Sobre vozes e sorriso'

Derluh Dantas
Sorrindo ao lembrar o som da sua voz,
O ritmo gostoso que ela faz.
A melodia que me provoca os sentidos.
O que será que faz agora,
Além de estar aqui em pensamentos comigo?

O tom de sua pele se parece com o mar,
Profundo, misterioso e atraente.
Seu tato se parece o vício,
Aquele inebriante que me perturba o juízo.

São rimas pobres em sentimentos raros,
Déficit tolo de um amante sem talento,
Inspiração sincera de um ser em total encantamento.

Declamar saudades!?
Como não falar?
Já tem um tempinho sem seu tom, seu beijo, sua voz.
Sem esse prazer em te sentir, escutar.

Somos diferentes em geografia, química e filosofia.
Enquanto eu desejo a profundeza do oceano,
Você prefere a firmeza do asfalto.
Não sei se por preferência ou medo.
Amo cada defeito seu que conheço.
Exceto essa distância geográfica e o medo no amar!

Olhar no salão'


Derluh Dantas
No outro canto da sala aquele olhar foi notado. “Por que não desviava, o que havia de errado?” - Pensou Cristina. Ela começou a se incomodar com tamanha ousadia de ser observada daquela maneira. Levantou-se e tímida foi se olhar no espelho, talvez algo estivesse fora do lugar em sua maquiagem, em seu vestido roxo ou no penteado vintage. Aparentemente, estava tudo impecável. Por que, então, o olhar insistia em persegui-la em cada passo, em cada tentativa vã de desvio? Cristina resolve apenas fingir ignorar. Foi ao salão maior e no balcão improvisado para aquela festa pediu sua dose dupla de Campary. Bebeu aquele líquido quente e rosado a goles pequenos e constantes... Ao terminar a dose, pediu outra e ficou ali tentando evitar olhar o outro canto do salão, sentia que ainda estava sendo observada, seguida, analisada. Será que fez algo que não se lembra?
Cristina foi àquela festa no intuito de reencontrar amigos, mas sem grandes sucessos. Era um jantar organizado por uma antiga amiga, que até o momento não havia conseguido nem ao menos cumprimentar. Como tudo parecia estar entediante e o olhar não a deixava a vontade, decidiu por ir embora. Quando pegava sua bolsa no balcão, levantando-se para sair, o olhar se aproximou e perguntou: “Cristina?! Não se lembra de mim? Sou a Marta, sua colega de quarto no tempo de faculdade, éramos muito íntimas...” Cristina sorriu para àquela bela mulher em sua frente e riu por sua memória tê-la pregado tamanha peça. Conversaram sobre o passado e resolveram não estender o conto... Trocaram contatos e se despediram com um beijo úmido na face e um tocar de mãos que fez tremer em um arrepio quente o corpo de ambas.

Continua...

Banho quente'

Derluh Dantas
Depois de um banho quente, pouco molhado e ainda pelado deito-me na cama. Deixo os pensamentos serem levados pelo vento que sopra lá fora. Enquanto me perco entre tantos devaneios, ele vem lentamente e me beija o pescoço, se deita ao meu lado. Começa a passar a mão em meu corpo, beija-me a face, o queixo, os lábios. Acabo por me entregar de corpo e alma aquele homem, aquele ser que na pele tem o contraste da cor, do gosto, do calor. Nossos pelos se misturam ainda tímidos, mas intensos. Nossas línguas umedecem-se uma com a outra. Salivas, carícias, declarações. Contato de pele. Abraços apertados fazem o desejo de simbiose aumentar, é como se pudéssemos contrapor a teoria de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Nossas mãos vasculham cada centímetro da pele do outro, do prazer, do tato. A água do banho em meu corpo se evaporou, foi na língua, no atrito da pele, no corpo do outro. Ele me invade, nossa primeira conexão interna... Nossos corpos se ligando à alma. Movimentos, ritmos, sussurros e murmúrios. O pescoço dele se torna meu melhor gosto. Lambo-o, beijo-o e mordo-o. Depois de alguns minutos desse vai e vem, desse dentro e fora de mim... Ele me permite invadi-lo. Sua primeira vez a ser tocado por dentro. Úmido, quente, aperto. Devagar e lentamente retribuo a conexão. Lá dentro explodo em frenesi de prazer e êxtase. Prazer!

