Entrada'

Derluh Dantas

Por vezes, a beleza se mostra preguiçosa e dissimulada nos tons pastéis da rotina. Por outras, a beleza é explosão, gritaria, uma cambalhota infantil seguida da queda em riso alto. Não há forma única ou cor exclusiva, sempre depende um tanto mais de quem a sente, ver, liberta. É que existem momentos, que a beleza parece uma prisioneira em saco bolha e com advertência de fragilidade, mas é borboleta ousada, que costura sinuosa à tempestade. Por que essa melodia sobre beleza? Não sei explicar, mas meu coração irradiou felicidade e o arrepio que senti na derme me fez derramar uma lágrima cintilante, acredito que fui inundado de uma beleza lembrada, já que não se faz presença neste momento, nem a forma, nem o cheiro, nem o tato. Aí! que saudades da beleza revolucionária, de ser tantos, frente ao espelho manchado.

pelo espaço'


Nazaré – Bahia, 16 de outubro de 2014 às 00h00minh.

A mesa estava sem a costumeira toalha, só havia um lençol branco cobrindo todos os móveis. As aranhas haviam feito um belo trabalho. Como não perceber a cor amarelada das paredes antes tão rabiscadas e tão brancas, amarelas, azuis? Tudo parece ter uma bainha afiada, tudo parece cortar a superfície fina da tranquilidade. Não há desejo de ter aquilo tudo de volta, não é vontade de se repetir, é impossível com todas essas marcas latejando os sentidos. Mas, há um desejo de viver aquele momento de novo, tal como foi. O desejo de voltar no tempo e viver todo aquele imprevisto e surpresa sem saber o porvir, o que vem. Como negar que o gosto daquele beijo já não se faz lembrança, mas se sabe que foi o melhor beijo já partilhado? As conversas no pequeno sofá, a troca de olhares, a amizade que transbordava o caldo de cana que não bebi. A maquiagem borrada e o cabelo em vida própria, tudo desgrenhado e fora do tom, mas que, hoje, olhando para trás, eu percebo que aquele era o meu lugar. Talvez, algum dia eu tenha essa sensação sobre esse presente, porém ando tão fora de mim, que a única companhia que me consola e atormenta é a saudade daqueles momentos que nem sei ao certo se vivi ou se apenas sonhei em alguma noite como essa, antes de dormir.

Com amor,
Derluh Dantas.

Ouvindo aquela música'

Derluh Dantas
Começarei pedindo desculpas. Peço-te perdão por não condizer aos seus desejos, nem aos sonhos que você defende que caibam a mim. Eu sempre transbordo um pouco às bordas, costumo me atrasar e meus pés gostam de ser um tanto para os lados, dependendo do caminho. O horizonte não me é tão bonito, só quando há o mar ou alguma colina que lhe atrita ao fim. E sou assim, pela metade dos conceitos, dos signos. Sou as tantas palavras mistas que se libertam pela visão e derme. Ah! meus poros não costumam emanar odor de jasmim, nem tampouco o feromônio que me faria te seduzir. Mas, perdão por meus sentimentos não serem da cor ou do tom que você julga cabível.
Já falei que transbordo? Pois bem, sou exagerado e à flor da pele. Quando o assunto me desperta, eu vagueio para longe no oculto ou dito. Sou apaixonado pela simples configuração do óbvio ou seria do seu justo oposto, depende da textura, do gosto.
Disseram que há uma beleza comum nos meus trejeitos. Já me ofenderam e elogiaram com tantos adjetivos e nomes, não me sinto condizente com nenhum. Tanto ouço do mundo, que por vezes desejo ser os olhos do outro e entender a dificuldade de não aceitar a poesia que vagueia por aí. Nem tudo é maniqueísta, sabia? “Se sou feio, não posso ser belo”! – Acho isso miudeza tão berrante ou seria falta de visão singela? Não sei, só acho que existe muito do belo no feio que alguns teimam em ofender ou restringir. Acho que aprendi com o mar, não preciso ser translúcido, azul, verde, vermelho, posso ser tudo misturado e os outros que me aceitem assim ou vivam com a chatice de tentar me resumir.

Mas, essas palavras eram para falar da paixão que tenho sentido aqui. Ando encantado por quem não conheço, essa gente que diz tanto com os olhos, os passos, o jeito. Gente que conta do caminho a parte toda e consegue colorir a tristeza de macios odores. Você já viu uma mãe guerreira que luta pela vida de seu filho? Ou aquela outra, que defende o amor, mesmo com toda agressão e violência sofrida? Gente que sabe que tudo é maior que a frustração ou a mania chata de resumir o tudo ao bom ou ruim, feio ou belo. Ando apaixonado por olhos que sorriem, vozes que acariciam, imagens que esquentam, gente de verdade que vive para além da mania de restringir amor, vida, ser. Acho apaixonante a liberdade sutil de aparecer assim, desnudo, vestido, simples, complexo, sutil e intenso, da liberdade mesmo em sentir.

Santa Pesquisa: