Derluh Dantas
E tudo que viera de seu passado
ancestral, era demonizado por ela. Não tinha a menor ideia de seus avós que
morreram tentando defender sua crença, sua cultura, sua fé. Ela fora batizada
aos seis anos, aos quinze, dizia que por amor e revelação, se converteu em
verdadeira Cristã. Foi-se para outra congregação. Quando menos percebeu, sua
pele não era mais negra, seu paladar não era mais rústico. Acarajé era proibido
ao menos que mudasse de nome e de mãos que o prepare. Agora ela se tornou uma
mulher, chamá-la de negra, dizia que a denegria. Ela era parda, mulher de
família e boa Cristã. Ao ver seu irmão de branco toda sexta-feira, orava
baixinho que Deus a livrasse do mal e ainda gritava pra ele: “sua vida anda pra
trás por adoração a esse demônio negro e Quilombola!” Mal sabe ela que seu pai
sangra do lado de fora, e aquele exorcismo que ela pediu ao pastor outro dia, era
seu pai tentando pedir perdão aos Orixás, era o toque e seu amor ancestral
calado... Afinal de contas, ela só tem saúde e uma história, porque seu pai
acreditou em sua crença e a escondeu na mata de seu algoz, que hoje ela chama
de pastor amado!
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