Meu Relicário - III

Derluh Dantas
Eu quero explicar algo que me atravessa o estomago e o ar. Mas, não tenho como explicar algo que não me faz lógica cabível. Sendo assim, me resta apenas devanear os pensamentos em algumas poucas palavras. Por muito tempo, eu acreditei conhecer o que seria o amor. Imaginava o salgueiro chorão, o rio cadente e mesmo os sorrisos confessionais. Eu imaginava a troca de olhares, o toque e que os amantes teriam uma intimidade única, como pum, espinha, odores não aceitáveis socialmente e não apenas isso. Eu imaginava o amor como toda falta de limite entre duas pessoas, pense em falta de limite como aquele lugar comum que tudo pode ser compartilhado, dito, acolhido. Eu imaginava o amor como algo espontâneo e até acreditava que uma pessoa não poderia amar a outra do nada. Eu podia jurar que quando alguém ama outro alguém, um dia esse ‘outro’ se atenta da oportunidade única daquele amor. Mas, isso causa o problema de logística, ou o problema de identificação. Não sei bem. Amor, não é carência, não é cobrança, não é ausência, não é impossibilidade, não é facilidade, nem dificuldade. Mas, o que é o amor? Amor é substância única, não sei se perene, não sei se fugaz. Acredito que não respeita o tempo, ou faz um acordo único com ele, que o relógio ou calendário acaba ironizando os demais. Acho que existem algumas obras da sétima arte que chegam próximo ao que o amor se parece para mim, contudo a vida sempre tece retalhos a mais. E o que eu queria explicar, eu quero explicar que não sei se acredito mais no amor, ele tem sido um ser travesso ao meu estomago e ar.


Eu sou surpreendido por um olhar na multidão, acredito que pode ser a diferença que cabia em minhas orações e um belo dia, voltando para casa, a chuva como o prenúncio clichê e minhas lágrimas como seu verdadeiro prognóstico me assaltam o ar e embrulham o estomago na certeza que naquela falta de adeus, era o adeus que se anunciava. E choro, sofro, busco os amigos e eles já não estão mais lá. Encontro-me sozinho, choro um tanto mais, me desespero. Porém, pela primeira vez não penso no fim, penso na vida, nessa contradição arrebatadora de amar. Pois é, eu que tanto sonho em amor, acabo sendo criança boba ao me deparar com o Verbo Amar. Eu fujo, também, eu tenho medo, tenho desejos e choro. Eu sorrio com meu choro, eu gargalho com minha tola inocência. Amar é para poucos, raros e únicos. Talvez, algum dia, seja para mim. E quando acontecer, se acontecer, eu quero estar o mais limpo dessas histórias possível. Afinal, não quero menosprezar o que vivi, o que senti, o que recitei, mas não posso supervalorizar essas histórias miúdas frente ao verbo do que imagino ser amar!

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