Agora, estou em minha cama sozinho, suado e manchado de prazer... Agora um novo banho, dessa vez, banho frio!

Madrugada de terça'


Derluh Dantas
Madrugada. A lua se faz altiva e bela, clareia o concreto da noite. Uma impaciência se afigurou em meu ser. O copo que caia se quebra em pequenos cacos, me fere os dedos. O sangue que escorre parece um fluxo de sentidos. Minha inspiração se faz lenta, perplexa, desaparecida. Algumas palavras surgem: mar, pele, beijo, negro. Outras tantas configurações se formam, mas são levadas leves com o soprar do vento. E a lua como testemunha de tantos desejos não denuncia nada. Fico mais uma vez em profundo silêncio... Pensamentos... Inspiração adormecida!

Varanda de casa'

Derluh Dantas
      Da sacada de casa os olhares se cruzaram... Um ficou tímido e continuou confuso seu caminho de volta pra casa... O outro, da sacada sorria sem entender o que fora aquele olhar, ficou encantado imediatamente. Dúvidas povoaram os pensamentos, talvez fora um sonho que aconteceu, um delírio enquanto estava acordado. 
     Outro dia, uma tarde qualquer fora à rua, como o inesperado daquela noite, os caminhos mais uma vez se cruzaram, rápido, imediato... Mas, os olhares se encontraram, provocaram mais sorrisos e um carinho especial à alma. Foi pedido aos ventos que o encontro se repetisse novamente. Em casa, o vento ouve mais uma vez seu desejo, seu lamento... Qual o nome do ser que guarda aquele olhar, aquela magia atraente? Eis que o mundo virtual sopra a imagem, o olhar é reconhecido. Ambos começam uma conversa cheia de pudores, idas e vindas. Há impossibilidades, proibições, censuras muito bem definidas. Porém, algo maior surge daquele encontro: o desejo!

[Continua...]

Embolia de vida'

Derluh Dantas
Ela era casada, mas fazia tempo que não sentia paixão ou prazer. Sua vida havia se tornado uma rotina chata e cinza, sem beijos à noite, nem mesmo abraços furtivos na cozinha. Era tudo metódico e sem emoção, sem sentidos. Aquele desconhecido com seu olhar penetrante a fez duvidar se havia vida em seus dias. Ele a convidou para uma visita em seu atelier, que não por coincidência, também era seu recanto neste mundo. Ela decidiu arriscar aquele encontro, colocou um vestido vermelho que nunca teve coragem ou oportunidade para usar. Decidiu pedir ajuda às irmãs: maquiagem, lingerie, penteado, saltos altos. No atelier de seu mais novo suspiro de vida, ela estava nervosa, duvidava se realmente deveria se permitir aquilo, nunca havia traído seu metódico marido. Ela vasculhou a sala com seus olhos, caminhou, comentou sobre alguns quadros em diferentes cavaletes. Quando deu por si, resolveu admitir que desejava aquele homem. Ele disse que ela havia se precipitado, quando ela constrangida tentou sair correndo pela porta, ele a segurou pelo braço e fez que seus passos fossem ao encontro de seu beijo. Ela o beijou com toda paixão que havia esquecido caber em seu ser. Quando pensou em se entregar lascivamente àquele homem, lembrou-se do marido e foi embora na carreira. 

Uma pessoa fiel só pensa em trair sua companhia, quando essa companhia já não se faz mais presente, vívida, real... 
Rotina de ausências e friezas, não faz bem a ninguém!
Que venham as surpresas - sem precisar trair ninguém...

