Lembrando como fora antes do olhar no salão'


Derluh Dantas
Ao ver Cristina entrar pelo Pub, Marta pareceu se iluminar de uma aura serena e radiante. Não tinha como não percebê-la em meio aos outros, foi a primeira pessoa que Cristina cruzou o olhar ao passar por aquela porta de madeira escura, nobre e arqueada. Elas sorriram ainda à distância, pareciam dizer muito com apenas aquele olhar e sorriso. Sentaram no final do balcão e beberam, conversaram, se entregaram a magia daquele encontro. Enquanto palavras surgiam do diálogo doce, as mãos se chocavam, arrepios. Vez ou outra as pernas roçavam uma na outra, era como se ambas desejassem a outra por completo, despida, livre, entregue. Mas, havia se passado muito tempo desde a intimidade das duas, qual seria as intenções de ambas? Será que o corpo enganava a alma ou apenas demonstrava aquilo que o espírito ansiava em ter?
Em meio aos devaneios do diálogo, o passado foi trazido ao momento íntimo. Marta resolveu insinuar que não esquecera aquela noite depois dos estudos na biblioteca central da universidade. Cristina sorriu, se fez de desentendida, era a oportunidade de conhecer a intenção daquela bela mulher de cabelos rubros e boca carnuda. Assim, com o interesse insinuante de Cristina e a ousadia de Marta... Os fatos daquela primeira noite  de sensualidade e prazer das duas foram lembrados...
Aos leitores:
Cristina estava sentindo dificuldades com algumas matérias e acabara de começar a dividir o quarto com a nova aluna transferida. As duas foram alocadas ao mesmo dormitório por motivos escusos e desconhecidos. Cristina dividia com outra garota, mas esta a incomodava por de mais, era barulho noite e dia, contudo ela não reclamava. Um belo dia ao voltar para o apartamento depois das aulas, se deparou com Marta, uma mulher ruiva e atraente, com pouco mais de vinte anos e um jeito angelical no olhar. As duas não tiveram oportunidade de conversar muito, Marta já tinha outros compromissos, só se apresentaram, trocaram algumas palavras cordiais e foi assim durante toda a semana. Na sexta-feira, por volta das 17h, Cristina resolveu tirar o atraso dos estudos na biblioteca central da faculdade. Ficou por lá, entre livros e anotações até a uma da manhã, quando o vigia abandonava o turno e tinha que fechar as portas das áreas sociais. Enquanto se despedia do vigia, Cristina sentiu estar sendo observada, mas não se importou muito, deveras ser apenas impressão da noite de luar crescente. Ao subir as escadas que dava acesso ao seu apartamento, ela novamente sentiu que estava sendo seguida e resolveu adiantar o passo. Ao entrar abruptamente pelo dormitório, assustada, se deparou com a bela ruiva de camisola transparente, mostrando todas as suas curvas. A que dormia, despertou com um ar temeroso e de preocupação com a outra que chegara ofegante. Levantou-se, pegou um copo d’água no frigobar repleto de adesivos mimosos e tentou acalmar a moça assustada. Nesse intuito de acalmar a outra, elas acabaram se acariciando. Em meio às lágrimas, Cristina tomou o ímpeto de beijar a nova colega de quarto, no qual não foi repreendida, pelo contrário. As duas começaram um descobrir-se pelo corpo da outra, com toques, carícias, beijos e línguas. Elas começaram uma noite tórrida de entrega, amor e delírio. Apesar da falta de experiência das duas jovens, elas se entregaram ao instinto do desejo. As mãos acariciavam os seios, enquanto lábios e língua beijavam, lambia de forma leve o pescoço, o colo, os seios. As mãos roçavam, abriam caminhos por entre pernas cruzadas. Os pés se acariciavam uns aos outros. Ambas, pareciam amantes de anos. Não havia censura aos lábios, línguas, mãos, desejos... Era tudo liberdade, descoberta e prazer. Cristina sussurrava agradecimentos e elogios aos ouvidos de Marta, enquanto essa lambia, mordiscava e retribua a cada palavra dada. Dedos penetravam o corpo da outra, como se quanto mais dentro fosse, maior a conexão mágica de desejos e sentimentos entre as das duas. Beijavam-se demoradamente, beijos quentes, molhados, sensualmente libidinosos. Naquela noite o nirvana de prazer e de gozo foi acessado simetricamente nos corpos daquelas duas mulheres.
Toda essa cena foi lembrada por ambas num misto de nervoso, saudosismo, prazer e suspiros. Elas deixavam claro que não foi apenas uma noite que as tinham ligado uma a outra. Foi toda a magia que envolve o encontro dessas duas deusas femininas e sensuais. Apesar de todo o prazer envolvido, aquela fora a única noite que as duas se permitiram tamanha liberdade. Nesse momento, o diálogo despontou certo pesar nos olhos e palavras de ambas. Marta no dia seguinte se desculpou dizendo que aquilo não mais se repetiria, mesmo Cristina dizendo que havia sido maravilhoso e que adoraria que muitas recaídas como aquela acontecessem. Porém, Marta disse que não era lésbica, que tinha namorado e que as duas poderiam apenas ser amigas e nada mais. E assim foi, mesmo com algumas carícias trocadas no calar da noite, alguns beijos furtivos e outros tantos ‘encontros’ que apenas amigas não costumam experimentar. Elas nunca mais tiveram ou se permitiram o prazer como o sentido naquela primeira noite de luxúria e encontro.
Ao chegar nessa encruzilhada de palavras e sentidos, Cristina agora lembrara porque fez questão de apagar a Marta de sua memória. Não tinha muita paciência e destreza para lidar com pessoas que se limitam, se apegam e escapam pelos rótulos que lhe são auto-impostos ou aceitos. Mas, pagara para ver até onde aquele encontro e a ‘transformação’ da antiga companheira de quarto iria. Cristina, apesar da pouca paciência com pessoas ‘limitadas’, tinha certo prazer com desafios e jogos sensuais. Talvez, por isso tenha aceitado ser amiga íntima da Marta na época da faculdade e agora ter aceitado esse novo reencontro. Queria saber até onde iriam as possibilidades dessa energia que as envolve. Tomaram mais alguns Drinks e prosearam um tanto mais, sem cobranças, sem tiradas de dúvidas, acusações ou nada do tipo. Apenas, deixaram as palavras surgirem como encontro de duas almas amigas que se desejam e são livres do tempo e dos rótulos que um dia as afastaram.

[Continua...]

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