Carta aberta!

Nazaré, 24 de julho de 2011

À sociedade quem ainda não sei quem são!

Sou um ser vivo, tenho todas as necessidades básicas a qualquer mamífero desse vasto planeta Terra. Sou do sexo masculino, porque nessa categoria me enquadrei quando me disseram que ter um pênis era ser masculino, fui criado desde então com esse sexo. Tenho espinhas, espirro às vezes, tem momentos que tenho febre e fico doente. Tenho dores de cabeça pelos motivos mais variados, acho que comum nessa idade. Sim, tenho 23 anos de idade, assim contaram meus anos de vida, desde que como bom mamífero que sou sai do ventre materno. Muitas pessoas me conhecem superficialmente, sabem meu nome ou se lembram de mim de algum lugar, possivelmente. Outras pessoas nunca me viram, nem têm noção que algum dia eu existi, acho que deve ser assim com quase todo mundo. Não sou nenhuma celebridade nem tenho essa pretensão. Importante para ressaltar, assim como todos os seres humanos de maneira geral sou/vim de um lugar, eu sou brasileiro, nordestino, baiano. A cor da minha pele é um marrom claro, ou negro gasto, branco sujo, eu não sei ao certo. Tenho um físico e fisionomia de sujeito comum, que pode ser encontrado em qualquer esquina, exceto se você se encontrar na Ásia. Tudo bem, sujeito comum para brasileiros da zona norte do país.
Não sou cristão, apesar de que em todo lugar que olho, que me viro, desde criança, eles quiseram me impor essa fé. Mas fé não se explica, como alguns devem saber. Sempre me incomodei com essa moral, que chamarei aqui de excludente e ultrapassada. Lê-se ultrapassada não por ter tido um tempo que foi bom, cabível, apenas a tirania de um tempo foi aparentemente justificável pela necessidade de estabelecerem regras a uma multidão que acharam estar perdida. Voltando a religião, fui criado no leito do ser cristão, da moral divina, do divino espírito santo e imaculado que julga o que faço pelas bandas daqui. E sempre me valeram de um livro que também intitularam como sagrado. Nesse livro tem TUDO que não deve ser feito, esqueceram de ler a parte do que deve ser feito. Ou melhor, sabem que devem julgar! Por um período curto de tempo da minha vida achei que só existisse essa religião, me ensinaram a pensar assim. Um dia abri os olhos e percebi que existia uma diversidade de crenças, posturas e fé. Não me ofendo em ser confundido com ateu ou cristão, verão que não me ofendo muito por ser confundido. Ressalva-se aqui que eles são muitos, não ficarei ditando quem são, mas é possível que é fácil conhecê-los.
Como todo humano, eu acredito em algumas coisas. Outras simplesmente eu tenho fé e por elas seria capaz de ser morto, não de matar. Eu tenho medos, vontades, desejos. Às vezes dou risadas que parecem incomodar o silêncio, outras apenas eu choro quietinho em meu canto. Tenho vontade de gritar, não sempre, mas é uma vontade intensa que por certa norma quase nunca atendo ao desejo. Quando me arranho ou algo corta minha pele eu sangro, o sangue é vermelho quase vinho. Faço exames médicos e auto-avaliação quase que constante. Como qualquer ser vivo animal eu envelheço e possivelmente sou vulnerável à morte. Sou intediantemente normal. Tenho raiva, às vezes fico querendo que as pessoas simplesmente sumam do meu caminho. Tenho medo da solidão, mas às vezes gosto de ficar sozinho. Escrevo com certa freqüência e tenho medo de ler minhas palavras depois... Tenho comportamento como qualquer humano que já conheci.
Mas voltando ao que disse logo a cima: normal e norma. Aqui começa meu dilema. Eu sou normal até o ponto que me anulo, me aniquilo, me escondo entre as pálpebras, becos, quarto e lábios. Eu tenho um defeito, algo abominável segundo o livro sagrado. Esse mesmo livro foi em vários momentos da minha vida usada para dizer que não posso ser quem sou: Humano. Eu não posso desejar meu semelhante, eu não posso amar, não posso carregar no dedo um anel de compromisso, não posso ter filhos, meus pais precisam fingir que para mim o namoro não existi. E pior, eu não consigo ser outra pessoa. Eles não me ensinam isso. A única coisa que eles me ensinam a mentir, ser hipócrita, esconder aquilo que realmente eu sou: Humano!
