Uno extranjero y las Conchas'

Derluh Dantas

“Mi Niña Lola”... Quantos nomes poderiam ser o seu. Quantas cores, olhos, sabores... És muita guerra, és muita paz. Um leito brando e um mar revolto. Tu és esse abraço que faz as partes perdidas ou quebradas se juntarem num sentido maior. Tu fazes de minha alma despida, um sentido de liberdade. Calma andorinha, não se preocupe com o enquadre da imagem, não há do que temer nessa admiração, como uma música flamenca, este conto é um canto de dor, partida e vontade, mas não há grades, gaiolas ou grilhões. O tom ainda continua de dança incerta, de esperança, liberdade. Era pra ser sobre uma Concha, era uma adoração para a mulher, mas a poesia ganha vida própria... Não sei assumir as rédeas de uma redação, assim sendo, se faz esta declaração, não pense na frequência que por ventura pareça intenção, apenas permitas fechar os olhos, liberar o toque, sentir. Es triste y ES muy bonito. Es sólo otro cuento, otra canción , el arte a la mitad. Ah, “Mi Niña Lola”.

Em pauta

Derluh Dantas

Eu pensei em romantizar, tentei escrever algo leve e fingir uma beleza que infelizmente não consigo sentir. Claro, as lutas diárias trazem consigo grandes avanços, merecemos “parabenizações”, flores, chocolates, um dia do orgulho, uma parada ou uma semana tem
ática, sim! Merecemos um olhar carinhoso e algumas mensagens de apoio. Merecemos isso, agradecemos e também lamentamos.
Infelizmente, há estas manifestações e momentos “temáticos”, não por vontade, mas como tentativa de reparação, muito insuficiente, bem verdade. É bruto, mas homens, cis, héteros, cristãos, brancos e com boas condições financeiras também sofrem violências por latrocínio, assaltos, brigas de bar ou de torcidas, entre outros tantos motivos. Mas, os outros, estes seres “inferiores” sofrem também por isso e por outros motivos, pelo simples fato de serem como são, coisa que os supracitados não costumam sofrer, mas sim costumam ser agentes do sofrimento alheio.
O número alarmente de violências contra mulher, não exime as violências comuns a serem humanas e desta sociedade, só acrescenta pra si o fato da mulher não ter os mesmos direitos e o respeito que o gênero masculino, bem nascido, branco e fálico representa. Elas também são assaltadas, também podem ser vítimas de uma briga de trânsito, de bar, de torcidas... Mas, acrescente a isso o assédio diário, as cobranças, os mais diversos papeis, os abusos sexuais e psicológicos por simplesmente serem do gênero feminino. Temos as piadas e o machismo, que de tão naturalizadas ainda são desculpas e escape quando o assunto merece o mínimo de respeito e espaço de expressão e consideração.
Mulheres são mortas como os homens, mas elas também são mortas e agredidas por serem mulheres. Isto acontece com lésbicas, gays, trans, negros e negras, nordestinos, pessoas que moram em guetos ou favelas, moradores de ruas, gordos, pessoas com algum tipo de deficiência ou limitação e outras infinidades de características que parecem pressuposto natural [para alguns] de exclusão e apagamento.
A gente, enquanto sociedade, enquanto humanos, adoramos “puxar a sardinha” para nós mesmos. Aquele velho ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”... Não sei se certo ou errado, mas dia a dia estamos criando ondas de violência com desculpas absurdas de “meu gosto, minha opinião, a vontade de Deus, a escolha errada dele/dela” e por aí vai.
Eu queria ter mais clareza e propriedade para falar de empoderamento de diferentes sujeitos vítimas desta nossa sociedade e sistema tão caricato e hipócrita, mas eu começo a arder e tremer de raiva, tristeza, caos. É muito difícil ouvir ou ler de seu amigo que te conhece tão bem, falando que “negro se não suja na entrada, faz merda na saída”, ou que o “viadinho gosta de apanhar mesmo, por isso escolheu ser essa afetação” ou que “a pessoa nasce hétero e depois opta por outra coisa”. É complicado ouvir na mesa, dos tios e dos primos que “mulher pra casar tem que se dar o respeito, sim! E que se um deles visse a menina (menor de idade) fazendo o que ele fez (beijar outro na frente dele) ele meteria a mão na cara dela” e tudo certo. É difícil ver uma manchete de jornal que estampa o terreiro apedrejado ou o gay com crânio afundado morto ou o casal de lésbicas que foram estupradas para se tornarem “mulher” ou o negro que foi levado num porta malas de um carro e torturado por policiais a paisana [entre outros] serem recebidos pelo colega de trabalho, o parente em visita ou o “amigo legal” rindo e dizendo, “se eles estavam brincando com Deus, mereciam até pior... foi castigo!”
Não! Infelizmente, eu não estou inventando estas situações e tenho outras tantas pra contar ou narrar aqui. Mas, vou parar... Minha alma é mais passional que meu corpo e meu corpo já começa a somatizar a explosão. Sou intolerante diante a uma injustiça, sou barraqueiro mesmo, sou polêmico, não... Não é pra chamar atenção pra mim, mas pra mostrar que dói. Se dói pra você esta insegurança toda, imagine pra aquele ou aquela na qual a SUA opinião é de ele/ela merecer castigo só por ela/ele existir de tal forma? Imagine, se você sente uma dor insuportável ao se imaginar grávida e perder um bebê, imagine pra uma mulher que deseja o aborto e ainda é tratada como uma criminosa por isso... Não é fácil decidir-se por um aborto, mas quando se faz, além de toda mobilização emocional e psicológica da escolha, ainda tem que lidar com a “santa inquisição das pessoas de bem em prol a vida”.
Quantas coisas poderiam ser ditas... A cabeça começa a doer, não sei pra quem mostrar. Porém, enquanto estou no conforto da sala, escrevendo e devaneando estas palavras, existem algumas pessoas lá fora sendo agredidas, não porque alguém deseja o que ela tem, mas sim por serem como são. São expulsas de casa por causa de uma gravidez indesejada que vai atrapalhar os estudos, como se a solidão e a insegurança da rua fosse ajudar; ou porque gostam e desejam pessoas do mesmo sexo; ou porque percebem a inabilidade em gerar uma criança e tentam chás abortivos, técnicas invasivas, colocando em risco à própria vida e podendo ser condenadas pela sociedade e pela justiça; aquela pessoa que por um acidente perdeu um membro – a sociedade gosta de perfeição – e está pensando em suicídio, pois sabe que não conseguirá ser como era... infinitas possibilidades.
Entenda, as dificuldades que os “normais” passam, são iguais às que os outros podem passar, com o acréscimo de que os outros ainda precisam defender o óbvio que é o direito de coexistir com “as pessoas de bem e normais”.

Hoje, deixo aqui uma ínfima memória e homenagem para as tantas pessoas que perderam e perdem a vida numa batalha de defender e brigar pelo óbvio: TEMOS O DIREITO DE EXISTIR!

Santa Pesquisa: