Derluh Dantas
Talvez. Talvez, realmente eu
tenho aprendido a ser sozinho. Não é uma questão de simples costume, é de
aprendizagem, de descobrir gozo, onde antes existia apenas medo e desespero. Engraçado,
em meio a esse ser sozinho, algumas lembranças tentam causar certo desconforto,
certa loucura, desejos de volta. Mas, ser sozinho ensina um tanto do
malabarismo entre silêncio e som. Já não assusta o espelho, as formas começam a
serem aceitas com um tanto mais de carinho e acalanto. Os olhos piscam! Já não
têm a fome infiltrada, apenas reconhece as cores, o belo por entre o pseudovazio
de algumas rotinas. Risos. As lembranças, quer dizer... As músicas, as pedras,
lugares, que antes causavam dúvidas sobre a dignidade que parecia perdida, se
tornaram lugares míticos, fantasias de um tempo que já não cabe mais. Ser
sozinho – é engraçado eu me categorizar assim, ainda não vou às baladas sem um
amigo em presença, ainda não me sinto a vontade na estrada sem uma companhia
para prosear... Porém, sim, considero-me ser sozinho em tantos outros aspectos.
Já não consigo mais a adulação, a insistência... Aprendi a deixar voar. Ao
mesmo tempo em que vejo os poucos que chegam... Partirem! Já não dói tanto. Creio
que por ter aprendido a voar sozinho, também. As fotografias já não necessitam
de poses, de mordidas, beijos ou abraços, são fotografias sinceras de mim. Sim,
há belas companhias, sinceros abraços, beijos, mas já não há mais o anseio dos
mesmos. Há o respeito ao tempo, à estadia, ao pouso e à despedida, que há vezes
que nem existe. Apenas chegam, fazem umas cócegas ímpares e simplesmente viram
nuvens indo embora com o vento. Não há remorso, pelo contrário, aprender a ser
sozinho me faz valorizar o tempo, ainda que aparente efêmero, por vezes se
torna infinito. E por isso, agradeço em sinceridade descabida, o reconhecimento
de ser sozinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário