pelo espaço'


Nazaré – Bahia, 16 de outubro de 2014 às 00h00minh.

A mesa estava sem a costumeira toalha, só havia um lençol branco cobrindo todos os móveis. As aranhas haviam feito um belo trabalho. Como não perceber a cor amarelada das paredes antes tão rabiscadas e tão brancas, amarelas, azuis? Tudo parece ter uma bainha afiada, tudo parece cortar a superfície fina da tranquilidade. Não há desejo de ter aquilo tudo de volta, não é vontade de se repetir, é impossível com todas essas marcas latejando os sentidos. Mas, há um desejo de viver aquele momento de novo, tal como foi. O desejo de voltar no tempo e viver todo aquele imprevisto e surpresa sem saber o porvir, o que vem. Como negar que o gosto daquele beijo já não se faz lembrança, mas se sabe que foi o melhor beijo já partilhado? As conversas no pequeno sofá, a troca de olhares, a amizade que transbordava o caldo de cana que não bebi. A maquiagem borrada e o cabelo em vida própria, tudo desgrenhado e fora do tom, mas que, hoje, olhando para trás, eu percebo que aquele era o meu lugar. Talvez, algum dia eu tenha essa sensação sobre esse presente, porém ando tão fora de mim, que a única companhia que me consola e atormenta é a saudade daqueles momentos que nem sei ao certo se vivi ou se apenas sonhei em alguma noite como essa, antes de dormir.

Com amor,
Derluh Dantas.

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