Derluh
Dantas
Andando pelo mundo eu vi uma pessoa se dizer contra
o aborto em defesa da vida, ser a favor da pena de morte em argumento sobre a
mesma. Eu ouvi um homem que se dizia pregar o bem e o amor, ofender, punir,
proibir o outro de amar e ser amado. Eu presenciei uma mãe discutir com um
homem por fumar maconha, dizendo proteger sua filha presente e ao mesmo tempo
estar com uma latinha de cerveja em uma mão, na mesma um cigarro aceso e usar a
outra mão para agredir uma terceira mulher em questão. Então, a maconha desconhecida
é mais prejudicial para uma filha que ver sua mãe violentar, ser vulgar,
incoerente e bêbada?
Eu ouvi pessoas falarem de um Deus que criou a
liberdade e essas mesmas saírem por aí cessando o direito dos outros.
Andando pelo mundo eu presenciei o amor seleto, o
direito discreto e a violência descaradamente defendida, aplaudida, desferida.
Eu senti um homem berrar aos ventos que a vida de outro valia menos que o
espelho quebrado de um ônibus qualquer, e os outros que falavam de segurança defenderam
o desejo de assassinar. Eu vi crianças serem mortas e violentadas com o
consentimento de adultos que as colocaram no mundo e nada fizeram por elas. Vi
adultos saudáveis tiraram tudo do outro e depois não aceitarem serem agredidas
por quem não tem mais nada a perder, além de uma vida miserável.
Eu ouvi argumentos distintos para os mesmos
comportamentos. “Ele merece morrer, antes que tire a vida de alguém” – e me
pergunto, então, você também? É estranho sobre os mesmos olhos que defendem a
vida, você presenciar as mãos manchadas por mortes. E no meio de tudo isso, eu
me vi. Um alguém pequeno e miúdo que sonha em outro mundo e não faz nada de
fato por esse aqui. Mas, o que fazer se sempre tento e não consigo? Continuar
tentando, ao menos por uma consciência tranquila e condizente com o que
acredito e defendo. E de todos os males do mundo, tenho certeza e sinto que ainda há gente verdadeiramente de bem por aí.
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