Puta!

Derluh Dantas

Essa vadia anda um tanto mais ousada e arredia. Ela surge sem prenúncio, não me deixa dormir, me acorda no meio da noite, me excita, me inibe. Eu ando covarde para assumir as formas que ela apresenta, para apresentar os odores que ela me obriga. Simplesmente, sou pequeno demais. Presunção minha acreditar que ela se deitava comigo por prazer... Começo a acreditar que ela apenas me abusa, me fazendo sentir o gosto do voo, mas me provando a incapacidade de voar. Ela esfrega seus cabelos negros, seus seios pontudos e volumosos... Faz gemidos quentes ao pé do ouvido, me acaricia as nádegas, a virilha, esfrega sinuosa em meu sexo. Ela faz e se desfaz em brumas. Em suas mãos há manchas negras e azuis, há calos, mãos másculas. Ela sorri pra mim diante do espelho, me faz perceber o abjeto que sou, me faz querer amor. Ela tinge meus olhos, desnuda meu corpo. Cada sinal, cada mancha ou expressão se torna desejo e volúpia. Provoca-me lembranças de momentos que não vivi, me faz recordar sabores que não experimentei... Será que essa vadia é assim com outros por aí? Presunção minha pensar em monogamia com a puta que me envolve, que me desperta calafrios, paixões, luxúrias, amor e prazer. Venha, louca inspiração, inunda esse seu escravo, esse meu ser.

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