Ficou alguns minutos em silêncio, apenas ao som do mar e do vento. Deixou algumas lágrimas caírem por descuido, por saudades, por vontades mal resolvidas. Sorriu de alegria e para disfarçar a tristeza que apossara de seu ser. Não tinha muito do que reclamar até aquele momento, mas ainda assim se sentia faltoso, sentia como se uma parte de si faltasse por completo. Olhou para trás e viu algumas pessoas caminharem, algumas sorriam um sorriso tão sincero e outras uma máscara tão mal acertada. Viu a diversidade das cores para além do horizonte azul. Imaginou se naquela imensidão de possibilidades havia algo que realmente fosse seu, fosse para desabrochar o tempo, a própria vida. Não sentia caminhar, sentia-se apenas cansado das vezes que os olhos não abriram e foi surpreendido pelos acontecimentos torpes da vida. Não culpava ninguém, sabia das suas próprias responsabilidades. Pensou em levantar-se, sacudir a areia preso no corpo e provocar as próprias mudanças em sua história. Mas, ficou quieto, não sabia por onde começar. Mesmo próximo ao mar, mesmo com as ondas a provocarem calafrios e o som do vento e do mar, está completamente perdido aos acontecimentos de sua vida. Pensou em desistir de tudo e mergulhar àquela imensidão, não metaforicamente pensando... E pensando, lembrou da metáfora do mergulhar-se à vida. Levantou, espreguiçou-se e decidiu caminhar um pouco, talvez catar algumas conchinhas permitindo que as idéias lhe surjam. Sorriu mais uma vez pelo passado, não o de ontem, mas o de quando era criança e fazia planos de ser gente grande, de ser gente livre. Provavelmente, a criança que fora teria uma dúvida para aquele ser de marcas nos olhos: Por que não assume aquilo que se é e vai à luta daquilo que se quer? – Crianças sempre tão sinceras e práticas às próprias fantasias de desejos... Onde ele deixara sua criança? Caminhou mais um pouco à beira do mar, deixou as ondas o molhar por completo, depois de muito caminhar decidiu dar um mergulho...

De Moringa Leve'

Derluh Dantas
É madrugada e ele não consegue dormir. Roda no quarto como se pudesse dançar um samba de terreiro ali. O silêncio o envolve como uma bruma inebriante de som. Será que os Erês estão querendo brincar? Ele busca nas paredes azuis a sombra dos Eguns, mas ninguém parece querer acompanhar. Ele está sozinho em seu quarto, apenas o reflexo no espelho e alguns pensamentos soltos, que bailam no alto, ele não consegue alcançá-los para traçar uma companhia. Cristina parece que saiu para dançar em outro lugar, ela anda meio perdida da inspiração dele, ele a criou mulher livre e solta, não tem conseguido encontrá-la... Pensou em tecer sobre banho, mas enjoou só de pensar. Divagou um tanto mais e se perdeu entre os lençóis, pareceu cochilar. Mas, estava ainda acordado. Despertou com uma mariposa a fazer barulho em seu voo noturno desengonçado. E se falasse de revoltas, ímpetos de sua alma? Estava niilista de mais para isso. Estava tão entediante que se pudesse daria uma desculpa a si mesmo e sairia para um lugar onde não se encontrasse. Porém, o engenheiro de corpo e alma não pensou em separá-las quando a insuportabilidade fosse presente ou longínqua. Entre esses devaneios tolos, a mariposa sussurrou algo em seu ouvido, assustou o moço bobo, fez pular, girar... E tudo o que a mariposa disse foi:

 - Mesmo ma madrugada mais escura e silenciosa, tem uma magia peculiar a quem souber apreciar.

- Mariposa, deseja me tirar para dançar?

Ambos ficaram a rodar desengonçados e livres no quarto azul escuro. 

Calor de terça'

Derluh Dantas
Noite de terça e a temperatura é alta. O ventilador já não refresca, apenas atiça o vento inerte da sala, sem provocar brisas refrescantes, só um bafo quente. O corpo sua, a mente gira, sem criatividade ou inspiração para nada. Algumas imagens na tela iluminada, na televisão algumas cenas despercebidas. Há o barulho do ventilador, de algumas falas de transeuntes na rua... Sem som para ser levado à distração. Os pensamentos são abstratos, sem muito contraste ou cor. A fome começa a anunciar sua presença, burburinho no estomago. Algumas palavras surgem, mas nada muito digno de registro ou divulgação. Na cadeira vazia ao lado, a inspiração se levanta, vem em minha direção... Com suas mãos suaves, segura minha face, me beija os lábios, tornando-os úmidos. Acaricia minha fronte e se vai pelo escuro do corredor. Eu fico jogado ao sofá, sem compreender aquela visita ou sua manifestação. Volto ao abstrato de meus pensamentos, meus momentos, dias. Onde foi parar minha alma, andorinha? 