TiRiri e minha segunda em dança'

Derluh Dantas
O som em volume máximo... Acordei cantando músicas do alto, coisas do terreiro lá de baixo. Pés no chão e corpo nu, dançando com remela nos olhos. Banho frio e mais samba. Uma roda de música e vontade. Coisa do querer e do cantar. Quero rodar com a menina de saia rodada, com os erês no terreiro - Dançar. Vamos gritar de pés no chão e sem poeiras ao coração. Acordei com esse samba a rodar e em silêncio fiquei a desejar todo o dia... A noite anuncia o querer mais forte, gritar. Onde está aquele Xangô de belos braços? Aqui precisando de sua coragem... Vem me tirar pra rodar!

A subir no pé de caju... E correr solto por aí. Girar na roda e na cantiga, ser mais livre que a menina. Voar por entre o som dos tamborins. Ser poesia em brisa... 
Música, cantiga. Louvor ao tempo de correria. Sabedoria. Dança de jovem bisavó. Coisa da antiga. Cantiga. Samba de roda e Bonfim. Vem no canto, Tranca Rua e Padilha, vem fazer dança em mim. Canto de reza, fé e louvor. Encanto. Lua e sereia... Sagrada por natureza. Pura alma de homem livre a amar, cantar, beijar. Desejo enamorar. 

Amigos, irmãos, andor'

Derluh Dantas
E toda vez que me perdia e pensava em desistir, umas palavras amigas me surgiam, como magia ou ligação intergaláctica... Era um anjo em forma de presença, afirmando do alto do poço, que não era hora de desistir, era momento de resistir para tão logo sorrir de novo. Conhecemo-nos pelo ciúme, pela dúvida, insegurança e o medo de perder... E por esses medos misturados a tantos outros sentimentos, empatias, magias e companheirismo, a amizade se solidificou, se tornou trampolim do amor, se transformou em asas únicas de alento e acalento. Ele costumava aparecer justamente quando as lágrimas secavam - isso no começo, hoje se some por um tarde a saudade já se faz quase insuportável. Viramos confidentes... Por desejo e amor, viramos um tanto mais que amigos, nós nos tornamos irmãos, almas-gêmea daquele tipo que a distância só existe geograficamente. Pensei em lhe fazer uma poesia – me faltam rimas raras... Se soubesse cantar seria um canto lindo, se soubesse pintar uma linda gravura à tinta óleo e em relevo... Mas, o talento que me falta às artes, sobra nele – é dança, ritmo, teatro, doçura e mais encantos. Confesso que é meu anjo nessa zona de vida... Ressalvo que não somos putas, raro às confusões, abstrações e ironias... É aquele amigo que gosta e ama para além da minha insuportabilidade congênita - acredito. É amigo de paraíso, dor, andor e cor! Meu querido, meu amor-amigo, irmão...

Delírio [ou] Prenúncio'

