Derluh Dantas
Acende o cigarro e traga com uma gentileza tão mágica que
faz o sólido se tornar fumaça e brisa. Por um minuto se perde nas figuras psicodélicas
que a fumaça faz enquanto baila contra luz, enquanto voa para cima... Se
desfazendo em outro vento ao se chocar no telhado antigo e na janela de madeira
pintada de um azul turquesa. Seus pensamentos vão do mais profundo oceano à
poça de lama que pisou na volta para casa, suja, rasa e incômoda. É uma figura
comum olhando-se de fora e de relance, mas seus olhos castanhos têm um brilho
que não se encontra em muitos olhos por aí. Em seus pensamentos o mundo se
torna algo intimamente diferente, mágico e belo. Em seus movimentos há uma despretensão
silenciosa de quem assumiu para si que o mundo começa a mudar de dentro de si. Depois
de expelir a fumaça densa de seu cigarro, pega a xícara manchada na mesa da
frente e toma em goles lentos e sutis o café ainda quente, forte. Seu melhor
amigo é uma barata que a tudo assiste e lamenta: Seus irmãos desejam apenas
adaptar você na infelicidade incoerente em que eles mesmos criaram e vivem...
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