Howl'

Derluh Dantas

A porta estava aberta, eu havia batido no intuito de te acordar. Quem sabe ao despertar desse seu sono, você não viria atrás de mim? Como fui tolo com essa crença infantil. Eu me lembro dos seus sorrisos e sempre havia algo em seu olhar que falava de uma despedida, de um ‘não sei’, de um ‘já fui’... E eu como um tolo, com essa esperança vadia me dizendo para ter fé. Fé? Fui caminhando cada vez mais para beira do precipício, confesso que era uma visão sem igual. Magnífica ainda é um adjetivo pequeno perto da grandeza daquela emoção. Cheguei mais perto, derrapei... Ao cair senti uma dor afiada atravessando cada certeza, cada lembrança, cada momento que eu tinha como bom. Era o me afastar de você. Na queda, em algum ponto entre o choque no paredão de pedra e alguns galhos em espinhos, eu me senti livre. Voei em meio ao samba único de Beth Carvalho, não tenho certeza. Bethânia, mesmo alguns dizendo pieguices ‘cult’, me fez voar um tanto mais e acabei encontrando o verde profundo do mar. Era uma dança, não havia percebido que não precisava de você comigo. Bailava com minhas saudades, dispensava ao chão nossas lembranças, como se plantasse para nascer algo melhor, outra árvore. Em meio à minha dança, minha solidão se vestiu de um vermelho atraente e salto agulha, ela já era minha parceira de dança por muito tempo, já não doía seu sorriso ou seu olhar, ela era minha amante. E assim, você se fez outra memória comigo.

"My fingers claw your skin
Try to tear my way in
You are the moon that breaks the night
For which I have to

Howl, howl"¹

¹Music of Florence Welch / Paul Epworth

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