Derluh Dantas
Ela era casada, mas fazia tempo que não sentia paixão ou
prazer. Sua vida havia se tornado uma rotina chata e cinza, sem beijos à noite,
nem mesmo abraços furtivos na cozinha. Era tudo metódico e sem emoção, sem sentidos.
Aquele desconhecido com seu olhar penetrante a fez duvidar se havia vida em
seus dias. Ele a convidou para uma visita em seu atelier, que não por
coincidência, também era seu recanto neste mundo. Ela decidiu arriscar aquele
encontro, colocou um vestido vermelho que nunca teve coragem ou oportunidade
para usar. Decidiu pedir ajuda às irmãs: maquiagem, lingerie, penteado, saltos
altos. No atelier de seu mais novo suspiro de vida, ela estava nervosa,
duvidava se realmente deveria se permitir aquilo, nunca havia traído seu
metódico marido. Ela vasculhou a sala com seus olhos, caminhou, comentou sobre
alguns quadros em diferentes cavaletes. Quando deu por si, resolveu admitir que
desejava aquele homem. Ele disse que ela havia se precipitado, quando ela
constrangida tentou sair correndo pela porta, ele a segurou pelo braço e fez
que seus passos fossem ao encontro de seu beijo. Ela o beijou com toda paixão
que havia esquecido caber em seu ser. Quando pensou em se entregar lascivamente
àquele homem, lembrou-se do marido e foi embora na carreira.
Uma pessoa fiel só pensa em trair sua companhia, quando essa companhia já não se faz mais presente, vívida, real...
Rotina de ausências e friezas, não faz bem a ninguém!
Que venham as surpresas - sem precisar trair ninguém...
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