Realidade'

Derluh Dantas
Andando pelo mundo eu vi uma pessoa se dizer contra o aborto em defesa da vida, ser a favor da pena de morte em argumento sobre a mesma. Eu ouvi um homem que se dizia pregar o bem e o amor, ofender, punir, proibir o outro de amar e ser amado. Eu presenciei uma mãe discutir com um homem por fumar maconha, dizendo proteger sua filha presente e ao mesmo tempo estar com uma latinha de cerveja em uma mão, na mesma um cigarro aceso e usar a outra mão para agredir uma terceira mulher em questão. Então, a maconha desconhecida é mais prejudicial para uma filha que ver sua mãe violentar, ser vulgar, incoerente e bêbada?
Eu ouvi pessoas falarem de um Deus que criou a liberdade e essas mesmas saírem por aí cessando o direito dos outros.
Andando pelo mundo eu presenciei o amor seleto, o direito discreto e a violência descaradamente defendida, aplaudida, desferida. Eu senti um homem berrar aos ventos que a vida de outro valia menos que o espelho quebrado de um ônibus qualquer, e os outros que falavam de segurança defenderam o desejo de assassinar. Eu vi crianças serem mortas e violentadas com o consentimento de adultos que as colocaram no mundo e nada fizeram por elas. Vi adultos saudáveis tiraram tudo do outro e depois não aceitarem serem agredidas por quem não tem mais nada a perder, além de uma vida miserável.
Eu ouvi argumentos distintos para os mesmos comportamentos. “Ele merece morrer, antes que tire a vida de alguém” – e me pergunto, então, você também? É estranho sobre os mesmos olhos que defendem a vida, você presenciar as mãos manchadas por mortes. E no meio de tudo isso, eu me vi. Um alguém pequeno e miúdo que sonha em outro mundo e não faz nada de fato por esse aqui. Mas, o que fazer se sempre tento e não consigo? Continuar tentando, ao menos por uma consciência tranquila e condizente com o que acredito e defendo. E de todos os males do mundo, tenho certeza e sinto que ainda há gente verdadeiramente de bem por aí.

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