Derluh Dantas
Começarei pedindo desculpas.
Peço-te perdão por não condizer aos seus desejos, nem aos sonhos que você
defende que caibam a mim. Eu sempre transbordo um pouco às bordas, costumo me
atrasar e meus pés gostam de ser um tanto para os lados, dependendo do caminho.
O horizonte não me é tão bonito, só quando há o mar ou alguma colina que lhe
atrita ao fim. E sou assim, pela metade dos conceitos, dos signos. Sou as
tantas palavras mistas que se libertam pela visão e derme. Ah! meus poros não
costumam emanar odor de jasmim, nem tampouco o feromônio que me faria te
seduzir. Mas, perdão por meus sentimentos não serem da cor ou do tom que você
julga cabível.
Já falei que transbordo? Pois
bem, sou exagerado e à flor da pele. Quando o assunto me desperta, eu vagueio
para longe no oculto ou dito. Sou apaixonado pela simples configuração do óbvio
ou seria do seu justo oposto, depende da textura, do gosto.
Disseram que há uma beleza comum
nos meus trejeitos. Já me ofenderam e elogiaram com tantos adjetivos e nomes,
não me sinto condizente com nenhum. Tanto ouço do mundo, que por vezes desejo
ser os olhos do outro e entender a dificuldade de não aceitar a poesia que
vagueia por aí. Nem tudo é maniqueísta, sabia? “Se sou feio, não posso ser belo”!
– Acho isso miudeza tão berrante ou seria falta de visão singela? Não sei, só
acho que existe muito do belo no feio que alguns teimam em ofender ou
restringir. Acho que aprendi com o mar, não preciso ser translúcido, azul,
verde, vermelho, posso ser tudo misturado e os outros que me aceitem assim ou
vivam com a chatice de tentar me resumir.
Mas, essas palavras eram para
falar da paixão que tenho sentido aqui. Ando encantado por quem não conheço,
essa gente que diz tanto com os olhos, os passos, o jeito. Gente que conta do caminho
a parte toda e consegue colorir a tristeza de macios odores. Você já viu uma
mãe guerreira que luta pela vida de seu filho? Ou aquela outra, que defende o
amor, mesmo com toda agressão e violência sofrida? Gente que sabe que tudo é
maior que a frustração ou a mania chata de resumir o tudo ao bom ou ruim, feio
ou belo. Ando apaixonado por olhos que sorriem, vozes que acariciam, imagens
que esquentam, gente de verdade que vive para além da mania de restringir amor,
vida, ser. Acho apaixonante a liberdade sutil de aparecer assim, desnudo,
vestido, simples, complexo, sutil e intenso, da liberdade mesmo em sentir.
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