Derluh Dantas
São tantos absurdos nos noticiários e manchetes de jornais que fico
constrangido em falar de meu medo. Ainda assim. Esta tarde eu tive uma febre
rápida e moleca, não foi pelo resfriado ou pela inflamação na garganta, foi uma
febre pretensiosa, foram sintomas de saudade. Esta tarde eu pude ver a
violência pelo mundo, na segurança cômoda do sofá da sala. Esta tarde eu senti
muitas contradições e hipocrisias da nossa sociedade doente. Mas, o maior incômodo
desta tarde, ainda me é a saudade. Saudade das conversas intermináveis na
pracinha da cidade, dos passeios madrugueiros à beira do rio, das descobertas
de insetos fantásticos... Fazíamos planos de casamento, emprego, família,
negociações com a realidade. Era tempo em que eu chegava lá pelas madrugadas em
casa. Saudades de alguns momentos em que não vivi e/ou da crença de algum
sentido mágico e real para estar aqui, ainda vivo, nesse turbilhão de
incoerências. Eu não sei ao certo – uma tosse de riso desesperado – o que eu
poderia sentir hoje, além deste incômodo na garganta, da falta dolorida na
alma. Estou com câimbras, estou abalado, é triste saber que o bem parece ser
presente só com opressão e é triste saber que meu resfriado vai para além do
físico. Esta tarde eu tenho medo, medo da minha vida e das mortes que se
afiguram pelo mundo. Sei que é político, sei que é golpe, é interesse partidário,
sei que é necessário, sei que é cabível, mas ainda assim sinto em saber que é
aceitável e reiterado pelos sujeitos que andam pelo mundo. E me cabe esta dor
de ser gente e esta dolorosa saudade de ser adulto inadaptado, inconsequente.
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