Derluh Dantas
Toda aquela ansiedade nos lábios, nos olhos, fora provocada pelo telefonema que não recebeu e por não terem atendido sua ligação. Qual erro ela cometera dessa vez? Tentou refazer os passos em sua mente, mas nada parecia motivo suficiente para causar aquele aparente abandono. Passou o dia na cama, era 21h e ela quis dormir um pouco mais. Depois de muitas lágrimas e o quarto escuro, resolveu tomar um banho em frente ao espelho. Enquanto sentia a água fria despertar seu corpo, arrepiar seu pelos, olhou no reflexo os seus olhos ainda marcados pelas lágrimas da noite. No espelho se viu como uma mulher bela e molhada, ela acabou sorrindo para si mesma, logo ficou tímida, achando que aquele sorriso fora loucura de sua mente. Olhou em volta e estava sozinha, apenas o chuveiro, seu sorriso, seu corpo e seu próprio reflexo no espelho. Como sabia que a loucura a libertava de algumas dores, resolveu se entregar aos delírios de sua criatividade e pensamentos. Deixou que o reflexo tomasse corpo para fora do espelho, mas o reflexo mudou, se transformando em outra mulher. Uma ruiva, de seios empinados, barriga lisa e um lindo quadril. Essa mulher que agora se aproximava para o banho, tinha os olhos de lince, a pele morena, como a personagem Iracema, aquela “virgem dos lábios de mel”, no caso em questão, a ruiva de nada parecia inocente. Pegou-a pela cintura, dando-lhe um beijo ainda mais molhado do que o chuveiro conseguia deixá-la. Aquele beijo a fez tremer por dentro, desejou que aquela mulher a possuísse como uma virgem, deixou-se levar pelo reflexo mais sedutor e experiente. A ruiva, enquanto beijava-a de língua, tocava-a delicadamente em todo seu corpo. Apertava os seios, puxava-a para mais próxima de si. A mulher que havia entrado triste naquele chuveiro, agora em sua fantasia era tocada por uma outra mulher. No espelho o reflexo era daquela bela morena a desvendar seu próprio corpo com caricias, mãos, dedos... O chuveiro de água fria, se tornou agora uma torrente quente de delírio e tesão. Na mente de Cristina, a ruiva a lambia os lábios, o pescoço, mordia-a levemente os seios, o bico, lambia a cintura, descia ao umbigo e voltava a beijar os lábios, os grandes lábios, os inferiores, ela apertava o quadril. As duas começaram um possuir mútuo enquanto o chuveiro molhava aquelas ninfas. Porém, a umidade que sentiam era a de dentro para fora, da luxúria que se entregavam àquela cena. Ao chegar ao nirvana, Cristina soltou um urro e se entregou ao chão molhado, no reflexo a ruiva sorria nua se despedindo de sua amante. Cristina se arrumou, colocou o seu vestido vermelho, sua melhor lingerie negra e saiu para se divertir. No bar, onde parou para um drink de coragem, ela viu na extremidade do balcão uma mulher que mais lhe parecia uma miragem, era a ruiva de seu banho sorrindo para ela como no reflexo do espelho...

Em seu álbum virtual...

Derluh Dantas
Olhando suas fotografias nessa madrugada insólita, eu tenho desejos maiores de você. Ver seu sorriso em imagens tão distintas me faz sentir uma vontade dos seus beijos. Não consigo dormir, ao fechar os olhos fico a imaginar a textura de sua pele contra a minha, o suor de nossos corpos em movimentos intensos. Fico imaginando morder seu pescoço enquanto nossos corpos provocam atritos um confinado ao outro. Quero sentir o gosto de sua pele, sentir o tato de seus dedos a explorar meu corpo. Ouvir seu sussurrar e seus gemidos bem próximo aos meus ouvidos... Quero seus lábios, sua língua, ao alcance de minha boca... Quero sentir nossos fluídos quentes, trocas de saliva. Quero me entregar a você ao mesmo tempo em que você por completo se entrega a mim. Meu corpo começa a buscar o seu e tudo que encontro é o travesseiro, abraço-o com meus braços, minhas pernas, gemidos... Como desejo você aqui comigo, para saciar cada calafrio, cada explosão e sussurro, para valer a pena esse gozo sozinho! Quero me inundar em nosso prazer, por mais um segundo, minutos, pelo tempo que Eros nos permitir...

Relicário Rubro'

Derluh Dantas

Cerejas vermelhas. Intenso rubro e molhado, carmim. Vontade intensa de lábios, desejos de mim. Toques e mordidas, sabor salgado, suor e arrepios. Derme, entradas, curvas... Invasão lenta, saída e entrada. Estocada mais rápida. Chupões, marcas, arranhões e sussurros. Pedido de mais, agora urra, animais. Pelos ralos, pele lisa, molhada, entrada e saída. Metidas. Mais. Apertões, arranhões, tanto chupões. Pescoço, nuca, nádegas, lábios e línguas. Dentes, mordidas. Engasga, lacrimeja. Um pouco mais. Profundo, entrada e saída. Metidas. Ais. Mãos, pés, pernas... Entrelaces, enlaces, amassos e mais. Intensifica. Perde-se a linha. Metidas, mãos... Ais. Grita. Urra que agora vai. Não sai do lugar. Mexe, remexida. Intensifica mais. Dentro inunda, transborda. Nirvana. Nos lábios, garganta e na língua sabor amargo, suor. Olhares. Descanso e promessa de reprise. Dez minutos de descanso. Morangos, leite condensado, salivas! Cerejas vermelhas. Intenso rubro e molhado, carmim. Beijos, lambidas. Palavras lindas, conchinha. Dormir!

Personagem de mim'

Derluh Dantas
Acende o cigarro e traga com uma gentileza tão mágica que faz o sólido se tornar fumaça e brisa. Por um minuto se perde nas figuras psicodélicas que a fumaça faz enquanto baila contra luz, enquanto voa para cima... Se desfazendo em outro vento ao se chocar no telhado antigo e na janela de madeira pintada de um azul turquesa. Seus pensamentos vão do mais profundo oceano à poça de lama que pisou na volta para casa, suja, rasa e incômoda. É uma figura comum olhando-se de fora e de relance, mas seus olhos castanhos têm um brilho que não se encontra em muitos olhos por aí. Em seus pensamentos o mundo se torna algo intimamente diferente, mágico e belo. Em seus movimentos há uma despretensão silenciosa de quem assumiu para si que o mundo começa a mudar de dentro de si. Depois de expelir a fumaça densa de seu cigarro, pega a xícara manchada na mesa da frente e toma em goles lentos e sutis o café ainda quente, forte. Seu melhor amigo é uma barata que a tudo assiste e lamenta: Seus irmãos desejam apenas adaptar você na infelicidade incoerente em que eles mesmos criaram e vivem...

Proposta de Cristina'

Derluh Dantas
la estava bêbada, lamentava sobre os homens que havia decepcionado seus sonhos e seus desejos mais secretos... Enquanto algumas lágrimas caiam, Cristina se aproximou e lhe ofereceu um lenço azul com pequenas manchas esverdeadas. Cristina compreendia que aquela bela mulher além de ébria, sofria de desilusões amorosas. Vendo naquela cena dramática a oportunidade de desvendar e realizar seus desejos mais ousados e libidinais, ofereceu seu ombro quente e sua amizade sincera. Cabia à outra apenas aceitar o afago da estranha tão atenciosa. Elas saíram daquele bar e foram para o apartamento de Cristina, canto completamente atípico, de cama redonda, macia e tons em vermelho, um tom quente de paixão... Cristina sabia conduzir a virgem iniciante àquela prática com total surpresa ao expectador mais incrédulo e experiente. Cristina perguntou se a outra desejava descansar, com a resposta em afirmativa certeza, levou a bela mulher à sua cama. Lá começou por despi-la lentamente e de forma que a cada botão aberto de sua blusa, a mulher se entregava um pouco mais a experiente amiga que a iniciava em prática tão sensual. A mulher começou a se tornar pouco mais cônscia de toda aquela situação, assustada e completamente envolvida, optou por aceitar o assédio de sua mais nova amante. As duas começaram a se beijar, enquanto os lábios e línguas se tocavam quentes e úmidos. A mais experiente a cada toque nos seios, no bico, na cintura, no corpo da outra, arrancava, daquela mulher sedenta de luxúria, sussurros de ansiedade e prazer. As duas começaram por se envolver num clima de simbiose e entrega, eram lábios úmidos, diversos e entregues, em contatos, em carícias, em atritos... Eram seios, mãos, pernas, tudo em um movimento rítmico de inebriante delírio a ambas as mulheres. Os seios se chocavam, as mãos introduziam-se no ser uma da outra, os lábios cada vez mais úmidos e um urro de nirvana ecoou no quarto vermelho e quente. A mulher, que antes era ébria e tristonha, descobriu naquela prática surreal às suas experiências um lugar para ser completamente sóbria e feliz.

Devaneios em banho'

Derluh Dantas
Depois de um dia de sons e músicas... Ao tomar o banho da madrugada, optei pelo silêncio. Durante o banho, deleguei a água que fizesse sua própria melodia, preferi o banho frio, para o único som ser o da água percorrendo o meu corpo e se chocando ora suave ora abrupto no piso do banheiro. Deixei que o silêncio percorresse meu ser como a água percorria meu corpo... Nesse som tático e molhado, vieram pensamentos nada pueris... Um ser de sorriso lindo invadia o chuveiro, me puxando para perto de seu corpo nu. Enquanto meus pensamentos tomavam formas de luxuria, meu corpo respondia ao calor que saia de dentro do meu ser... A água fria ao invés de acordar-me para a realidade, agora se tornava cúmplice daqueles pensamentos impróprios, gentis e extremamente sedutores. Meu visitante beijava-me com volúpia, o chuveiro circundava nossos corpos juntos. Fiz de minhas mãos e da água que caia o corpo e as mãos do meu delicioso intruso... Em minha mente, nos tocávamos, nossos corpos se esfregavam, os beijos eram os mais intensos que eu poderia sentir e o chuveiro testemunhava aquele nirvana em delírio... Banho, gozo e prazer .

Nosso estranho amor, Carmim'


"Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos, mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor"


Nosso estranho amor...

Música: Nosso Estranho Amor
Composição: Caetano Veloso
Interpretação: Caetano Veloso e Maria Gadu
Ao vivo
Ano: 2011

Tentativa em cor amarela'


Derluh Dantas
Uma linha amarela
Traçando uma lágrima pequenina
Um sentimento intenso
Como tinta solta e cuspida
Em aquarela meio colorida,
Sim! Tinta, pincel... – Pinta!
Pintura ainda indefinida
Rabiscos e indeferida poesia,
Forma em trova, cantiga,
Barroco? - Sem escola literária decidida
Miscigenação e contradição – ironias
Sorriso, cansaço, imagem antagônica...
Sofrimento e prazer imenso.
Momento de inspiração Severina
Sem prosa ou verdadeira rima,
Aqui se cospe saudade...
Tentativa de saída!
Saudade amarela e sem teoria!

Desejo Autobiográfico'


Derluh Dantas
Pegou a mochila e decidiu que já era hora de ir embora... Sabia que naquela casa todos o amavam de verdade, mas a casa já estava sufocando seus sonhos e o excesso de amor prendia suas asas. Ele saiu com o coração apertado e um tanto de lágrimas represado em seus olhos, algumas teimavam escapar pelo nariz, mas ele tentava manter-se firme em sua decisão: ir embora. Saiu pela porta enquanto sua alma despia-se, trocava de pele, mudava de cor... Nos primeiros dias pensou em voltar para casa, a grana estava sumindo, a grama já não existia no jardim, nem mesmo havia jardim. Todas as noites ele pensava onde estavam todos aqueles amigos que diziam “para sempre”, perguntava-se onde estava o otimismo que ouvia lá fora, já estava se desesperando. Em meio ao completo caos, parou por um segundo diante do espelho, era manhã, uma manhã de segunda. Ele saiu daquele apartamento apertado e foi em busca de seu verdadeiro emprego, não conseguiu. Então, à tarde, foi espairecer junto ao mar e teve uma ideia  compor suas poesias e arriscou publicá-las. Depois de algumas tentativas frustradas, lançou seu primeiro livro meio autobiográfico – contos, crônicas, poesias, algumas rimas... Foi assim que me imaginei um dia!

Dois ao rio'


Derluh Dantas

Ele estava à beira do rio com o olhar perdido pelas correntezas que pareciam levar para longe todas as suas dúvidas, quando:
- Moço, o que perdeu em meio ao nada para estar buscando no vento explicações? – Outro jovem o perguntou, fazendo-o despertar de seu ostracismo.
- Como? – Sorriu sem saber o que responder e se virando para conhecer a face de quem o interrogava de maneira tão distinta.
- Eu perguntei o que faz aqui sozinho olhando o vento e ouvindo a paisagem? – O rapaz sorriu de admiração pela imagem que via e pela sinestesia que sentia por aquela cena do belo jovem parecendo um arbusto ciliar, de olhar perdido...
Os dois iniciaram um diálogo sobre o sentido das formas, das cores, dos próprios sentidos... Sentido e palavras que qualquer outro, além dos dois jovens, não compreenderia. Era como se aquelas almas estivessem predestinadas àquela margem do rio... Ambos se entregaram as palavras que foram sentidas e acabaram se tornando personagens únicos de um conto de amor que as palavras não poderiam expressar! 

Conto esse que ainda não conseguiu ser escrito...


Adendo solicitado pelo Carmim: ... e eles viveram juntos por muito tempo, sem palavras que conseguissem narrar à intensidade daqueles personagens depois do encontro... Nem tudo precisa ser dito, há coisas e sentidos que só o sentir explora e permite.

Poesia azul em verde'

Derluh Dantas
Uma poesia tímida me circunda,
Faz carícia e provoca as brisas,
Quer sair e gritar ao mundo...
Quer falar de amigos e suas maravilhas.

É um desejo leve, porém profundo
Deixar a partida e celebrar o reencontro,
Cantando por cada canto
O quão bom é ser amigo, verso e rima.
Pena que o talento me falte,
Infelizmente, passo longe de ser um tipo artista,
Tenho alma e anseio, deveras sinto,
Contudo, não sei pintar de forma digna essa poesia.

Tudo isso provocado por um amigo,
Que pela vida sumiu
Pelo acaso ressurgiu à minha trilha
Falar de boas brisas seria clichê no meu caso
Cantar poesias um risco sutilmente amargo...
Com as palavras que escapam por aqui
Deixo um abraço apertado ao amigo Jon
E em seus braços sorrio ao mundo bom!
Revelando em timidez, que são pobres e sinceras rimas!
Versos de uma noite em que a tristeza surgiu,
E o bom Jon com sua companhia a fez sair de mim! 

Invasor'


Derluh Dantas
Christian estava deitado nu em seu quarto, livre em seus pensamentos e projetos sobre o futuro. Enquanto ele divagava sobre outros planos, a porta de seu quarto abriu lentamente e alguns passos silenciosos se aproximaram de sua cama. Christian permanecia imóvel em sua cama e sua alma flutuava por outros campos... Sem perceber, aquele peso foi lançado sobre seu corpo sem que ele pudesse se mover, talvez pelo peso, talvez pelo susto. Ele ficou estagnado, apenas com a respiração ofegante... O invasor, completamente despido de roupas ou pudores, segurava com uma mão sua boca e com a outra acariciava o corpo de Christian em atrito com a cama e os lençóis não mais tão inertes.  Aquele corpo parecia uma massa de energia que lhe provocava um desejo assustador, Christian queria ser possuído, mas não precisava pedir ou de palavras para que aquilo ocorresse. Seu agressor desejava penetrá-lo sem autorização, mas com muito prazer para ambos... O invasor mordia a nuca, lambia a orelha e esfregava seu corpo contra o corpo do outro, ambos já estavam completamente envolvidos em um êxtase de prazer e suspense... Christian queria saber quem o provocava desejos tão adormecidos... O intruso desejava sentir como era estar completamente ‘dentro’ do Christian... O invasor antes de penetrá-lo fez questão de sentir cada gosto daquele belo corpo com sua língua e suas mãos. Christian preferiu não se opor e afundou seu rosto no travesseiro. Mesmo com toda curiosidade por saber quem o despertava tamanha luxúria, ele preferiu aceitar as regras não ditas, mas impostas daquele jogo sedutor. A cada tocar de língua daquele homem, fazia os desejos mais íntimos de Christian se expressar em arrepios e suspiros profundos... Então, enquanto a “vítima” se encontrava completamente entregue e indefesa aquela maravilhosa armadilha, o outro o penetrou, devagar... Penetrou-o com prazer e com pequenas mordidas nas costas e na nuca daquele belo homem domado na cama, agora, desarrumada. Ao ser completamente invadido pela primeira vez, Christian então alcançou o nirvana do prazer e melou por completo seu colchão... Despertou alguns minutos depois sem saber se aquilo fora real ou apenas um sonho, apenas tinha como prova os lençóis melado, a cama completamente bagunçada e uma rosa rubra na penteadeira do quarto!

