Derluh Dantas
O rio estava caudaloso e o céu levemente acinzentado.
Provavelmente, a tempestade se cansara daquele lugar, mas havia deixado marcas
como prova de que passou por ali. O jovem sentou em uma grande raiz que rompia
a terra e voltava alguns metros depois para dentro do solo. Naquele lugar onde
sentara, podia ver o horizonte se abrindo em outras cores e ouvir o som
estridente das águas daquele rio nada tranquilo. Mesmo o cenário parecendo
melancólico e um pouco tormentoso, o rapaz se sentia em paz e parte daquela
cena. Sua alma parecia brincar nas imagens que se formavam nas nuvens. Era como
se a brisa fria fosse um carinho quente às suas próprias tormentas. No momento
em que parecia se entregar ao niilismo do caminho, um ser surge à beira do rio.
Era um homem de cabelos inchados, sorriso branco e olhos marcantes. A cor de
sua pele contrastava bem ao céu azul com grandes manchas cinza. O homem tinha a
pele escura como o desejo mais secreto daquele jovem que agora parecia ter
acessado a tempestade que passara por ali. Sua alma que bailava, agora
cambaleou, se confundiu com o desejo de posse, de liberdade, de libertinagem
com a alma daquele belo Xangô. O jovem sorriu, escapando palavras de admiração
não convencionais para um outro homem. O Xangô de vestes vermelhas sorriu e no
olhar daquele jovem percebeu um sentimento distinto, não comum aos rompantes da
floresta. A alma do jovem, ao voltar para o corpo acabou se chocando com o espírito
do Xangô galante... Nesse choque de almas, os corpos acabaram por se esbarrarem
em um abraço. E o desejo ‘de mais’ ficou pulsando em ambos os corações.
Tempestade voltou em forma de saudade e o rio agora é cenário de esperança para
novos encontros. Se bem que o rio era mar, o cenário desejo e a tempestade o
tempo ou a distância entre os belos e distintos seres.
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