Encontro escorpiano'


Derluh Dantas
Ela dançava de olhos fechados, deixando que a música se conectasse diretamente com sua alma. Em outro ponto, ele cantava suas meias-verdades, deixava que sua vida se expressasse em sons e melodias. Ela era movimento, ele era som... Ela provocava a terra e ele modificava a textura do vento. Eram cores distintas em um mesmo ambiente. Um de escorpião, ela de aquário. Mesmo sendo tão diferente e contrastante um do outro, uma ligação foi feita naquele momento. Ela abriu os olhos justamente quando ele sorria pelo som e pelo olhar. Os dois se encantaram como a própria magia da musica que os envolviam. Era como uma fábula em que o som era uma deusa sedutora, como a própria Afrodite a juntar dois seres tão distintos em um desejo comum, desejo um do outro. Ele era casado e ela uma mulher de moral e liberdade impecáveis. Mas, não podiam negar aquele encanto simultâneo. Ele era infeliz na história antiga e ela fechada por completo ao passado ido. Ambos decidiram esperar, mas a melodia e a dança eram mais fortes que eles. Traíram os próprios princípios no salão de dança, não tinha como voltar. Ele separou-se e ela dançou um pouco mais. Ambos foram levados ao mudo de Alice, fazendo o País das Maravilhas um lugar ainda mais utópico e intocável. A dança e a música vivem lá desde que se sabe. E os amantes? Ninguém mais ouviu falar. 

Madalena Puta Cristina '?'

Derluh Dantas
Ela parou em frente aquela multidão. Todos pareciam estar carregados de pedras para atirarem nela assim que abrisse a boca para se defender. Pelas circunstâncias do momento e da cena, preferiu ficar calada, esperar pelo bom senso de um Deus que ouviu falar quando era criança.
O que fizera para chegar até ali? Ela não sabia muito bem. Sempre foi uma mulher de boa índole e de dignidade. Envolveu-se com alguns homens, homens que depois descobria não serem bons o suficiente para o que desejava. Ela não queria um dono, nem alguém que a batesse por não ter esquentado o feijão na hora certa. Ela beijou algumas mulheres ao longo da vida, não se envergonhava por isso. Gostava de roupas decotadas, quando se julgava bem para usá-las e usava roupas ‘comportadas’ para trabalhar. No trabalho, reivindicava ganhar o mesmo que seu colega de cargo. Não costumava baixar à testa, quando se julgava certa. Julgava-se – ela achava que só quem a conhecia suficientemente bem podia se arriscar nessa área, mas julgamentos eram pra ser pessoais e não a determinação do que era permitido ou não aos demais – assim pensava. Sempre foi muito autêntica e sincera em seus pensamentos e suas atitudes. Sinceridade essa, que surgia de grandes reflexões sobre sua vida e a realidade que vivenciava, conhecia, lia em literaturas e jornais.
De tanto ser ela mesma, chegou até aquele ponto. Pelas roupas decotadas os homens a viam como “chocolate mordido” e disponível a qualquer um. As mulheres, pelos beijos dados a outras mulheres, a via como uma pervertida sexual. Por não se subjugar, ao que chamaremos aqui de machismo, ela era tida como uma desvairada de ideais. Chegou, então, a hora do ‘Julgamento Final’... Todos estavam prontos para atirarem suas pedras e aquela mulher em silêncio pensava no quão bom é ser quem realmente se é. Mesmo com todas as pedradas possíveis, ela tinha em mente o tranquilo gozo de sua liberdade e das consequências ‘reais’ de seus atos, julgassem o que julgassem.
Então, quando a primeira pedra em palavra saiu da boca de alguém da multidão. Ela agradeceu por ser chamada de PUTA. A segunda foi LOUCA, novo agradecimento. Outra foi SAPATÃO, ela se orgulhou novamente. E foram tantas outras lançadas, apesar de serem palavras distintas, ela só ouvia: COERENTE, CORAJOSA E LIVRE CRISTINA. E as pedras lançadas se tornavam pétalas em sua alma livre, vívida!

Encanto do Ribeirinho Escorpiano'

Derluh Dantas
O rio estava caudaloso e o céu levemente acinzentado. Provavelmente, a tempestade se cansara daquele lugar, mas havia deixado marcas como prova de que passou por ali. O jovem sentou em uma grande raiz que rompia a terra e voltava alguns metros depois para dentro do solo. Naquele lugar onde sentara, podia ver o horizonte se abrindo em outras cores e ouvir o som estridente das águas daquele rio nada tranquilo. Mesmo o cenário parecendo melancólico e um pouco tormentoso, o rapaz se sentia em paz e parte daquela cena. Sua alma parecia brincar nas imagens que se formavam nas nuvens. Era como se a brisa fria fosse um carinho quente às suas próprias tormentas. No momento em que parecia se entregar ao niilismo do caminho, um ser surge à beira do rio. Era um homem de cabelos inchados, sorriso branco e olhos marcantes. A cor de sua pele contrastava bem ao céu azul com grandes manchas cinza. O homem tinha a pele escura como o desejo mais secreto daquele jovem que agora parecia ter acessado a tempestade que passara por ali. Sua alma que bailava, agora cambaleou, se confundiu com o desejo de posse, de liberdade, de libertinagem com a alma daquele belo Xangô. O jovem sorriu, escapando palavras de admiração não convencionais para um outro homem. O Xangô de vestes vermelhas sorriu e no olhar daquele jovem percebeu um sentimento distinto, não comum aos rompantes da floresta. A alma do jovem, ao voltar para o corpo acabou se chocando com o espírito do Xangô galante... Nesse choque de almas, os corpos acabaram por se esbarrarem em um abraço. E o desejo ‘de mais’ ficou pulsando em ambos os corações. Tempestade voltou em forma de saudade e o rio agora é cenário de esperança para novos encontros. Se bem que o rio era mar, o cenário desejo e a tempestade o tempo ou a distância entre os belos e distintos seres.

