In - Quietude'

Nazaré - Bahia, 21 de janeiro de 2015.

Derluh Dantas
Vou me despir um pouco da poesia, desfazer o lírico para descrever essa data tão vulgar do ano. A Assembleia Espiritual Nacional instituiu em 1949, o dia 21 de janeiro, como o Dia Mundial da Religião, com o objetivo de celebrar a união de todas as religiões, independente do credo e promover a tolerância e o respeito entre as distintas crenças e povos. No Brasil, esta data foi instituída como o Dia Internacional de Combate à Intolerância Religiosa, em dezembro de 2007, pela Lei 11.635, a data também faz homenagem à iyalorixá Mãe Gilda, morta em 21 de janeiro de 2000, vítima de infarto. Hoje, seria mais um dia para vivermos o respeito ao outro em suas mais variadas expressões. Mas, o humano anda longe de se fazer morada no mundo. Muitas pessoas ainda investem tempo e energia em fazer do outro instrumento de sua vaidade e loucura. Há pessoas que vagam pelo mundo, acreditando conhecer a verdade absoluta e ser responsável de “esclarecer e salvar” os “outros”. Lastimável em ver que ao ler algumas palavras ou ouvir outras tantas, faz de alguém o instrumento de uma “paz” que só impõe terror e exclusão. Perdão, não quero parecer um terrorista fanático ou um cético hipócrita. Eu acredito na fé, de quem quer que seja, inclusive na sua. Contudo, por entender que cada um nasce com o principio e fundamento para trilhar seu próprio caminho, eu não posso ficar calado diante dessa sua violência simbólica e ideologia arrogante. Seu caminho, sua “escolha” não deveria interferir diretamente na forma como os outros entendem o mundo. Exemplo, se eu acredito que beber leite pela manhã me provoca gases, não me faz um especialista lacticínio para promover um combate ao leite matutino... Exaltei-me e acabei me expressando de forma trivial e leviana. Mas, o que te faz acreditar que a sua revelação de salvação deve ser imposta e aceita por todos? Eu não consigo assimilar que a única religião que detém a verdade é aquela na qual você optou por acreditar. Caso em algum lugar estivesse guardado o segredo da vida, todos não estariam por buscar esse lugar, ao seu modo e ao seu próprio sentido? Ou mesmo se fosse o caso, por que não se pode respeitar quem não está interessado na “Revelação” ou no “Sentido Supremo”? Desculpe-me, mas acho de tamanha brutalidade essa mania de achar que o outro está em processo de erro e você por se vestir de forma x, ler os livros y, falar com arrogância, é o escolhido de uma divindade que faz justiça com punho e fogo. Desculpe-me, mas é um tanto ilógico pensar que você é melhor que alguém e que pode desacreditar o outro. Falando de forma didática: Meu jovem, você pode acreditar no céu e inferno, pode acreditar nos mistérios do divino, pode acreditar que terá mil virgens, pode crer no que quiser, mas essa sua crença não lhe dar o poder de definir, impor, violar a fé alheia. Se você acredita que aquela divindade é satânica, do mal, tudo bem... Não a adore, não a venere, lute contra ela em sua alma, mas se o vizinho se veste de vermelho, bate tambor ou acredita apenas nos fatos comprovados de maneira empírica e racional, RESPEITE! A expressão dele não deveria afetar a sua paz, tampouco interferir em sua “adoração”. O Respeito se vale do comportamento simples de permitir que o outro seja tal qual ele é. Não compartilho da sua ideia de que todos os humanos são corruptíveis, mas se é seu pensamento, sigo o meu caminho e dele não levo magoa, raiva, nem lamento, é seu direito pensar assim. Não tenha medo de ter um conhecimento exclusivo, só não o aplique como tormento a quem pensar ou agir diferente. Somos todos dignos de compartilhar esse espaço, esse tempo, da forma mais digna e íntegra que conseguirmos existir. Perdão por apontar aquilo que penso ser sua ignorância e peço desculpas pela minha!

- Dos diálogos que me sangram a alma -

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