Derluh Dantas
As
horas avançaram pela noite e as belas mulheres já estavam ébrias pelo álcool consumido,
pela conversa caminhada, pelas lembranças, pelos desejos adormecidos, agora
totalmente despertados. Cristina ria com o sabor de proibido daquele encontro,
ela estava deixando sua própria censura de lado para experimentar o que sua
alma ousava.
Conversaram
um pouco mais e olharam o relógio de madeira e prata pendurado atrás do balcão.
Uma hora e vinte e dois minutos da manhã, melhor partirem para seus recantos
nesse mundo. Ao saírem do pub, resolveram caminhar um pouco mais pela pracinha
pouco iluminada, era onde iriam pegar o táxi para irem embora. Na caminhada,
uma chuva torrente caiu fina sobre o corpo quente daquelas mulheres, a ligação
tênue, elétrica que existia entre elas em contato com a chuva fina, fez atiçar
ainda mais a tensão envolvente entre as duas. Cristina ria com o sabor daquele
encontro, a outra se assustava, mas não demonstrava temor ao seu desejo. Então,
como a Marta já tinha tomado tantas iniciativas, Cristina resolveu puxar aquela
mulher de cabelos rubros para perto de seu corpo e bailaram na chuva. Os seios
se tocavam, as mãos acariciavam umas as outras, toque macio, quente, desejado.
Cristina, em meio aos rodopios secretos na chuva, segurou a nuca daquela mulher
e lançou um beijo terno, úmido e macio. As pernas se lançavam como se o som
fosse quente, uma lambada, um tango, talvez. Elas foram tomadas por uma libido
envolvente e intensa, queriam se tocar, se descobrir novamente.
Depois
de alguns minutos de entrega e perigo na pracinha pouco iluminada, à sombra de
um ipê florido, Cristina sussurra que deseja passar toda aquela noite em
companhia da outra. Essa sorri e a convida para um hotel, no qual está
hospedada – será que ela já esperava por essa possibilidade? Provavelmente,
sim... Estava preparada para um encontro mais íntimo. As duas foram caminhando
até o táxi mais próximo e foram ao seu ninho de amor. No carro, elas ainda
tiveram a oportunidade de disfarçadamente tocarem as pernas uma da outra,
roçarem panturrilha com panturrilha, os pés, cada parte do corpo que não
denunciasse o desejo de ambas ao motorista atento as duas beldades em seu táxi,
mas que alimentasse o prazer, a cobiça de uma sobre a outra.
Depois
de alguns quilômetros percorridos e um silêncio que muito falava às duas,
chegaram ao Grand Hotel Palace. Pagaram
ao taxista e entraram pela grande porta de vidro com contornos dourados. No
grande salão, Marta foi ao recepcionista para comunicar que estaria acompanhada
e para saber se havia algum recado – outra coisa foi combinada, mas Cristina não
conseguiu ouvir ou entender muito bem o que foi dito. Depois desse diálogo
cordial, Marta chamou por Cristina e foram ao último elevador no canto
esquerdo, tudo era bastante luxuoso, atraente. Marta passou um cartão, apertou
o andar e uma senha, estava hospedada em uma suíte presidencial com um elevador
particular. Ao entrarem à suíte, Cristina se encantou com uma área enorme e
muito bem decorada. Uma mesa grande com belas flores, frutas. Marta ansiava por
Cristina e a beijou intensamente, antes que essa pudesse olhar toda a suíte.
Foram para o quarto, onde havia uma grande cama confortável e bela, cheia de
pétalas de rosas vermelhas, com duas taças no criado mudo e um balde de gelo
com duas garrafas fechadas de prosecco.
Parecia um sonho luxuoso.
As
duas começaram a se despir, enquanto os lábios não se afastavam, a língua
percorria o pescoço, as pernas se entrelaçavam. Em questão de segundos já não
havia mais nenhuma parte coberta. O corpo e a alma daquelas mulheres estavam
nus, expostos, em completo contato. Marta pegou uma das garrafas de prosecco e despejou algumas gotas sobre
os seios empinados de Cristina, lambendo-os com prazer e total cuidado logo em
seguida... Cristina suspirava, enquanto suas mãos acariciavam os seios, as
nádegas, a cintura de sua amante sedutora. Eram línguas, lambidas, pequenas,
intensas, leves mordidas. Mãos que acariciavam a superfície do corpo, que percorriam,
exploravam as entradas, a alma. Um total misto de prazer e entrega. O pecado da
luxúria era um paraíso para aquelas duas almas em transe, paixão, em transa, em
prazer, delírio.
O
cheiro de uva com rosas envolvia o quarto formando uma névoa de frenesi. As
duas mulheres estavam tão entregues e sensíveis à libido que exalavam um cheiro
atraente e sinestésico às narinas, ao paladar, ao tato da outra. Começaram a
percorrer cada pedaço do corpo com o toque leve da língua, em algumas regiões
permitia-se mordiscadas, lambidas mais fortes e sucção. Bico dos seios,
nádegas, cintura, pescoço, coxas, lábios úmidos, lábios molhados, os pequenos
lábios, a boca, língua, os grandes. Elas começaram a penetrar o corpo da outra
com a língua, apertando a cintura. A boca de uma encontrava os grandes, os
pequenos lábios da outra – o clitóris era percorrido, sugado, delicadamente
acariciado pela ágil língua da amante. Depois de muito sorverem o néctar saído
da outra, ainda com o gosto na boca se beijaram, misturando os gostos, os cheiros,
os delírios. Enquanto as bocas se juntavam e se entregavam ao bailar de línguas
e sabores, os seios se apertavam, se entrechocavam num subir e descer entre si,
seios, bicos, colo, seios. As pernas se entrelaçavam não mais se beijando
apenas com duas bocas, eram quatro... Dois pares que se conectavam por
completo, com total encontro, energia, entrega, prazer.
E
foram até o amanhecer entre carícias, nirvanas do deleite, beijos, sussurros,
delírios. As mulheres se amaram até o sol alto do meio dia. Amaram-se na luz
sutil do abajur, no alaranjado do amanhecer, no sol alto do dia. Depois de
tanto prazer, Cristina e Marta resolveram que era hora de se levantarem e
enfrentarem o dia lá fora. Tomaram banho juntas, o que valeria mais um conto.
As duas tomaram café da manhã em pleno meio dia, na própria suíte. Uma hora e
meia da tarde Cristina se despediu com um beijo demorado e algumas lágrimas
contidas nos olhos. Sentia que outro encontro daquele, com essa ruiva em
particular, demoraria mais alguns ciclos. Contudo, na mente de Marta, já se
passava planos de outros encontros... Assim se tem o fim de um olhar no salão e
o inicio de outros contos da Cristina.
O fim?
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