Sobre vozes e sorriso'

Derluh Dantas
Sorrindo ao lembrar o som da sua voz,
O ritmo gostoso que ela faz.
A melodia que me provoca os sentidos.
O que será que faz agora,
Além de estar aqui em pensamentos comigo?

O tom de sua pele se parece com o mar,
Profundo, misterioso e atraente.
Seu tato se parece o vício,
Aquele inebriante que me perturba o juízo.

São rimas pobres em sentimentos raros,
Déficit tolo de um amante sem talento,
Inspiração sincera de um ser em total encantamento.

Declamar saudades!?
Como não falar?
Já tem um tempinho sem seu tom, seu beijo, sua voz.
Sem esse prazer em te sentir, escutar.

Somos diferentes em geografia, química e filosofia.
Enquanto eu desejo a profundeza do oceano,
Você prefere a firmeza do asfalto.
Não sei se por preferência ou medo.
Amo cada defeito seu que conheço.
Exceto essa distância geográfica e o medo no amar!

Olhar no salão'


Derluh Dantas
No outro canto da sala aquele olhar foi notado. “Por que não desviava, o que havia de errado?” - Pensou Cristina. Ela começou a se incomodar com tamanha ousadia de ser observada daquela maneira. Levantou-se e tímida foi se olhar no espelho, talvez algo estivesse fora do lugar em sua maquiagem, em seu vestido roxo ou no penteado vintage. Aparentemente, estava tudo impecável. Por que, então, o olhar insistia em persegui-la em cada passo, em cada tentativa vã de desvio? Cristina resolve apenas fingir ignorar. Foi ao salão maior e no balcão improvisado para aquela festa pediu sua dose dupla de Campary. Bebeu aquele líquido quente e rosado a goles pequenos e constantes... Ao terminar a dose, pediu outra e ficou ali tentando evitar olhar o outro canto do salão, sentia que ainda estava sendo observada, seguida, analisada. Será que fez algo que não se lembra?
Cristina foi àquela festa no intuito de reencontrar amigos, mas sem grandes sucessos. Era um jantar organizado por uma antiga amiga, que até o momento não havia conseguido nem ao menos cumprimentar. Como tudo parecia estar entediante e o olhar não a deixava a vontade, decidiu por ir embora. Quando pegava sua bolsa no balcão, levantando-se para sair, o olhar se aproximou e perguntou: “Cristina?! Não se lembra de mim? Sou a Marta, sua colega de quarto no tempo de faculdade, éramos muito íntimas...” Cristina sorriu para àquela bela mulher em sua frente e riu por sua memória tê-la pregado tamanha peça. Conversaram sobre o passado e resolveram não estender o conto... Trocaram contatos e se despediram com um beijo úmido na face e um tocar de mãos que fez tremer em um arrepio quente o corpo de ambas.

Continua...

Banho quente'

Derluh Dantas
Depois de um banho quente, pouco molhado e ainda pelado deito-me na cama. Deixo os pensamentos serem levados pelo vento que sopra lá fora. Enquanto me perco entre tantos devaneios, ele vem lentamente e me beija o pescoço, se deita ao meu lado. Começa a passar a mão em meu corpo, beija-me a face, o queixo, os lábios. Acabo por me entregar de corpo e alma aquele homem, aquele ser que na pele tem o contraste da cor, do gosto, do calor. Nossos pelos se misturam ainda tímidos, mas intensos. Nossas línguas umedecem-se uma com a outra. Salivas, carícias, declarações. Contato de pele. Abraços apertados fazem o desejo de simbiose aumentar, é como se pudéssemos contrapor a teoria de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Nossas mãos vasculham cada centímetro da pele do outro, do prazer, do tato. A água do banho em meu corpo se evaporou, foi na língua, no atrito da pele, no corpo do outro. Ele me invade, nossa primeira conexão interna... Nossos corpos se ligando à alma. Movimentos, ritmos, sussurros e murmúrios. O pescoço dele se torna meu melhor gosto. Lambo-o, beijo-o e mordo-o. Depois de alguns minutos desse vai e vem, desse dentro e fora de mim... Ele me permite invadi-lo. Sua primeira vez a ser tocado por dentro. Úmido, quente, aperto. Devagar e lentamente retribuo a conexão. Lá dentro explodo em frenesi de prazer e êxtase. Prazer!

Agora, estou em minha cama sozinho, suado e manchado de prazer... Agora um novo banho, dessa vez, banho frio!

Madrugada de terça'


Derluh Dantas
Madrugada. A lua se faz altiva e bela, clareia o concreto da noite. Uma impaciência se afigurou em meu ser. O copo que caia se quebra em pequenos cacos, me fere os dedos. O sangue que escorre parece um fluxo de sentidos. Minha inspiração se faz lenta, perplexa, desaparecida. Algumas palavras surgem: mar, pele, beijo, negro. Outras tantas configurações se formam, mas são levadas leves com o soprar do vento. E a lua como testemunha de tantos desejos não denuncia nada. Fico mais uma vez em profundo silêncio... Pensamentos... Inspiração adormecida!