Hoje eu fui à casa de parentes, minhas primas estão namorando, um orgulho para todos. Dia desses a minha irmã falou que tinha algo importante para dizer, todos riram achando que ela falaria do novo namorado. Em algumas tarde e noites fico vendo a TV, lendo noticias nos jornais e percebo que estamos sendo mortos, pelas justificativas mais cabíveis que encontraram no dito livro sagrado ou em outros anais. Ouvi dizer que se formos aceitos como somos logo todos serão punidos pelo “nosso erro”. Eu ouvi que agora estamos querendo dominar o mundo, agredi-los, virar a mesa. É como se estivéssemos cansados de apanhar e agora só queremos agredir. E pior, estamos conseguindo, saímos às ruas com nossos saltos plataformas, invadimos a TV, estamos em todos os lugares chocando a moral, aterrorizando o mundo com nosso estilo devastador. Eu só penso o quão humano eu sou.
Justificaram recentemente que eu não preciso me expor, apenas tenho que aceitar a exposição dos outros e esperar. Um dia o mundo irá mudar como um passe de mágica, alguém acordará e dirá ser filho de alguém que ninguém viu e nós seremos aceitos, ou não. Seremos caçados de novo, apanharemos antes que pensemos em agredir.
Não tem algo errado?
Eu não quero chocar ninguém, muito menos agredir... É minha vida, não estou dizendo o que devem fazer ou não das suas vidas, mas eu não posso viver a minha porque ofendo? Não consigo entender o que segurar a mão de meu semelhante tem a ver com violência ou bizarrice. Falaram que eu devo me isolar num armário pequeno, sufocando todo meu desejo de ser visto, de ser amado porque eu posso sofrer. Não quero sofrer aqui dentro, não posso me machucar pela ignorância dos outros, ou melhor, intolerância. Sou humano e quero meu direito de ser.
Estou cansado de olhares à minha volta serem acompanhadas de comentários... mas que sejam, eles têm o direito de pensar o que quiserem, porém não quero usar disso para negar o meu direito de existir, me expor, sim! Eu quero poder colocar fotos em redes sociais, como vejo várias de cristãos e não-cristãos colocando com os seus amados. Estou cansado de violência física e verbal ser abertamente discutida, vivida, exposta, às vezes aceita e eu não, “meu estilo de vida”. O que me faz ser tão diferente de você? Caso eu não falasse de minha “anomalia”, caso você não percebesse, eu poderia ser como você. Porém, por amar, que você chama diferente, eu sou menos digno de ser gente? Tenho medo de acabar me matando por não caber nesse mundo, mas antes eu preciso tentar, ainda que me matem... Eu não posso ficar em silêncio quando o medo se torna comum e o amor é “abominável”. Não consigo entender essa tirania do padrão, do normal, do aceitável. Ninguém quer a banalização do crime aqui, não estou falando de pedofilia, estupro, nada do tipo. Estou falando de amor entre pessoas que se amam, que por algum motivo que nem “vocês normais” sabem explicar se amam, se amaram. Estou cansado de sentir medo e sufoco. Eu quero gritar, mas por viver em sociedade não farei isso, em respeito ao espaço do outro. Mas não me peçam para negar ou esconder quem sou, pois agora vocês que estão invadindo meu espaço. Sinto muito, mas sou humano como vocês, também me canso de levar na cara e ficar calado. Não vou agredir ninguém, mas eu quero saber por que eu, nós, não podemos ser diferentes, ter o direito de nos expressarmos como somos? Em que momento um livro sagrado, ou a opinião de um grupo pode valer a existência dos demais? Confesso que aqui minha limitação humana fala mais alto e eu não consigo acompanhar esse que Eu chamarei de irraciocínio!
Por favor, parem de me censurar e deixem eu ser como sou e caso eu cometa algum crime, aí sim responderei como todos vocês, frente a justiça. Mas não queiram me julgar como mal, pecador, abominável apenas por eu ser quem sou!


Atenciosamente,
Derlour Costa Dantas, humano, filho, homem

Um comentário:

Philippe Correia disse...

Participação (correção gramatical) minha, hein??? :P

Mas primo, adorei o post, e defendo você até a morte, pois todos têm o seu direito de ser livre, assim diz a constituição e os DH...
Então, como diria pára-quedas de português, tô contigo e não abro! \o

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