Palavras ex-piradas'


Derluh Dantas
Poesias e rosas vermelhas, por que fez isso? Poderia ser sincero desde o começo e dizer que apenas queria que eu fizesse você gozar algumas vezes, sem compromisso. Imagino que algumas pessoas devam ter lhe dito que eu era uma moça frágil e alguns invejosos que eu era apenas uma vadia dissimulada, mas foi você quem me procurou - o que não justifica as coisas que me fez e disse. Se você começou tudo isso, por que não disse logo o que queria, sem rodeios ou tantas rimas? Eu sou humana como você, apesar de no lugar desse trambolho que quanto maior mais os tolos têm orgulho, eu tenha uma vagina, isso não me faz menos ser do que você. Sim, acreditei naquelas juras de amor... Minha intuição feminina? Talvez, exista realmente, mas há canalhas, como você, que consegue dopar uma mulher e depois dizer que a culpa é dela por acreditar em promessas tão bem articuladas e falsas. Não vamos mais gastar nossas palavras um com o outro, se quer uma vadia, procure por aqueles que disseram que eu era boa de mais para lhe suportar, ao menos esses são sinceros e sensatos... Quanto aos que me chamaram de vadia dissimulada, deixa pra lá, a loucura um dia se volta contra seu portador!

Um clichê qualquer.


Derluh Dantas
Três horas da manhã... Não consigo dormir e minha mente vagueia por vales coloridos, belas relvas e boas músicas. Um pensamento entra por baixo da porta e ilumina os olhos, fazendo algumas lágrimas rolarem pela face. Nesse pensamento uma certeza clichê me ocorre: cada existência nesse mundo, por mais comum, simples ou complexa é única, exclusiva... Cada passo dado é uma experiência distinta, ainda que se assemelhe com outros momentos, não há nada de total semelhança. 
Pois, eu já apanhei na rua pela forma de andar, já gargalhei por gases que escaparam fazendo barulho enquanto eu sozinho ouvia Bethânia, já chorei por um filme que os outros acreditam bobo... Já amei e me decepcionei tantas vezes e quis mesmo morrer em algumas delas, mas não morri... Sobrevivi para tantos outros cantos, sentidos e poesias. Conheci pessoas que me provocaram belos sentimentos e outras que me fizeram querer ser mal, assassino... Porém, não matei ninguém. 
Eu já tive vontade de abraçar um desconhecido na rua e dizer que não precisava abaixar a cabeça, tudo iria ficar bem. Tive vontade algumas vezes de parar e olhar nos olhos daquela criatura cabisbaixa e dizer que ela é linda, não importa o que os outros digam, nem mesmo eu! 
Eu só queria mesmo dizer que somos vitoriosos, ainda que o julgamento seja contra, estamos vivos e esse dom foi nos dados em particular para compartilharmos apenas a quem for de interesse e de bem! Uma bobagem isso, mas foram essas palavras que me surgiram nessa madrugada de sexta... 

Somos belos do que jeito que somos... Sim, alguém nos admira desse jeito e está na hora de sentirmos orgulho das tantas coisas que passamos até aqui e adiante... Sendo assim:
- Namastê! - A divindade que há em mim saúda a divindade que há em você...
Sorriso!

Epahey Oyá!

Derluh Dantas
O som tocava no terreiro. Ela ouviu de seu quarto o atabaque e batuque, pulou a janela de pés descalços e com vestido e cabelos soltos, foi em busca do som, do furdunço. Lá chegando eram homens e mulheres negros, todos celebravam em som e dança o orgulho de sua fé e cultura. Era dia de Iansã e a moça se encantou com aquele encontro. Ela foi para roda de samba, de olhos fechados dançou como nunca se permitira... Era como se a deusa daquele povo a tocasse em luxúria, divindade e fantasia. Enquanto seus pés tocavam o chão e seus cabelos iam com o vento, seu corpo bailava a ciranda daquele povo... Seu corpo misto era o encontro de muitas culturas e etnias. E como toda moça bela e livre, sabia que casamento era um cabresto da sociedade para mulher, decidindo para si e para o mundo que isso não queria, não lhe cabia. De escolha própria, decidiu ser moça livre para toda a vida... Assim como a deusa que agora lhe encantara, Iansã, mulher de liberdade, metal e magia!

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