Varanda de casa'

Derluh Dantas
      Da sacada de casa os olhares se cruzaram... Um ficou tímido e continuou confuso seu caminho de volta pra casa... O outro, da sacada sorria sem entender o que fora aquele olhar, ficou encantado imediatamente. Dúvidas povoaram os pensamentos, talvez fora um sonho que aconteceu, um delírio enquanto estava acordado. 
     Outro dia, uma tarde qualquer fora à rua, como o inesperado daquela noite, os caminhos mais uma vez se cruzaram, rápido, imediato... Mas, os olhares se encontraram, provocaram mais sorrisos e um carinho especial à alma. Foi pedido aos ventos que o encontro se repetisse novamente. Em casa, o vento ouve mais uma vez seu desejo, seu lamento... Qual o nome do ser que guarda aquele olhar, aquela magia atraente? Eis que o mundo virtual sopra a imagem, o olhar é reconhecido. Ambos começam uma conversa cheia de pudores, idas e vindas. Há impossibilidades, proibições, censuras muito bem definidas. Porém, algo maior surge daquele encontro: o desejo!

[Continua...]

Embolia de vida'

Derluh Dantas
Ela era casada, mas fazia tempo que não sentia paixão ou prazer. Sua vida havia se tornado uma rotina chata e cinza, sem beijos à noite, nem mesmo abraços furtivos na cozinha. Era tudo metódico e sem emoção, sem sentidos. Aquele desconhecido com seu olhar penetrante a fez duvidar se havia vida em seus dias. Ele a convidou para uma visita em seu atelier, que não por coincidência, também era seu recanto neste mundo. Ela decidiu arriscar aquele encontro, colocou um vestido vermelho que nunca teve coragem ou oportunidade para usar. Decidiu pedir ajuda às irmãs: maquiagem, lingerie, penteado, saltos altos. No atelier de seu mais novo suspiro de vida, ela estava nervosa, duvidava se realmente deveria se permitir aquilo, nunca havia traído seu metódico marido. Ela vasculhou a sala com seus olhos, caminhou, comentou sobre alguns quadros em diferentes cavaletes. Quando deu por si, resolveu admitir que desejava aquele homem. Ele disse que ela havia se precipitado, quando ela constrangida tentou sair correndo pela porta, ele a segurou pelo braço e fez que seus passos fossem ao encontro de seu beijo. Ela o beijou com toda paixão que havia esquecido caber em seu ser. Quando pensou em se entregar lascivamente àquele homem, lembrou-se do marido e foi embora na carreira. 

Uma pessoa fiel só pensa em trair sua companhia, quando essa companhia já não se faz mais presente, vívida, real... 
Rotina de ausências e friezas, não faz bem a ninguém!
Que venham as surpresas - sem precisar trair ninguém...

TiRiri e minha segunda em dança'

Derluh Dantas
O som em volume máximo... Acordei cantando músicas do alto, coisas do terreiro lá de baixo. Pés no chão e corpo nu, dançando com remela nos olhos. Banho frio e mais samba. Uma roda de música e vontade. Coisa do querer e do cantar. Quero rodar com a menina de saia rodada, com os erês no terreiro - Dançar. Vamos gritar de pés no chão e sem poeiras ao coração. Acordei com esse samba a rodar e em silêncio fiquei a desejar todo o dia... A noite anuncia o querer mais forte, gritar. Onde está aquele Xangô de belos braços? Aqui precisando de sua coragem... Vem me tirar pra rodar!

A subir no pé de caju... E correr solto por aí. Girar na roda e na cantiga, ser mais livre que a menina. Voar por entre o som dos tamborins. Ser poesia em brisa... 
Música, cantiga. Louvor ao tempo de correria. Sabedoria. Dança de jovem bisavó. Coisa da antiga. Cantiga. Samba de roda e Bonfim. Vem no canto, Tranca Rua e Padilha, vem fazer dança em mim. Canto de reza, fé e louvor. Encanto. Lua e sereia... Sagrada por natureza. Pura alma de homem livre a amar, cantar, beijar. Desejo enamorar. 

Amigos, irmãos, andor'

Derluh Dantas
E toda vez que me perdia e pensava em desistir, umas palavras amigas me surgiam, como magia ou ligação intergaláctica... Era um anjo em forma de presença, afirmando do alto do poço, que não era hora de desistir, era momento de resistir para tão logo sorrir de novo. Conhecemo-nos pelo ciúme, pela dúvida, insegurança e o medo de perder... E por esses medos misturados a tantos outros sentimentos, empatias, magias e companheirismo, a amizade se solidificou, se tornou trampolim do amor, se transformou em asas únicas de alento e acalento. Ele costumava aparecer justamente quando as lágrimas secavam - isso no começo, hoje se some por um tarde a saudade já se faz quase insuportável. Viramos confidentes... Por desejo e amor, viramos um tanto mais que amigos, nós nos tornamos irmãos, almas-gêmea daquele tipo que a distância só existe geograficamente. Pensei em lhe fazer uma poesia – me faltam rimas raras... Se soubesse cantar seria um canto lindo, se soubesse pintar uma linda gravura à tinta óleo e em relevo... Mas, o talento que me falta às artes, sobra nele – é dança, ritmo, teatro, doçura e mais encantos. Confesso que é meu anjo nessa zona de vida... Ressalvo que não somos putas, raro às confusões, abstrações e ironias... É aquele amigo que gosta e ama para além da minha insuportabilidade congênita - acredito. É amigo de paraíso, dor, andor e cor! Meu querido, meu amor-amigo, irmão...

Delírio [ou] Prenúncio'

Derluh Dantas
Toda aquela ansiedade nos lábios, nos olhos, fora provocada pelo telefonema que não recebeu e por não terem atendido sua ligação. Qual erro ela cometera dessa vez? Tentou refazer os passos em sua mente, mas nada parecia motivo suficiente para causar aquele aparente abandono. Passou o dia na cama, era 21h e ela quis dormir um pouco mais. Depois de muitas lágrimas e o quarto escuro, resolveu tomar um banho em frente ao espelho. Enquanto sentia a água fria despertar seu corpo, arrepiar seu pelos, olhou no reflexo os seus olhos ainda marcados pelas lágrimas da noite. No espelho se viu como uma mulher bela e molhada, ela acabou sorrindo para si mesma, logo ficou tímida, achando que aquele sorriso fora loucura de sua mente. Olhou em volta e estava sozinha, apenas o chuveiro, seu sorriso, seu corpo e seu próprio reflexo no espelho. Como sabia que a loucura a libertava de algumas dores, resolveu se entregar aos delírios de sua criatividade e pensamentos. Deixou que o reflexo tomasse corpo para fora do espelho, mas o reflexo mudou, se transformando em outra mulher. Uma ruiva, de seios empinados, barriga lisa e um lindo quadril. Essa mulher que agora se aproximava para o banho, tinha os olhos de lince, a pele morena, como a personagem Iracema, aquela “virgem dos lábios de mel”, no caso em questão, a ruiva de nada parecia inocente. Pegou-a pela cintura, dando-lhe um beijo ainda mais molhado do que o chuveiro conseguia deixá-la. Aquele beijo a fez tremer por dentro, desejou que aquela mulher a possuísse como uma virgem, deixou-se levar pelo reflexo mais sedutor e experiente. A ruiva, enquanto beijava-a de língua, tocava-a delicadamente em todo seu corpo. Apertava os seios, puxava-a para mais próxima de si. A mulher que havia entrado triste naquele chuveiro, agora em sua fantasia era tocada por uma outra mulher. No espelho o reflexo era daquela bela morena a desvendar seu próprio corpo com caricias, mãos, dedos... O chuveiro de água fria, se tornou agora uma torrente quente de delírio e tesão. Na mente de Cristina, a ruiva a lambia os lábios, o pescoço, mordia-a levemente os seios, o bico, lambia a cintura, descia ao umbigo e voltava a beijar os lábios, os grandes lábios, os inferiores, ela apertava o quadril. As duas começaram um possuir mútuo enquanto o chuveiro molhava aquelas ninfas. Porém, a umidade que sentiam era a de dentro para fora, da luxúria que se entregavam àquela cena. Ao chegar ao nirvana, Cristina soltou um urro e se entregou ao chão molhado, no reflexo a ruiva sorria nua se despedindo de sua amante. Cristina se arrumou, colocou o seu vestido vermelho, sua melhor lingerie negra e saiu para se divertir. No bar, onde parou para um drink de coragem, ela viu na extremidade do balcão uma mulher que mais lhe parecia uma miragem, era a ruiva de seu banho sorrindo para ela como no reflexo do espelho...

Em seu álbum virtual...

Derluh Dantas
Olhando suas fotografias nessa madrugada insólita, eu tenho desejos maiores de você. Ver seu sorriso em imagens tão distintas me faz sentir uma vontade dos seus beijos. Não consigo dormir, ao fechar os olhos fico a imaginar a textura de sua pele contra a minha, o suor de nossos corpos em movimentos intensos. Fico imaginando morder seu pescoço enquanto nossos corpos provocam atritos um confinado ao outro. Quero sentir o gosto de sua pele, sentir o tato de seus dedos a explorar meu corpo. Ouvir seu sussurrar e seus gemidos bem próximo aos meus ouvidos... Quero seus lábios, sua língua, ao alcance de minha boca... Quero sentir nossos fluídos quentes, trocas de saliva. Quero me entregar a você ao mesmo tempo em que você por completo se entrega a mim. Meu corpo começa a buscar o seu e tudo que encontro é o travesseiro, abraço-o com meus braços, minhas pernas, gemidos... Como desejo você aqui comigo, para saciar cada calafrio, cada explosão e sussurro, para valer a pena esse gozo sozinho! Quero me inundar em nosso prazer, por mais um segundo, minutos, pelo tempo que Eros nos permitir...

Relicário Rubro'

Derluh Dantas

Cerejas vermelhas. Intenso rubro e molhado, carmim. Vontade intensa de lábios, desejos de mim. Toques e mordidas, sabor salgado, suor e arrepios. Derme, entradas, curvas... Invasão lenta, saída e entrada. Estocada mais rápida. Chupões, marcas, arranhões e sussurros. Pedido de mais, agora urra, animais. Pelos ralos, pele lisa, molhada, entrada e saída. Metidas. Mais. Apertões, arranhões, tanto chupões. Pescoço, nuca, nádegas, lábios e línguas. Dentes, mordidas. Engasga, lacrimeja. Um pouco mais. Profundo, entrada e saída. Metidas. Ais. Mãos, pés, pernas... Entrelaces, enlaces, amassos e mais. Intensifica. Perde-se a linha. Metidas, mãos... Ais. Grita. Urra que agora vai. Não sai do lugar. Mexe, remexida. Intensifica mais. Dentro inunda, transborda. Nirvana. Nos lábios, garganta e na língua sabor amargo, suor. Olhares. Descanso e promessa de reprise. Dez minutos de descanso. Morangos, leite condensado, salivas! Cerejas vermelhas. Intenso rubro e molhado, carmim. Beijos, lambidas. Palavras lindas, conchinha. Dormir!

Personagem de mim'

Derluh Dantas
Acende o cigarro e traga com uma gentileza tão mágica que faz o sólido se tornar fumaça e brisa. Por um minuto se perde nas figuras psicodélicas que a fumaça faz enquanto baila contra luz, enquanto voa para cima... Se desfazendo em outro vento ao se chocar no telhado antigo e na janela de madeira pintada de um azul turquesa. Seus pensamentos vão do mais profundo oceano à poça de lama que pisou na volta para casa, suja, rasa e incômoda. É uma figura comum olhando-se de fora e de relance, mas seus olhos castanhos têm um brilho que não se encontra em muitos olhos por aí. Em seus pensamentos o mundo se torna algo intimamente diferente, mágico e belo. Em seus movimentos há uma despretensão silenciosa de quem assumiu para si que o mundo começa a mudar de dentro de si. Depois de expelir a fumaça densa de seu cigarro, pega a xícara manchada na mesa da frente e toma em goles lentos e sutis o café ainda quente, forte. Seu melhor amigo é uma barata que a tudo assiste e lamenta: Seus irmãos desejam apenas adaptar você na infelicidade incoerente em que eles mesmos criaram e vivem...

Proposta de Cristina'

Derluh Dantas
la estava bêbada, lamentava sobre os homens que havia decepcionado seus sonhos e seus desejos mais secretos... Enquanto algumas lágrimas caiam, Cristina se aproximou e lhe ofereceu um lenço azul com pequenas manchas esverdeadas. Cristina compreendia que aquela bela mulher além de ébria, sofria de desilusões amorosas. Vendo naquela cena dramática a oportunidade de desvendar e realizar seus desejos mais ousados e libidinais, ofereceu seu ombro quente e sua amizade sincera. Cabia à outra apenas aceitar o afago da estranha tão atenciosa. Elas saíram daquele bar e foram para o apartamento de Cristina, canto completamente atípico, de cama redonda, macia e tons em vermelho, um tom quente de paixão... Cristina sabia conduzir a virgem iniciante àquela prática com total surpresa ao expectador mais incrédulo e experiente. Cristina perguntou se a outra desejava descansar, com a resposta em afirmativa certeza, levou a bela mulher à sua cama. Lá começou por despi-la lentamente e de forma que a cada botão aberto de sua blusa, a mulher se entregava um pouco mais a experiente amiga que a iniciava em prática tão sensual. A mulher começou a se tornar pouco mais cônscia de toda aquela situação, assustada e completamente envolvida, optou por aceitar o assédio de sua mais nova amante. As duas começaram a se beijar, enquanto os lábios e línguas se tocavam quentes e úmidos. A mais experiente a cada toque nos seios, no bico, na cintura, no corpo da outra, arrancava, daquela mulher sedenta de luxúria, sussurros de ansiedade e prazer. As duas começaram por se envolver num clima de simbiose e entrega, eram lábios úmidos, diversos e entregues, em contatos, em carícias, em atritos... Eram seios, mãos, pernas, tudo em um movimento rítmico de inebriante delírio a ambas as mulheres. Os seios se chocavam, as mãos introduziam-se no ser uma da outra, os lábios cada vez mais úmidos e um urro de nirvana ecoou no quarto vermelho e quente. A mulher, que antes era ébria e tristonha, descobriu naquela prática surreal às suas experiências um lugar para ser completamente sóbria e feliz.

Devaneios em banho'

Derluh Dantas
Depois de um dia de sons e músicas... Ao tomar o banho da madrugada, optei pelo silêncio. Durante o banho, deleguei a água que fizesse sua própria melodia, preferi o banho frio, para o único som ser o da água percorrendo o meu corpo e se chocando ora suave ora abrupto no piso do banheiro. Deixei que o silêncio percorresse meu ser como a água percorria meu corpo... Nesse som tático e molhado, vieram pensamentos nada pueris... Um ser de sorriso lindo invadia o chuveiro, me puxando para perto de seu corpo nu. Enquanto meus pensamentos tomavam formas de luxuria, meu corpo respondia ao calor que saia de dentro do meu ser... A água fria ao invés de acordar-me para a realidade, agora se tornava cúmplice daqueles pensamentos impróprios, gentis e extremamente sedutores. Meu visitante beijava-me com volúpia, o chuveiro circundava nossos corpos juntos. Fiz de minhas mãos e da água que caia o corpo e as mãos do meu delicioso intruso... Em minha mente, nos tocávamos, nossos corpos se esfregavam, os beijos eram os mais intensos que eu poderia sentir e o chuveiro testemunhava aquele nirvana em delírio... Banho, gozo e prazer .

Nosso estranho amor, Carmim'


"Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos, mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor"


Nosso estranho amor...

Música: Nosso Estranho Amor
Composição: Caetano Veloso
Interpretação: Caetano Veloso e Maria Gadu
Ao vivo
Ano: 2011

Tentativa em cor amarela'


Derluh Dantas
Uma linha amarela
Traçando uma lágrima pequenina
Um sentimento intenso
Como tinta solta e cuspida
Em aquarela meio colorida,
Sim! Tinta, pincel... – Pinta!
Pintura ainda indefinida
Rabiscos e indeferida poesia,
Forma em trova, cantiga,
Barroco? - Sem escola literária decidida
Miscigenação e contradição – ironias
Sorriso, cansaço, imagem antagônica...
Sofrimento e prazer imenso.
Momento de inspiração Severina
Sem prosa ou verdadeira rima,
Aqui se cospe saudade...
Tentativa de saída!
Saudade amarela e sem teoria!

