Sujeito do movimento'

Derluh Dantas
Ele nasceu como quem fosse um presente dos mais divinos. Era inteligente, sagaz, sublime. Antes de aprender leitura, já fazia poesias e entendia as coisas do mundo. Gostava dos pés descalços, pouco importava se o caminho estava úmido ou quente. Era daqueles sujeitos de uma expressão e pensamentos únicos. Frente à hipocrisia, ele se valia da ironia e sarcasmo. Se o caldo engrossasse, ele colocava um sorriso no rosto e desfazia a turbulência do encontro com tenacidade. Mas, se fosse violência, ele não se acanhava em entrar no terreiro e defender seu apego ou a justiça. Era tão brincalhão, que certa vez fez dois amigos provarem a amizade com uma boba pegadinha: com roupa de um lado preta e do outro lado vermelha, os amigos brigaram ao dizer da vestimenta do homem. Assim, ele logo mostrou como os sentimentos humanos são inconstantes. Mas, ele era de tribo diferente. Mesmo sendo o primeiro a desvendar selvas, mesmo abrindo os trabalhos de nossa gente, há quem não entenda seu enredo, há quem o julgue mal sujeito, há quem o coloque na cruz que não lhe cabe nem os dentes. Mas, pouco importa isso pra ele. Ele se fez livre e como presente divino que era, fez-se um sujeito sempre íntegro e diferente. O que ele pode fazer, se você não compreende nossa gente? Ele não quer lhe agradar. Para ele, só lhe cabe proteger sua gente. E se a folha virar, ser mais uma vez sujeito sorridente. Ah, e sobre sua mania de chamá-lo sujeito ruim, não há importância alguma ou lamento... Ele é o sujeito do movimento, não o tente parar ou julgar!


Laroyê Exú!

- de um filho distante -


Derluh Dantas
Meu desejo é falar de amor, beleza e morte. Quero falar sobre o desenho bonito da paixão e suas cores, suas pontas afiadas ou aquelas arestas sinuosas que parecem acarinhar os amantes. Gostaria de falar das partidas, das saudades íngremes de quem fica, da loucura de quem convive com o acento agora vazio. Mas, a inspiração anda inquieta, ela saltita, baila, se esfrega em meu corpo como uma cadela no cio. Eu não sei como tecer as cores que me surgem. Eu me sinto miúdo, incapaz, náuseas se afiguram em meu estômago sem borboletas, mas em tempestade. Eu não estou apaixonado no momento, não vejo luz alguma. Há encantos, encantamentos, desejos, tudo numa mistura tão improvável, que se desfaz com o mais sutil dos ventos. Porém, se houve o começo, há que existir o seu desenrolar, as palavras em alento, o meio, o desenvolvimento. Assim sendo,

Uma mulher de cabelos ondulados,
De cores brilhantes
E seios fartos.
Não era vista por qualquer um
Só navegantes, pescadores e sujeitos do mar
É exigente com aqueles que não aprenderam a amar.
É sereia de calmarias e tormentos.
Seu canto é de encanto.
Seu sexo é labirinto iminente.
Seus olhos, pérolas do profundo imenso.
Feita de poesia e magia,
Não é ser comum,
É rainha de Amarelo, de Azul
É vermelho
É cor.
Prisão não há, raiz não criada.
Sendo assim, a saudação que cabe
Só surge do sincero e sensível coração.
De contas, água, areia e algumas pedrinhas,
Ela surge
Mas, só para quem se entrega à verdadeira paixão!
Asé e Amém

Entrego-lhe assim, essa inspiração.

Pelo meu Bairro'

Derluh Dantas
Dagô.
Estou em minha rua, caminhando para casa... E aqui vou traçar uns contos que vejo. Dois gatos mestiços e malhados brigam por algo que encontraram no lixo – sobrevivência e partilha. O menino de oito anos corre para algum lugar que não faz parte de seu destino, a mãe o grita lá de trás – raízes e destino. Duas senhoras sentadas na esquina, parecem falar de amores alheios ou algo sobre alguma intriga – do passado e do abrigo. A criança sonolenta, na porta de casa, luta contra o sono no colo de sua vizinha – carinho. Um grupo de homens, com olhares e expressões, parece discorrer sobre fofocas e vidas distintas – quebra de paradigmas. Os garotos, um de doze e outro de treze anos, trocam olhares do portão, parecem descobrirem e tecerem o amor, há um canto e alguns sorrisos – amor proibido. Uma senhora de oitenta anos tenta abrir a porta de sua casa e se choca com a travesti que passa do outro lado e comenta que ficou viva para ver homem de peito grande – surpresas do ser e existir. E tudo parece alheio ao mundo, tudo parece atípico no meu bairro de criança. Falo de onde sempre morei, o Batatan. E há o grupo da Igreja que canta em Louvor a Santa Bárbara. Há uma explosão na padaria do lado de casa. A vizinha protestante, que diz estar salva por simplesmente “ser” da igreja e proclama protesto contra todos os outros, entre xingamentos e graves acusações. Faz-se engraçado esse lugar no mundo, enquanto de fora tudo parece sério e sisudo, em meu bairro a vida se faz rotina entre regras, exceção e abstração. Aqui a loucura é cultural, a religião é multipartilhada, as mulheres jogam biriba e os homens ficam de porta em porta na fofoca. E hoje a lua ficou mais bonita da janela de casa, não há novos amores pela varanda, mas a lua fez sua homenagem mágica à Bárbara, Iansã, Oyá. Se o mundo te parecer pesado e indecente, entenda que há um lugar que a mulher de vermelho abre olhos, lança raios, forja metais e não deixa a esperança ou a vida se dissipar. Feliz de quem tem um espaço para sentir e sonhar.


Yá Eivikei.
Epahey Oyá!
Rogai por nós,
Oh! Bárbara!
Salve, Iansã!
Axé!

O passarinho e a Gaiola

Derluh Dantas'
Jurava que a felicidade estava ligada à liberdade, mas há felicidade também em gaiolas, me contou certo dia um pássaro. Segundo o passarinho, isso ocorre pelo fato de manter os pensamentos livres e a alma tranquila, coisas da simplicidade.
Aquele pássaro de penas tão brilhantes, pareceu tão bonito e feliz quanto qualquer outro sujeito solto. Ele me contou, entre um assobio e outro, que isso acontece quando há carinho e amor. Mas, admitiu um tanto tímido, que mesmo sendo feliz na gaiola, ele ainda sonha no dia de ser mais livre e poder voar por aí... Sem se chocar com as palhetas de madeira e podendo fazer ninho no alto de um ipê ou entre os espinhos de uma roseira.

- Da felicidade de ser do Interior -

Em vermelho'

Derluh Dantas
- Então, o que faz aqui com esse vestido decotado e esse batom vermelho?

- Eu quis vir, sair um pouco... Acho que não lhe devo qualquer satisfação de minha presença aqui.

- Não esteja tão certa disso. Eu sou pago para manter a ordem e sua simples presença, perturbou todas essas pessoas do outro lado da rua. Elas não estão acostumadas a ver gente como você por aqui.

- Isso eu já havia percebido. Pessoas que são cinzas e simétricas, chatas (eu diria até) não estão habituadas há belas aves, sujeitos, almas.

- E por que você se acha melhor que elas?

- Não disse que eu era melhor, em momento algum. Mas, algo denuncia que estou em outro patamar, o azedume delas não interfere em meu ser, brilho, jeito. Porém, eles realmente se perturbaram com a simples presença de ‘alguém como eu’ aqui. – Riso alto e debochado.

- Você não tem medo de ser apedrejada ou apanhar, ser detida? Você não tem medo de morrer?

- Tenho medo de tudo que você disse, mas eu não seria a primeira, possivelmente não seria a única. E irei morrer algum dia, como eles também. Mas, não vou viver minha vida fiscalizando o corpo ou o pecado alheio. Eu vim para ter desejos, ser cores, amores, estar hoje aqui de vermelho. Quando eu era pequeno, meu pai me batia querendo que eu me tornasse homem, macho, corajoso. Mas, sempre achei que ser livre é muito melhor e maior que tudo isso. Hoje o senhor me tratou como uma mulher leviana, uma puta de beira de esquina, que amedronta o marasmo da família tradicional e suas mentiras. Amanhã, possivelmente o senhor me ache uma aberração, fica na dúvida se sou homem ou mulher, me chamará de bixa ou algo de menor degrau. Outro dia, você me beijava atrás da mureta da escola, quando eu te parecia um menino e jogávamos bola, apostando quem perdesse chuparia o pau do outro. É, sargento Ricardo, eu sou Cristina essa noite, amanhã posso ser Lilith Latifah e ao seu passado eu sou o Betinho do melhor beijo e pau saboroso.

E aquele homem fardado, de aliança espessa no dedo, empurrou a mulher de vermelho e pediu para que ela o respeitasse e fosse embora, antes que algum colega se aproximasse para ver o enredo. E a mulher que sustentava um sorriso dissimulado, saiu em cima de seu salto trinta e cantou em alto e bom som:


- “I Will Survive!” Eu sou meu dono, sou anjo, demônio e pecado. Eu sou desejo!

Do amor e seu fim'

Derluh Dantas
Possivelmente, eu te amaria mesmo que perdesse a forma que tens agora. Eu te amaria mesmo que você se esquecesse das vírgulas ou confundisse nossa história. Eu te perdoaria por qualquer erro e juntos riríamos de algumas lágrimas que porventura surgissem nas noites que ficássemos longe. Eu me faria desejo à noite e durante o dia, seria uma companhia de passos e sons.

- Será que você me amaria se meu cabelo caísse? Ou se eu ficasse vulneravelmente “qualquer coisa”?

Acho que nosso amor superaria algumas cicatrizes e seríamos cúmplices de alguns devaneios medonhos. O amor nos seria aquele lugar que mesmo com as paredes em ruínas, não seria nem um pouco menos bonito. Seríamos companhia, mesmo que as promessas fossem quebradas e a memória se tornasse arena traiçoeira. Não importariam os títulos, escolaridade, condição financeira, credo ou cor. Nosso amor seria um vômito de arco-íris e uma dança de bolero, um samba, um tango, vermelho. Teríamos silêncio, haveria distância, mas isso não afetaria nem um pouco o desejo, anseio, carinho. Eu te amaria mesmo com as rugas, arrotos, pelos. Se houvesse remela nos olhos, não haveria o constrangimento de limpá-los com a ponta delicada dos dedos. As flatulências seriam nosso ritual secreto e cômico, como aquela velha competição do odor mais intenso debaixo dos lençóis ou no café da manhã. E as guerras de almofadas, comida, travesseiros... As caricias sob o chuveiro. Acho que nosso amor suportaria até o momento senil de algumas ideologias e sonhos fracassados. Perduraria a eternidade do espaço.

Teríamos segredos somente nossos e o politicamente correto seria balela que a gente ouviu dizer. Nosso amor seria a revolução mundial de nossos sorrisos e medos. Não seria perfeito, teríamos brigas de deixar constrangidos os anjos e de fazer reconfigurar almas, tons, melodias. Haveria algumas birras e picuinhas, brincadeiras. E sim, teríamos ciúmes algumas vezes, mas eles seriam apenas o apimentado em alguma sobremesa. Teríamos amigos distintos, compartilhados, do passado e que o relacionamento teceu. Seriamos imperfeitamente nós – você, eu e os dois – enamorados e amantes intensos. Em meio a tudo que pudesse ruir nossos sentimentos, nosso beijo seria mais forte e invencível, ou mágico como aquele abraço nos festejos de dezembro.

Não pense que esse sentimento é incondicional e pra sempre, há uma coisa que faria esse amor morrer, só um detalhe pequeno e devastador como um vírus ruidoso e letal. Não é a traição, ou a mentira descoberta, é algo mais funcional e silencioso. Nosso amor, só se desfaz e morre com essa necessidade de não ser real. Se quiser ficar com outros, pode falar que deseja variar o cardápio dos desejos e me permita, obviamente, o mesmo. Para mim, amar é não necessitar inventar desculpas. Mas, se tiver que mentir, se achar que algo precisa ser remodelado, dissimulado, inventado para ocultar um fato, acho que o nosso amor já deu entrada na fila dos desafortunados da vida, é um prenúncio inexorável de morte. Não precisa desculpar-se, amar é liberdade e sei que os sentimentos podem mudar o tom, mas o caráter não precisa depender disso. Nosso amor seria invencível, apenas se nós dois tivéssemos assumido o papel fundamental dos sentimentos: a Honestidade sobre aquilo que se sente, que não se evita, que se vive. Sendo assim, meu amor morreu em meio às estórias mal contadas, não por elas, mas pela necessidade que achamos que elas tinham de existir. Não pense que há menos amor agora, apenas nosso desencontro com a sinceridade fez com que ele voasse por aí. Acho que a morte é assim, um lugar onde habita saudades, mas não há como refazer os laços. Admito, meu amor morreu, para algum dia, amarmos de verdade.

Entrada'

Derluh Dantas

Por vezes, a beleza se mostra preguiçosa e dissimulada nos tons pastéis da rotina. Por outras, a beleza é explosão, gritaria, uma cambalhota infantil seguida da queda em riso alto. Não há forma única ou cor exclusiva, sempre depende um tanto mais de quem a sente, ver, liberta. É que existem momentos, que a beleza parece uma prisioneira em saco bolha e com advertência de fragilidade, mas é borboleta ousada, que costura sinuosa à tempestade. Por que essa melodia sobre beleza? Não sei explicar, mas meu coração irradiou felicidade e o arrepio que senti na derme me fez derramar uma lágrima cintilante, acredito que fui inundado de uma beleza lembrada, já que não se faz presença neste momento, nem a forma, nem o cheiro, nem o tato. Aí! que saudades da beleza revolucionária, de ser tantos, frente ao espelho manchado.

pelo espaço'


Nazaré – Bahia, 16 de outubro de 2014 às 00h00minh.

A mesa estava sem a costumeira toalha, só havia um lençol branco cobrindo todos os móveis. As aranhas haviam feito um belo trabalho. Como não perceber a cor amarelada das paredes antes tão rabiscadas e tão brancas, amarelas, azuis? Tudo parece ter uma bainha afiada, tudo parece cortar a superfície fina da tranquilidade. Não há desejo de ter aquilo tudo de volta, não é vontade de se repetir, é impossível com todas essas marcas latejando os sentidos. Mas, há um desejo de viver aquele momento de novo, tal como foi. O desejo de voltar no tempo e viver todo aquele imprevisto e surpresa sem saber o porvir, o que vem. Como negar que o gosto daquele beijo já não se faz lembrança, mas se sabe que foi o melhor beijo já partilhado? As conversas no pequeno sofá, a troca de olhares, a amizade que transbordava o caldo de cana que não bebi. A maquiagem borrada e o cabelo em vida própria, tudo desgrenhado e fora do tom, mas que, hoje, olhando para trás, eu percebo que aquele era o meu lugar. Talvez, algum dia eu tenha essa sensação sobre esse presente, porém ando tão fora de mim, que a única companhia que me consola e atormenta é a saudade daqueles momentos que nem sei ao certo se vivi ou se apenas sonhei em alguma noite como essa, antes de dormir.

Com amor,
Derluh Dantas.

Ouvindo aquela música'

Derluh Dantas
Começarei pedindo desculpas. Peço-te perdão por não condizer aos seus desejos, nem aos sonhos que você defende que caibam a mim. Eu sempre transbordo um pouco às bordas, costumo me atrasar e meus pés gostam de ser um tanto para os lados, dependendo do caminho. O horizonte não me é tão bonito, só quando há o mar ou alguma colina que lhe atrita ao fim. E sou assim, pela metade dos conceitos, dos signos. Sou as tantas palavras mistas que se libertam pela visão e derme. Ah! meus poros não costumam emanar odor de jasmim, nem tampouco o feromônio que me faria te seduzir. Mas, perdão por meus sentimentos não serem da cor ou do tom que você julga cabível.
Já falei que transbordo? Pois bem, sou exagerado e à flor da pele. Quando o assunto me desperta, eu vagueio para longe no oculto ou dito. Sou apaixonado pela simples configuração do óbvio ou seria do seu justo oposto, depende da textura, do gosto.
Disseram que há uma beleza comum nos meus trejeitos. Já me ofenderam e elogiaram com tantos adjetivos e nomes, não me sinto condizente com nenhum. Tanto ouço do mundo, que por vezes desejo ser os olhos do outro e entender a dificuldade de não aceitar a poesia que vagueia por aí. Nem tudo é maniqueísta, sabia? “Se sou feio, não posso ser belo”! – Acho isso miudeza tão berrante ou seria falta de visão singela? Não sei, só acho que existe muito do belo no feio que alguns teimam em ofender ou restringir. Acho que aprendi com o mar, não preciso ser translúcido, azul, verde, vermelho, posso ser tudo misturado e os outros que me aceitem assim ou vivam com a chatice de tentar me resumir.

Mas, essas palavras eram para falar da paixão que tenho sentido aqui. Ando encantado por quem não conheço, essa gente que diz tanto com os olhos, os passos, o jeito. Gente que conta do caminho a parte toda e consegue colorir a tristeza de macios odores. Você já viu uma mãe guerreira que luta pela vida de seu filho? Ou aquela outra, que defende o amor, mesmo com toda agressão e violência sofrida? Gente que sabe que tudo é maior que a frustração ou a mania chata de resumir o tudo ao bom ou ruim, feio ou belo. Ando apaixonado por olhos que sorriem, vozes que acariciam, imagens que esquentam, gente de verdade que vive para além da mania de restringir amor, vida, ser. Acho apaixonante a liberdade sutil de aparecer assim, desnudo, vestido, simples, complexo, sutil e intenso, da liberdade mesmo em sentir.

Baú das realidades vividas.

Derluh Dantas
Eu havia planejado fazer um levantamento teórico sobre essa estranha mania de oprimir o outro. Pensei em falar novamente sobre revolução, dizer de amor. Havia planejado perguntar se você tem ao certo a medida de seus atos. Pensei em questionar se antes de ofender alguém ou justificar um crime, você pensa, pondera, se coloca no lugar do outro. Mas, tudo pareceu miúdo, desnecessário. Eu tive vontade de falar de algumas fotografias guardadas, lembrar aquelas cores e sorrisos. Eu quis por um momento viajar no tempo e quem sabe levar tantas pessoas (im)possíveis comigo. Eu quero mostrar as pessoas que pregam o ódio, como é bonito o sorriso alegre de amar e ser correspondido. Eu tive vontade de provar com sentimentos, o quão delicioso é caminhar na pracinha de mãos dadas e isso não ser assunto polêmico ou tema do noticiário das dez. Estou cansado de ver sujeitos que sofrem opressão, sendo opressores em outras circunstâncias. Eu tenho uma tristeza afiada contra o peito, toda vez que vejo alguém ter medo ou julgar ruim aquilo que não conhece, que não lhe diz respeito.
Sobre um fato que me tomou lembrança:
Eu estava voltando pra casa, num desses transportes coletivos... Enquanto eu lutava contra uma sonolência e o enjoo da viagem, ouço uma conversa calorosa atrás de mim. Tentei não prestar atenção, olhar pela janela e me fazer distante dali. Mas, os dois homens pareciam querer que todos soubessem suas opiniões masculinas, viris e certas sobre as pessoas e o mundo. Eles, entre algumas notícias que não se sabe a procedência, diziam ser contra a adoção, falavam dos filhos com outras mulheres, da eficácia da agressão. E surge a fala de um deles: “os nossos a gente já não sabe se vai prestar, imagine criar filho dos outros?” E o outro corrobora: “adoção é a maior burrice de uma família, não viu o menino que Zeca [nome fictício] adotou e acabou roubando ela e fugindo pra longe?” E eles aumentavam o tom entre uma frase e outra, pareciam estar num programa de auditório sem microfone, mas usando bem a potência de sua voz. E aquela conversa ia me lançando espinhos na alma, como pode duas pessoas ter ideias tão distorcidas assim sobre ser humano? Falaram de Deus, da bíblia, voltavam a falar de adoção... E em um dos argumentos: “ao menos aquele vagabundo deu pra ladrão, pior se fosse viado”. E o outro: “pois é, ladrão até vai, até se for assassino, mas viado, aí já demais. Por isso sou contra a adoção, nunca se sabe pra que vai dar aquela peste. E depois a gente nem pode bater, corrigir, mandar de volta...” E não pude evitar de olhar para trás perplexo, querendo ver o rosto daqueles que se tornavam algozes de todo uma cultura e um povo. Ao olhar nos olhos de cada um, que pareciam agora ter alcançado seu objetivo, pareciam estar falando para que eu me incomodasse, uma energia subiu pela minha espinha e eu lancei um riso alto e diabólico – do tipo dado pelas grandes vilãs das histórias infantis e lancei: “É cada canalhice que tenho que ouvir”. Ao falar isso alto e me contorcer na poltrona, a senhora do meu lado, me olhou com ar assustado e eu ponderei a resposta que deu vontade de lançar... Os homens então começaram a falar do placar de um jogo qualquer. E eu, ardendo por dentro, me perguntava onde anda Deus para existir tanto demônio se achando santo por aqui?
Com licença,
Desculpe-me o enredo, a falta de vírgulas, algum equivoco do conto... Mas, a lembrança ainda carrega o sentimento de ser violado e impotente. Não tenho como esquecer tantos que se matam ou morrem pelas mãos de quem se acha santo, digno de falar em pecado, julgamento, determinar o que é abominação. Estou cansado de ver um menino com fio de contas, ser evitado ou bombardeado com o “deus me livre, deus é mais”. Estou cansado da negra que passa com seu vestido novo, ser vista como um pedaço de carne a ser apreciado, dilacerado. Estou exausto de gente que ainda não entendeu a responsabilidade sutil de viver em sociedade. Já não acho graça de piadas que reiteram a violência contra o oprimido, o minoritário, o distinto. Já não me calo diante de comentários que julgo nocivo. E sim, tenho me tornado insuportável. Mas, pior que ser insuportável diante de um CRIME, é ser insuportável diante do espelho d’alma.
Conclusão, eu queria te mostrar outras verdades, quem sabe você descubra um caminho novo, para além da minha revolta e para além da mania insistente de oprimir. A solidão tem limpado meus olhos, meus ouvidos, mas o amor tem me provocado esperanças de que ainda há algo de bom para não desistir. Eu ainda te convidarei para o meu casamento e sorriremos juntos o caminhar de meu filho de apenas um ano que tem pressa e não anda, corre para o gato preto que descansa ao longe. Meu filho! Espero que sejam três e que cada um deles saiba que seu pai o ama justamente pelo que são e possam vir a ser... Adotados ou não, serão motivos do meu orgulho, amor, admiração!

*Fotografia original encontrada no perfil de Facebook da Maiana Brito.

a Santa e a Popular inquisição'


De Derluh Dantas
Certa vez, eu li em algum lugar que o período mais histérico e sanguinário da perseguição às bruxas, foi entre 1550 a 1650. Depois desse período os julgamentos diminuíram fortemente e desapareceram completamente em torno de 1700. O que me chama mais atenção é o “desapareceram completamente”, será mesmo?
Abra suas redes sociais ou vá a qualquer página de notícia e perceba a colocação de muitos frente ao ‘crime’ do outro. Crime? Pois sim, em nossa atual circunstância política, social e religiosa, os crimes podem não estar relacionados à magia, ao uso de ervas (agora muitos cristãos o fazem e legitimam tal sabedoria oriunda do ‘pagão’), às forças da natureza (atualmente há um outro olhar sobre elas, como punição divina ou coisa parecida). Mas, continuam desejando o apedrejamento, enforcamento, sumiço e julgamento de morte, para aqueles que não seguem o poderio de um Deus único, machista, preconceituoso e tirânico.
Por que digo isso? Indico uma notícia para nortearmos a nossa discussão: “Mulher de 26 anos, desaparece após ser encaminhada para uma clínica de aborto”. O caso foi na zona oeste do Rio de Janeiro e virou notícia, após o ex-marido receber uma mensagem que continha: “amor, mandaram desligar o telefone, to em pânico, ore por mim!” (Saiba mais em: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/jovem-que-desapareceu-depois-de-ir-fazer-aborto-se-desesperou-em-mensagem/). Após essa notícia virar domínio público, pude perceber o quão cruel tem se tornado a nossa “nova inquisição”. O Deus que alguns cultuam, deixou de ser “criador de todas as coisas”, para se tornar justificativa para todas as violências, das mais cruéis, inclusive. Do tipo: “Jovem de 18 anos é encontrado com o pescoço quebrado e a boca cheia de papel” (Veja mais em http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/suspeita-de-homofobia-jovem-e-encontrado-morto-em-inhumas-14926/ ou http://igay.ig.com.br/2014-09-10/corpo-de-jovem-e-encontrado-com-bilhete-na-boca-vamos-acabar-com-essa-praga.html). Nessa última notícia, que tem virado algo comum no Brasil, temos o discurso de “que se a pessoa é homossexual, ela busca ser morta de forma violenta ou doença grave”, afinal ela atenta contra o Deus único e perfeito. Pois sim, nas duas notícias temos que não há crime de assassinato, há uma força divina limpando a sociedade dos ínfimos e pecaminosos.
Eu não estou exagerando. É extremamente irracional que a morte de uma mulher se justifique pelo seu não desejo de levar adiante uma gravidez. Ninguém se importa se o homem não quer, mas a mulher tem que suportar, “é o desejo de Deus”. O irônico é que Deus só tem desejado o sofrimento dela, o homem que a abandonou está tranquilo, ele fez o papel dele, copulou e se multiplicou. A família, os vizinhos, a igreja, estes que a chamam de puta, levantam falsos testemunhos e atiram as tantas pedras, estão certos, estão cumprindo o papel divinho. Deus está do lado de todos que a violentam e a ela só cabe suportar o peso “da sua cruz”.
Na sequência, e se o menino for homossexual, se o bebê se tornar uma mulher “da vida”, se a criança não se der o respeito? Tudo bem, eles nasceram, tem o direito à vida, mas agora...
 Serão justificados diversos tipos de agressões e falta de direitos àquele bebê não abortado. Afinal de contas, a culpa é da mulher, precisa parir. Depois que nasce a culpa é do sujeito nascido. Como pode não seguir os desígnios de um livro secular, que a maioria que defende nem leu? Pior ainda se dar ao trabalho de contextualizar ou simplesmente interpretar o que está ali escrito e entender que a sua fé, não é a validade da existência do outro.
Atualmente, não precisa saber de ervas ou conhecer os elementos, basta apenas o jeito de andar, se vestir, gesticular, falar ou apenas a demonstração do afeto, do carinho, do amor, para ser condenado à morte ou ao exílio. Temos vivido tempos de inquisições ainda mais tiranas, ouso dizer. Se antes sabíamos que o nosso tirando vinha em cavalos e roupas vermelhas, tidos como a “espada de Deus”. Agora o nosso algoz é qualquer um. O passageiro do ônibus, a enfermeira da unidade, o vizinho, o bêbado da rua, a mãe de Zé ou Maria. Nosso “inquisidor” estar dentro de casa, é o pai e a mãe que não aceitam a vestimenta de seu filho ou da filha, que não pode ser abortada, mas pode ser morta agora. Digo que a inquisição agora é democrática e universal, ela se atualizou.
Pontos que me fazem pensar: Em que momento da história Deus se tornou um heterossexual, machão e reprodutor? Quando engravidou Maria? Então, Deus é um cara traidor e molestador de mulheres comprometidas? Caso sim, por que essa preocupação com a “família”? Jesus saiu de casa, mas foi por vontade própria, inspiração. Adão e Eva, esse casal não foi expulso do paraíso? Certo, por que usá-los de justificativa para não existir um direito civil, o casamento de pessoas que não podem ‘produzir bebês’? Outro ponto, se o cristão não deve adorar imagens, nem nada que o afaste de Jesus, por que eles têm cristalizado opiniões, idolatrando-as como a Verdade que vale mais que a vida de quem não as segue? Quando “o Criador de todas as coisas”, se tornou o monstro aniquilador de todas as outras?
A “santa inquisição” pode até ter acabado, mas essa mania de julgar o outro como indigno de direitos, de respeito, de vida, ainda parece um lugar casto, exceto se estiver no ventre de uma mulher qualquer, principalmente se esta for pobre – afinal de contas, Abortar além de crime, é pecado. Mas, desejar a morte, ofender, blasfemar, julgar, matar, bater, oprimir, expulsar, gritar, entre outras coisas, para quem já está vivo é válido, o pecado que pertence a sua fé no divino (vale ressaltar que cristão, evangélico, protestante), tem sido justificativa suficiente para alterar e aniquilar todo aquele que é “pagão” – pense em pagão, como todo aquele, que não se vale da hipocrisia de viver à regra estipulada por um ignorante tirano e machista.

Até quando aceitaremos com cortesia, cumplicidade e educação as ofensas e mortes de João Antônio Donati, Jandira Magdalena dos Santos, Daniel Pierce, Lucas Cardoso Fortuna, tantas travestis, transexuais sem nome? Até quando não nos incomodaremos? Se você acredita que algum ser humano merece a violência ou a morte, eu acredito com toda a certeza, que você é um desperdício à vida.

Último suspiro'

Nazaré – Bahia, 30 de agosto de 2014.

Começar costuma ser a parte mais difícil, confesso que sou pior na conclusão, no desfecho. Eu não sei bem o que eu gostaria de expor no momento, mas algo tá cutucando o meu pé esquerdo e achei que precisava desabar os sentidos. Então, vou falar um tico sobre perda.
A perda é algo meio insubstancial, incoerente e que cabe pouco à lógica de existir. É que não podemos perder pessoas, elas não são nossas. Mas, sempre que há partida ou despedida a dor é de uma extraordinária essência. A lágrima não sacia a sede provocada pelo caminho vazio. O desespero é quase nada, diante da cadeira desocupada, fria. Não há como caber em palavras. E sentir essa ausência da pessoa querida, amada, é a mais indescritível perda.
Eu sei que cabe o agradecimento do encontro, dos momentos permitidos e do abraço que foi dado naquele momento mágico e único. Mas, a dor borra a imagem nítida da saudade e eu fico no desejo de voltar aquele momento lá de trás. Não é desejo de reprises ou voltas, é desejo daquele momento mágico que não há tempo cabível. Como se minha alma pudesse se romper da matéria e viver aquela circunstância novamente, sem mudar nada, sem tempo corrido ou voltado. Só alma.
Confuso... Eu sei!
E o pé esquerdo treme, acho que estou perto do que ele anseia. Mas, como percorrer o caminho que não existe? Em sonhos, tenho vivido cores e lugares fabulosos, sempre um tom especialmente intenso. Há pessoas desconhecidas e algum passado que julgava superado. Acho que tenho sentido falta de mim.
Não quero me perder de ser eu... Já criei personagens pra isso e não foi divertido aos sentidos que tenho. Hoje, eu vi minha alma meio distante de mim. Meu corpo inerte estava ali, em vigília aos acontecimentos concretos, mas minha alma me abraça de um jeito que parecia que eu era outro. Meus passos marcavam o caminho, porém eu não me sentia caminhando. Era como se eu tivesse me afogado e estava sozinho, no escuro, no frio. Em meio há aquele desespero tranquilo, eu sentia falta dos passeios de domingo, dos risos com amigos, da certeza de um colo pra voltar.
Mas... Voltemos à perda. A morte é algo tão democrática, que não entende de bondade ou perversidade de quem ela cobre. Ela simplesmente leva quem é de ordem, qualquer um, qualquer momento. Não respeita planos, sentimentos, planejamentos. E tenho tanto medo dela levar quem amo e me deixar por aqui, ainda mais perdido. Não era pra ser dramático, mas é o pé esquerdo que tá provocando as lágrimas e as palavras de peso próprio.
Acho que a perda deve ser esse lugar sem forma ou cor, que a gente entra, se perde e percebe que não há volta, foi um ganho especial, único e nossa fantasia irreal que nos faz querer mais. Porém, é tão difícil aceitar a perda aos sentidos. Um abraço não é suficiente, um riso não basta... A gente precisa de mais, necessita da imortalidade do ser amado, do ser cuidado, do ser querido.
Espera, não vai ainda... Eu só quero ficar aqui um pouco mais e sentir o brilho do seu olhar, esse som engraçado que sai do seu sorriso, seu cheiro bom de liberdade, sua forma particular de amar. Seu brilho e essa forma de ser feito abrigo.

Com todo amor,
Derlour Dantas.

Seu [e]terno amigo.

Você Reparou?

Derluh Dantas
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou? Impossível não ter reparado. Inventaram uma história antiga e acreditam que é real, disseminam-na por todo canto do mundo. A história é sobre um homem que se opôs a dinâmica de seu tempo, saiu de casa ainda moço e decidiu que iria pregar o amor e o respeito, revolucionou com seu conceito de perdão. Esse mesmo homem, que ao que aparenta era feito de bênçãos e compaixão, é figura usada para sustentar ódio, preconceito, discriminação. Este homem que preferiu morrer pedindo perdão pelos seus algozes, é usado de justificativas para guerras, assassinatos, violências tantas. Não é apenas uma contradição, não pode ser tão simples assim.
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”? Impossível, sério que você não reparou? Antes, família era aquele lugar de respeito, aonde a gente ia quando o mundo ficava frio ou assustador demais. Mas, há quem queira rotular família por um padrão exclusivo e pior que justificam isso aceitando a exclusão de um filho, a condenação de um pai, a violência contra uma criança ou uma mulher – dizendo que para educar ou evitar mal maior. Que mal maior pode existir do que sofrer abandono e violência de quem foi escolhido ‘naturalmente’ para nos cuidar? São perguntas retóricas, eu sei que a maldade tem se popularizado como educação.
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”? Existe quem acredita que o problema do mundo é o acesso, a informação, a oportunidade de fala. Como assim?! Ouvi dizer que antigamente era melhor, as pessoas não tinham tantas informações e por isso eram melhores. Bem verdade, se você é homem, machista, branco, com boa condição financeira, boas influências sociais e por aí vai. Porque para o negro escravizado ou perseguido pelo tom de sua pele, não era tão bom assim. Para mulher que apanhava em casa, por motivos vários e chegava ao hospital dizendo que era apenas queda ou coice de mula, também não me parecia tão bom assim. A violência tem aumentado, mas acho que é pelo justo oposto, falta de informação ao respeito, ao amor, ao direito de que cada um tem sua história e sua vida a ser protegida, cuidada e respeitada. E mais, a violência que aumenta, talvez seja apenas a oportunidade que muitos têm tido de denunciá-la, de tirar da reclusão da ‘intimidade’.
- O mundo cresceu. Tudo mudou.
Alguém perguntou:
- Será que Deus mudou? Ou será que mudamos de Deus?
Será que Deus mudou?
Ou Será que mudamos de Deus?
Você pode dizer que estou falando de meu umbigo... Que eu falo do que não conheço. Talvez você tenha razão. Mas, vamos mudar de pele com quem julgamos errado uma vez e então perceberá o quão cruel e idiota é essa sua ignorância eleita como religião.


Post-scriptum: Ouvi um homem dizer que o amor que via na casa do vizinho era abominação, ele gritava isso enquanto xingava a esposa, batia no filho e se masturbava pensando na colega de trabalho. E depois da rotina, ia para roda de ‘irmãos’ falar de quem merecia cura, apedrejamento, reclusão.

Trechos das músicas:
"Relicário" de Nando Reis
"O dedo de deus" de Arrigo Barnabé e Mário Manga
- Respectivamente -
Ambas interpretadas por Cássia Eller.

In-conto'

Derluh Dantas

Ela o queria por completo, úmido, rijo, dentro. Ele a via como uma puritana, perdida naquele mundo de gente. Os olhos haviam se encontrado, mas os pensamentos ainda eram destoantes. Ele queria uma aliança que durasse mais de uma semana. Ela só queria um encontro intenso, que mesmo sendo uma noite, ficasse para sempre marcado na pele, na lembrança. Ele pensava em amor de domingo, em passeio no parque, abrigo. Ela queria uma trilha perigosa, balada molhada, gozo sem aviso. Ela queria ser penetrada, lambida, usada. Ele preferia poesia, conversa sobre futuro, expectativas. Os olhos ainda imploravam mais tempo, mais conexão. O corpo almejava pelo encontro, o coração era um descompasso em palpitação. Os lábios insinuavam um sorriso, os dela falavam de desejo ardente, os dele eram algo como bobo pedido. Suor, gemido, sussurro. Contrato, passeio no parque, planejar bobagens. Ele era o tipo almoço de domingo, ela preferia tequila e comida apimentada. Enquanto o mundo se perdia em rotinas, eles se encontravam em caos. Mas, esse conto fala dela, mudemos o foco do encontro. Ela mordia os lábios, usava as mãos e imaginava ele a apertá-la. Queria que ele a assaltasse daquele lugar, levasse-a para um canto qualquer e usasse seu corpo como uma comida exótica, quente, proibida. Ela quer que ele use a língua, os lábios, desvende cada parte de seu corpo feminino inflamado, arrepiado. Ela quer a língua dele por beijar seus lábios, sejam os superiores, os grandes, os inferiores. Que ele saiba desvendá-la, explora-la, invadi-la. Ela deseja ser abusada da forma mais pervertida, prazerosa, livre. E de tantos desencontros em sentidos e devaneios, ele foi pra casa alimentar o cão e ela foi usar o chuveirinho mais uma vez. Aproveitaria aquela noite solitária e fria em seu apartamento, com queijos, filmes e vinhos.

Falando nisso'

 
Derluh Dantas
Quantas cores, odores, sabores. Há formas supremas, sublimes, simples. Diversidade de sentidos. Pode começar com um olhar. Pode começar com muitos segredos. Pode ser de dentro pra fora, pode ser oposto, senso. De fora pra dentro. Pode ser mão única, mão inglesa, mão francesa, de que cultura for. Pode ser imensidão brasileira, pode ser intensidade africana... Pode ser gordura americana. Há bossa, jazz, samba. Há funk, por que não? Celebridade, desconhecido. Há amor de todo começo, meio, tipo. Não sei do fim. Mesmo com a morte, fica a lembrança. Mesmo com a indiferença, fica a esperança. Há sentidos. Multiplicidade de tons, lendas, mitos. Dizem romântico, brutal, insano. Tanto crime, disseram que por seu nome. Quanta paz, surgida por seu encanto. Por vezes, calado, explícito no olhar. Por outras, explícito na fala, escondido no estar. Há o livre, o cativo, o liberto. Dizem que é escolha, mas não se pode evitar quando surge ou desenha. Dizem que é espontâneo, mas há os que começaram com contratos no altar. Dependendo da cultura, dependendo do olhar, dependendo da história. Sempre um infinito oceânico, uma imensidão de mar, amar. Há uns que dizem ser errado, há os que chamam ser insano. Há os louvados, os mistificados. Há os que são expressões de manifestos, há os que são de cabresto aberto. Há os que machucam e muitos que curam, cicatrizam. Não há idade certa de começo, nem tem cabível ao final. Uns vivem frente a morte, outros surgem antes de ser vida. Pode ser cofre, diário, vitrina. Uns atribuem ao divino, outros dizem ser profano. Fato é ser do mundo, do sujeito puro ou imundo. Não distingue nobre, puta ou inglório. É incondicionalidade na escolha, mas lhe atribuem muitas características para existência. Alguns confundem com expectativas correspondidas, outros com frustrações inevitáveis. Mas, é amor de toda forma, tipo. São histórias e magias. É sexo, prosa, poesia. É tempo e estadia. É amor de múltipla forma. É arrepio e acalmar. Amor de gente, de bicho... Toda imagem, carinho ou beijo de amor é legítimo em existir, expressar. Amar.

Admito, simples!

Derluh Dantas

Desculpa, realidade... Eu quero um amor que saiba pegar nas mãos. Eu quero sorrisos altos, que as cabeças se encontram e há o aconchego bom nos ombros. Eu quero o afago dos cabelos, o carinho na orelha, o calor dos olhos e da pele. Eu quero sinestesia, quero sentidos, assim que o abraço seja realizado. Eu quero dança desajeitada, mesmo que não haja nenhum som, nenhum ritmo. Eu quero assim, realidade. Não me importa que os amores surjam daqueles aplicativos virtuais, se as pessoas precisam se curtir, se interessar, combinar. Eu quero mais, que seja simples. Eu quero encontro numa esquina qualquer. Eu quero que nossos olhares se cruzem e que meio acidental fiquemos tímidos, mas que o sorriso quebre o silêncio e seja recíproco sem nem percebemos quem começou. Eu quero brilho. Não precisa ser belo, do tipo que arrase quarteirão, mas precisa ser encantado, do tipo que faça palpitar frenético meu coração. Eu quero assistir um filme bobo qualquer, e que os cabelos sejam usados para fazer cachinhos, mesmo que eles não existam. Eu quero afago na orelha e ouvir perto dela, a voz sussurrada, me chamando de besta. Eu quero amor de verdade, daqueles que vivemos aos 16 anos, que é proibido, encantador e que pode vencer qualquer barreira imposta pelo destino. Realidade, eu sei que anda difícil, esse meu desejo, e agradeço pelas provas que me têm apresentando. Cada encontro que termina no primeiro momento, tem me feito querer ainda mais encantando. Estou me cansando, bem verdade, mas cada lágrima que dispenso por um sentimento, paixão arrebatadora que se vai, mesmo no primeiro beijo, eu desejo ainda mais o conto do meu divino salgueiro. Que pena confiar em quem se vai levando o conto como piada boba, mas minha alma sabe das tentativas que permito... Só há beijo, quando me faço encanto. Amo você, meu desejo querido!

Há de convir, intimidade'

Derluh Dantas
Do alto do morro, imponente e inerte, a Igreja observa os profanos à beira do rio. Os profanos, com seus pés descalços, seus corações iluminados, dançam sem se importar com o julgamento que por ventura venha de que lado for. No olhar de um menino, um pensamento leviano se forma, ele quer casar, ter por um tempo infinito, um desconhecido que sorrir para outro alguém no largo. E no palco pouco distante, uma música se assemelha a sua trilha sonora. Aquela trilha sonora, o faz recordar das brincadeiras com os cágados e as aves do vizinho Juvenal. O menino insistia em chamar o velho de vô, só pelos cabelos brancos e a gentileza que o velho sustentava no olhar de molduras enrugadas e envelhecidas.
– Ele desejou escapar daquele abismo tão sedutor, do abismo que o fazia querer voar para a gaiola mais bonita já vista este tempo. –
Aquele momento que misturava a sinceridade do prazer e o misto de algumas belas crenças, o fazia delirar ainda mais com aquele olhar que ele buscava, como um sedento almeja o oásis de água mineral. Não pense que é um recorte de amor, um drama passional, ou algo assim. É direito seu pensar isso, uma limitação sua, admito. Há de se convir, que o amante não perde a admiração pelas falhas do encontro ou do objeto de afeição. Há de se convir que não existem regras para se admirar um sujeito qualquer. E que paixão, não é sujeita cativa para seguir os acordos ou protocolos estipulados. Sei que parece um retalho, um retalho de chita, com bainha em algodão-doce, em cores de libertar alma que se perdeu em um beijo que ainda se deseja.
– Licença, Poesia, eu não sei mais como usá-la... Meus sentidos ficaram lascivos demais para as palavras bonitas alcançar e as palavras feias iriam estragar a beleza pulsada por esse desejo de olhar. –
Que vontade de dançar mais uma vez, foram dois minutos? Três segundos? Não sei se o tempo parou naquele primeiro bailar, mas o infinito de sentidos ainda faz arrepiar a carne trêmula, de forma intimamente particular. E não pense na cadência, na lógica compartilhada... Há sentidos únicos em encontros de se amar. Ainda que seja um amor só de ilusão leviana, uma brincadeira sincera de um menino que permitiu não se preservar. A dança continua sendo a mais bela expressão do profano à beira de um rio, que tem de testemunha uma algoz pouco eficaz, acima do morro a observar!


O que me diz'

Derluh Dantas

Parece que ficou mais fácil, que agora virou moda, é algo comum. Alguns dizem que reclamamos de barriga cheia, que gostamos de drama e que todo barulho é furdunço desnecessário. Fomos chamados de vândalos e coisa pior. Dizem que temos alguma disfunção orgânica, algum problema de caráter, um desvio de valores sociais. Lembro-me que nos chamaram de bandidos, por um tempo, e quando perceberam que éramos as vítimas, uns poucos disseram que nos perdoariam se nos arrependêssemos. Lembro-me que já nos ameaçaram com o fogo do inferno, com palmadas, cemitérios. Algumas doenças, disseram que era castigo para o ‘nosso tipo de gente’. Já falaram que se o mundo anda mal, foi porque insistimos em sermos vistos, em existir. Lembro-me que alguns se mataram, havia comoção de dois ou três e dos outros tantos, uma constatação de nossa ‘doença mental, problemas de alma’. Alguns até falaram, que intensificamos nosso problema, com essa ‘energia’ de tentarmos ser cada vez mais diferentes do ‘normal’. Uma vez, eu não contive um riso meio desesperado, quando ouvi falar da nossa falta de educação - isso foi dito não em relação aos três que batiam, aos cinco que não faziam nadam, só riam, mas era dito sobre o rapaz deitado no chão, um rapaz todo ensanguentado, chorando e pedindo perdão, sabe-se lá deus pelo que. Deus?! Esse elemento, que seria o criador de todas as coisas, no frigir dos ovos, se transformou em um fiscal tirano, daquele ditador que mata milhões, por um erro bobo de dois ou três, que não faziam nada além de cuidarem de sua própria vida. Eu sempre tive fé na magia da vida, sempre acreditei que pessoas que fazem o mal, talvez façam isso, por desconhecerem outras formas de amor. Mas, atualmente é mais aceitável ver um homem armado, uma pedra sendo lançada, uma ofensa sendo dita, do que um abraço de afago. Hoje em dia, expressar amor, virou um perigo a própria vida; ter caráter, um motivo para ser ludibriado; ser honesto, motivo para ser ofendido, ser chamado de otário. O mundo anda tão cheio de fé, amor e deus, que as pessoas vão aos seus templos e só falam mal, de outros tantos que não estão lá. Não estou falando de religião, não estou falando de você... Mas, estou cansado do bom ser confundido com o ruim e o ruim ser defendido com armas e palavras de fogo. Não acho que a maldade tenha aumentado pela inocência do bem, mas acho que muitas pessoas se perderam no processo de ser gente. As pessoas parecem ter perdido a magia da vida, do tempo e acabam se valendo do ‘aqui e agora’, ou simplesmente ‘do reino dos céus que vai herdar’. Não é desperdício nenhum ser bom, se você for enganado no processo, não use isso de justificativa pra fazer o mesmo. Já tem tanta maldade no mundo, que ajudaria muito, você ser só um pouco mais sensível e respeitar a dor, o lamento, a alegria, o amor de quem for!

Palavras de um irmão'

Derluh Dantas
Não é fácil, não é normal... Você não imagina como machuca e sufoca. Não tem nada a ver com pecado divino, com questões naturais ou o que mais você usa pra justificar. São péssimos os olhares de reprovação ou curiosidade. Os rótulos que nos aproxima do aceitável ou nos delega a categoria de bizarros, sociopatas, kamikazes da boa família. Extramente violento essa mania de termos que assumir, termos que mudar, termos que nos adaptar. Ainda há o discurso de que cada tapa e ofensa que recebemos, na verdade fomos nós que procuramos, por sermos quem somos. Mas, não é bem assim...
Queremos andar de mãos dadas pelo parque e isso não se tornar um assunto polêmico, o destino da humanidade. Queremos ter belos casamentos, há quem queira no vale, na praia, em uma igreja que fora batizado, e isso não ser assunto da semana inteira em algum folhetim cheio de ofensas ao casal. Queremos no almoço de domingo toda a família reunida, os amigos sorrindo e sem aquela bolha de estranheza quando estamos conversando sozinhos em algum canto da casa ou apenas mais próximos que a dez metros de distância. Queremos beijos na entrada ou saída do cinema, sem precisar que as luzes se apaguem para segurarmos no dedo mindinho do outro, com o receio de sermos descobertos e isso ofender alguém. Queremos ser quem somos e isso não dá o direito a ninguém decidir para onde vamos, como devemos nos esconder, qual mentira iremos contar dessa vez.
Não é fácil, não é normal... Você não imagina como é difícil ter que viver em um mundo onde o meu amor é desculpa para o erro alheio. Não é circunstancial ou natural que minha expressão de carinho, que meu afeto, seja motivo para a violência, a ofensa, o conceito que for. Machuca ter que ponderar palavras ao amigo, para não ser mal interpretado por ele ou por terceiros. Ou termos que usar de muita energia para mostrar que por amar diferente, não somos nenhum compulsivo sexual que a qualquer momento cometeremos um crime de pedofilia, zoofilia ou assédio.
Quando vamos às ruas com nossas cores e brilhos, é uma tentativa de mostrarmos que não somos tão monstruosos assim. Quando buscamos por uma lei que nos proteja, não é por privilégios, é uma tentativa de sermos protegido por algum lado, de algum jeito, para termos o mínimo de segurança de não sermos assassinados por sermos assim. Estamos cansados de chegar a casa com olho roxo e coração partido pelas coisas que ouvimos ou por algum agressor que pensou em violência física para nos educar como ‘homem ou mulher’. Estamos cansados de ao dizer com quem queremos passar o resto da vida, ainda que isso não aconteça, sermos expulsos de casa, da escola, do emprego. Ou estarmos no bar ou shopping, onde pagamos como todo mundo, ou na rua que é mantida também pelos nossos impostos devidamente pagos, sermos convidados a sair ou nos ‘conter’ por ter ofendido alguém da redondeza. E ao olharmos em volta percebemos que muitos estão no colo, entre beijos ardentes e fomos advertidos apenas pelas mãos dadas.
Não é natural quando você é de um jeito e o resto do mundo diz que você é errado, é abjeto, é feio. Não queremos que as pessoas gostem de quem somos, que assumam como somos, mas queremos respeito. Se não gosta, se não aceita, ao menos deixa que cada um viva suas próprias adversidades, sem precisar ter que vivê-las e ainda ter que lidar com a sua violência só por não ser quem você imagina que deveríamos. Não é socialmente aceito, ou não deveria, sermos expulsos de um transporte público, que pagamos para entrar como qualquer outro, apenas por segurar na mão de quem se ama e ter que ouvir das coisas mais vulgares já imaginadas entre aplausos para o ofensor. Não queremos ser tema de sermões na igreja que dizem do quanto somos ruins e deus nos odeia – esteja na escritura que for. Ninguém mais tem falado do direito de propriedade de um homem sobre outro, está nas mesmas escrituras, não é mesmo?
Não é aceitável que o amor de uma pessoa, o jeito que ela se veste, senta ou anda, o brilho que usa na roupa ou mesmo a falta dele, que a presença ou falta do salto, nos torne monstros que podem ser ‘educados’ pelos ‘humanos de bem’. O amor alheio, não destrói a sua família. E outra coisa nociva, é ter a ideia de que a expressão do amor dos pais, vai determinar a sexualidade do filho... E se isso acontecer, qual o problema? O único problema que vejo é a sua desnecessária expressão de preconceito. Quando eu penso em uma criança, só penso no quanto espero que ela seja feliz, educada, saudável, amada... Nada tem a ver com quem ela se deitará quando adulta. Só não quero que ela sofra ao ouvir que os pais deixarão de amá-las por elas serem como são. Como tantos de nós ouvimos.
Você não sabe, você não imagina como suas piadas inocentes nos dilaceram por dentro. Não imagina como ‘apenas sua opinião’ nos derrota por mais de um ano. Temos os mesmos problemas que você, mas ainda temos que lidar com muitos problemas que você nos impõe só pelo fato de ‘me amar, mas não aceitar como sou’. O problema em questão, o que não é natural, o que é amoral, nocivo é a sua falta de respeito com quem não é você.

Quando assumimos quem somos para o mundo, ou saímos de um móvel qualquer, não estamos dando nossa cara à tapa, só estamos vivendo aquilo que somos e isso não deveria se tornar a prioridade da sua vida, da sua religião, da sua missão de tornar o mundo um lugar pior e mais violento de se viver. Não quero o seu amor, eu exijo o seu respeito!

Uma carta ao Eric!

Nazaré – Bahia, 27 de maio de 2014.
Meu amigo,
Tenho muito que te agradecer ao longo da minha vida. Desde a sua chegada por ciúmes, foi ficando cada vez mais fundamental em minha história. Como te disse essa tarde (25/06/2014), junto a você eu tenho descoberto um mundo novo, sempre uma nova experiência, uma outra surpresa.
Essa segunda, em especial, quero expressar alguns detalhes específicos.
1.        Agradeço por você me receber sempre tão bem, mesmo quando seus planos são outros. Por fazer de sua família um ninho maravilhoso de pouso, pra esse seu amigo aqui;
2.       Por me incluir em seus planos, sem nem sabermos do dia seguinte... Você nem imagina o quanto isso é maravilho e importante pra mim;
3.       Agradeço, mais uma vez, por graças a você, eu conhecer gente tão talentosa, inspiradora e bela. Não é qualquer lugar que a gente conhece uma constelação tão diversa, bonita, acolhedora como é sua roda de amigos e convívios;
4.       Agradeço por ter mudado seu trajeto e ter ficado horas esperando um ônibus que não veio e seu pai teve que ir buscá-lo (ele deve me odiar mais por isso). E pelo aperto que te fiz passar naquela viação que mais parecia ensaio do inferno – acho que a lotação deve estar muito pra lá do permitido;
5.       Agradeço por ter sido mais uma vez meu confidente... Se antes era por telefonemas inesperados, foi bom chorar com um abraço ao alcance. Desculpa pelo choro e pelo riso sem controle, fiquei realmente à flor da pele.
6.       Não sei o que dizer sobre essa minha mania de falar de um amor impossível, traçar as qualidades e defeitos daquela criatura como se fossem a coisa mais maravilhosa. E você ouvir tudo de trás pra frente mais de seiscentas e trinta e duas vezes por semana;
7.       Amigo, você é aquele amor que não machuca, não dói... É meu melhor amigo (que os outros não se ‘enciúmem’). Você é meu irmão de alma, que não tenho vergonha de falar dos meus pensamentos mais bizarros, e mesmo você me chamando de dramático trinta e duas vezes por segundo, não fala em tom de censura.
8.       Agradeço por topar as aventuras bobas e meio loucas que te proponho... E por inventar outras tantas pra gente. Gosto de cada segundo que estamos juntos, até quando brigamos sobre nossos conceitos distintos sobre o Amor;
9.       Agradeço por estar sempre tão disponível para meus risos, meus choros, meu altar e velas...
10.      Eu tenho ainda muito do que agradecer, mas vou deixa ao cargo da imaginação a partir desse item...
Amigo, eu o amo como uma obra prima natural, que sabe da fundamental presença do artista para existir ainda mais própria e bela. Você, pra mim e pra muitos, aposto, é daquelas almas que fazem do preto e branco se tornar uma vastidão de cores alegres, intensas, cativas. Você é como o pequeno príncipe e acho que sou sua amiga raposa, carente e pedindo pra você voltar no dia seguinte, se bem que sempre sou eu que volto! Sua mãe é uma das mulheres mais bonitas e amáveis que já conheci. Sua irmã me faz sentir tão vivo e bonito, que sempre que ela me abraça eu me sinto cabível no mundo, me sinto importante, sabe? Sua família é especialmente bela... E seu tio é um cara e tanto!
Desculpas, amigo... é um choro de felicidade agora. Escrevo cada palavra com um sorriso nos lábios e muitas lágrimas no rosto. Dizer que lhe sou eterna e imensamente, infinitamente grato, ainda me parece miúdo ao sentir da gratidão que lhe tenho. E agradeço por gostar e me permitir ser seu amigos assim mesmo como sou: “Complicado, dramático demais, estranho...”
Com amor,
Seu irmão, Derlour Dantas.

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