Desejo Autobiográfico'


Derluh Dantas
Pegou a mochila e decidiu que já era hora de ir embora... Sabia que naquela casa todos o amavam de verdade, mas a casa já estava sufocando seus sonhos e o excesso de amor prendia suas asas. Ele saiu com o coração apertado e um tanto de lágrimas represado em seus olhos, algumas teimavam escapar pelo nariz, mas ele tentava manter-se firme em sua decisão: ir embora. Saiu pela porta enquanto sua alma despia-se, trocava de pele, mudava de cor... Nos primeiros dias pensou em voltar para casa, a grana estava sumindo, a grama já não existia no jardim, nem mesmo havia jardim. Todas as noites ele pensava onde estavam todos aqueles amigos que diziam “para sempre”, perguntava-se onde estava o otimismo que ouvia lá fora, já estava se desesperando. Em meio ao completo caos, parou por um segundo diante do espelho, era manhã, uma manhã de segunda. Ele saiu daquele apartamento apertado e foi em busca de seu verdadeiro emprego, não conseguiu. Então, à tarde, foi espairecer junto ao mar e teve uma ideia  compor suas poesias e arriscou publicá-las. Depois de algumas tentativas frustradas, lançou seu primeiro livro meio autobiográfico – contos, crônicas, poesias, algumas rimas... Foi assim que me imaginei um dia!

Dois ao rio'


Derluh Dantas

Ele estava à beira do rio com o olhar perdido pelas correntezas que pareciam levar para longe todas as suas dúvidas, quando:
- Moço, o que perdeu em meio ao nada para estar buscando no vento explicações? – Outro jovem o perguntou, fazendo-o despertar de seu ostracismo.
- Como? – Sorriu sem saber o que responder e se virando para conhecer a face de quem o interrogava de maneira tão distinta.
- Eu perguntei o que faz aqui sozinho olhando o vento e ouvindo a paisagem? – O rapaz sorriu de admiração pela imagem que via e pela sinestesia que sentia por aquela cena do belo jovem parecendo um arbusto ciliar, de olhar perdido...
Os dois iniciaram um diálogo sobre o sentido das formas, das cores, dos próprios sentidos... Sentido e palavras que qualquer outro, além dos dois jovens, não compreenderia. Era como se aquelas almas estivessem predestinadas àquela margem do rio... Ambos se entregaram as palavras que foram sentidas e acabaram se tornando personagens únicos de um conto de amor que as palavras não poderiam expressar! 

Conto esse que ainda não conseguiu ser escrito...


Adendo solicitado pelo Carmim: ... e eles viveram juntos por muito tempo, sem palavras que conseguissem narrar à intensidade daqueles personagens depois do encontro... Nem tudo precisa ser dito, há coisas e sentidos que só o sentir explora e permite.

Poesia azul em verde'

Derluh Dantas
Uma poesia tímida me circunda,
Faz carícia e provoca as brisas,
Quer sair e gritar ao mundo...
Quer falar de amigos e suas maravilhas.

É um desejo leve, porém profundo
Deixar a partida e celebrar o reencontro,
Cantando por cada canto
O quão bom é ser amigo, verso e rima.
Pena que o talento me falte,
Infelizmente, passo longe de ser um tipo artista,
Tenho alma e anseio, deveras sinto,
Contudo, não sei pintar de forma digna essa poesia.

Tudo isso provocado por um amigo,
Que pela vida sumiu
Pelo acaso ressurgiu à minha trilha
Falar de boas brisas seria clichê no meu caso
Cantar poesias um risco sutilmente amargo...
Com as palavras que escapam por aqui
Deixo um abraço apertado ao amigo Jon
E em seus braços sorrio ao mundo bom!
Revelando em timidez, que são pobres e sinceras rimas!
Versos de uma noite em que a tristeza surgiu,
E o bom Jon com sua companhia a fez sair de mim! 

Invasor'


Derluh Dantas
Christian estava deitado nu em seu quarto, livre em seus pensamentos e projetos sobre o futuro. Enquanto ele divagava sobre outros planos, a porta de seu quarto abriu lentamente e alguns passos silenciosos se aproximaram de sua cama. Christian permanecia imóvel em sua cama e sua alma flutuava por outros campos... Sem perceber, aquele peso foi lançado sobre seu corpo sem que ele pudesse se mover, talvez pelo peso, talvez pelo susto. Ele ficou estagnado, apenas com a respiração ofegante... O invasor, completamente despido de roupas ou pudores, segurava com uma mão sua boca e com a outra acariciava o corpo de Christian em atrito com a cama e os lençóis não mais tão inertes.  Aquele corpo parecia uma massa de energia que lhe provocava um desejo assustador, Christian queria ser possuído, mas não precisava pedir ou de palavras para que aquilo ocorresse. Seu agressor desejava penetrá-lo sem autorização, mas com muito prazer para ambos... O invasor mordia a nuca, lambia a orelha e esfregava seu corpo contra o corpo do outro, ambos já estavam completamente envolvidos em um êxtase de prazer e suspense... Christian queria saber quem o provocava desejos tão adormecidos... O intruso desejava sentir como era estar completamente ‘dentro’ do Christian... O invasor antes de penetrá-lo fez questão de sentir cada gosto daquele belo corpo com sua língua e suas mãos. Christian preferiu não se opor e afundou seu rosto no travesseiro. Mesmo com toda curiosidade por saber quem o despertava tamanha luxúria, ele preferiu aceitar as regras não ditas, mas impostas daquele jogo sedutor. A cada tocar de língua daquele homem, fazia os desejos mais íntimos de Christian se expressar em arrepios e suspiros profundos... Então, enquanto a “vítima” se encontrava completamente entregue e indefesa aquela maravilhosa armadilha, o outro o penetrou, devagar... Penetrou-o com prazer e com pequenas mordidas nas costas e na nuca daquele belo homem domado na cama, agora, desarrumada. Ao ser completamente invadido pela primeira vez, Christian então alcançou o nirvana do prazer e melou por completo seu colchão... Despertou alguns minutos depois sem saber se aquilo fora real ou apenas um sonho, apenas tinha como prova os lençóis melado, a cama completamente bagunçada e uma rosa rubra na penteadeira do quarto!

Palavras ex-piradas'


Derluh Dantas
Poesias e rosas vermelhas, por que fez isso? Poderia ser sincero desde o começo e dizer que apenas queria que eu fizesse você gozar algumas vezes, sem compromisso. Imagino que algumas pessoas devam ter lhe dito que eu era uma moça frágil e alguns invejosos que eu era apenas uma vadia dissimulada, mas foi você quem me procurou - o que não justifica as coisas que me fez e disse. Se você começou tudo isso, por que não disse logo o que queria, sem rodeios ou tantas rimas? Eu sou humana como você, apesar de no lugar desse trambolho que quanto maior mais os tolos têm orgulho, eu tenha uma vagina, isso não me faz menos ser do que você. Sim, acreditei naquelas juras de amor... Minha intuição feminina? Talvez, exista realmente, mas há canalhas, como você, que consegue dopar uma mulher e depois dizer que a culpa é dela por acreditar em promessas tão bem articuladas e falsas. Não vamos mais gastar nossas palavras um com o outro, se quer uma vadia, procure por aqueles que disseram que eu era boa de mais para lhe suportar, ao menos esses são sinceros e sensatos... Quanto aos que me chamaram de vadia dissimulada, deixa pra lá, a loucura um dia se volta contra seu portador!

Um clichê qualquer.


Derluh Dantas
Três horas da manhã... Não consigo dormir e minha mente vagueia por vales coloridos, belas relvas e boas músicas. Um pensamento entra por baixo da porta e ilumina os olhos, fazendo algumas lágrimas rolarem pela face. Nesse pensamento uma certeza clichê me ocorre: cada existência nesse mundo, por mais comum, simples ou complexa é única, exclusiva... Cada passo dado é uma experiência distinta, ainda que se assemelhe com outros momentos, não há nada de total semelhança. 
Pois, eu já apanhei na rua pela forma de andar, já gargalhei por gases que escaparam fazendo barulho enquanto eu sozinho ouvia Bethânia, já chorei por um filme que os outros acreditam bobo... Já amei e me decepcionei tantas vezes e quis mesmo morrer em algumas delas, mas não morri... Sobrevivi para tantos outros cantos, sentidos e poesias. Conheci pessoas que me provocaram belos sentimentos e outras que me fizeram querer ser mal, assassino... Porém, não matei ninguém. 
Eu já tive vontade de abraçar um desconhecido na rua e dizer que não precisava abaixar a cabeça, tudo iria ficar bem. Tive vontade algumas vezes de parar e olhar nos olhos daquela criatura cabisbaixa e dizer que ela é linda, não importa o que os outros digam, nem mesmo eu! 
Eu só queria mesmo dizer que somos vitoriosos, ainda que o julgamento seja contra, estamos vivos e esse dom foi nos dados em particular para compartilharmos apenas a quem for de interesse e de bem! Uma bobagem isso, mas foram essas palavras que me surgiram nessa madrugada de sexta... 

Somos belos do que jeito que somos... Sim, alguém nos admira desse jeito e está na hora de sentirmos orgulho das tantas coisas que passamos até aqui e adiante... Sendo assim:
- Namastê! - A divindade que há em mim saúda a divindade que há em você...
Sorriso!

Epahey Oyá!

Derluh Dantas
O som tocava no terreiro. Ela ouviu de seu quarto o atabaque e batuque, pulou a janela de pés descalços e com vestido e cabelos soltos, foi em busca do som, do furdunço. Lá chegando eram homens e mulheres negros, todos celebravam em som e dança o orgulho de sua fé e cultura. Era dia de Iansã e a moça se encantou com aquele encontro. Ela foi para roda de samba, de olhos fechados dançou como nunca se permitira... Era como se a deusa daquele povo a tocasse em luxúria, divindade e fantasia. Enquanto seus pés tocavam o chão e seus cabelos iam com o vento, seu corpo bailava a ciranda daquele povo... Seu corpo misto era o encontro de muitas culturas e etnias. E como toda moça bela e livre, sabia que casamento era um cabresto da sociedade para mulher, decidindo para si e para o mundo que isso não queria, não lhe cabia. De escolha própria, decidiu ser moça livre para toda a vida... Assim como a deusa que agora lhe encantara, Iansã, mulher de liberdade, metal e magia!

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