Na real'

Derluh Dantas
Eu já acreditei em muitas mentiras. Algumas das fantasias que me contaram, fizeram-me ser um tanto descrente e triste, mas não me sinto culpado. Não foi por culpa minha, que acreditei que pessoas podem começar sendo ruins, para depois se arrependerem ou se vangloriarem pela maldade cometida.
Quando eu era criança e brigava na escola, eu fazia de tudo para não levantar infâmias, difamações ou agredir fisicamente alguém. Reconheço que na hora da raiva, nos tornamos um tanto mais bestiais que de costume. Claro que revidei muitas vezes, algumas até provoquei feridas, mas não fiquei feliz com isso, nem um pouco que fosse. Eu já planejei vinganças, mas todas eram do tipo: “viu que eu não sou tão ruim quanto você queria me fazer acreditar?!” Em nenhuma delas eu pensei em tirar nada de alguém, ou ferir quem quer que fosse.
Por que digo isso? Ultimamente eu vejo as pessoas se agredindo como se isso fosse algo naturalmente bom, não é. Agressão, violência, brutalidade é algo que desvia o curso espontâneo das coisas. Por muito tempo e ainda hoje, ouço falarem que há amores que são aberrações, pecaminosos, errados. Eu ouço pessoas inteligentes dizerem que demonstração de afeto não pode ser explicada para as crianças... E logo penso, então as fantasias se tornam melhor se as crianças se tornarem assassinas, traidoras, mentirosas, esquizofrênicas em suas relações e crenças? Como você pode explicar ao seu filho que uma bola jogada entre vinte duas pessoas é mais importante que um abraço entre irmãos, ou um beijo entre dois homens, duas mulheres?
É um tanto arbitrário dizer que por causa de uma bola num campo verde as pessoas podem usar palavrões dos mais bizarros, agredir-se e tudo mais, não? Como você explica para uma criança que o amiguinho dela ou mesmo ela, pode ser agredido porque prefere o rosa ao invés do azul? Que forma de educação é essa que você julga boa para proteção de seu filho? Desculpa a sinceridade, mas essa sua lógica parece uma falácia daquelas mais bizarras, para mostrar que você não é tão inteligente, tão bom ou tão cristão assim... Você não parece estar preocupado com a dificuldade de ‘explicar’ ao seu filho sobre o amor, mas sim mostra a sua total intolerância e habilidade para o bizarro, o violento em dizer que é superior só por ser um machista procriador.
Não consigo entender, de forma lógica mesmo... Qual o sentido de dizer que o amor do outro é aberração, de impedir que o outro tenha direitos iguais aos que ‘você’ já tem. Não me cabe a compreensão de que suas escolhas, das mais fáceis as mais complexas, sejam boas pra todo mundo. Isso parece aquela birra na quinta série, onde você deseja pão com geleia, mas sua mãe só manda suco de limão e você tenta roubar seu coleguinha mostrando que ele é errado por ter uma mãe mais compreensível e um lanche melhor que o seu.
Não sou contra o futebol, não sou contra o heterossexualismo. Mas, acho chata essa mania de achar que se o vizinho é homossexual, seu filho vai ser também... E se for? Ele não vai se importar tanto com a violência fora de casa, ele vai se preocupar em não decepcionar você, pai e/ou mãe, que faz uma criança se sentir aberração ou monstro, sendo você que tem pensamentos tão bizarros sobre humanidade, civilização e ser cidadão. Troque sua proteção contra a realidade, em confiança, respeito, amor maior que os folhetins de palmadas, castigos, proibições ou falta de limites cabíveis.
Mas, não posso deixar de lembrar-me do que minha tia um dia me disse. Era uma tia emprestada, que mais valia que muito sujeito que anda pelo mundo se dizendo sábio. Ela me disse:
“- Um dia quero que meu filho tenha seus lábios e se pareça contigo ainda mais no jeito. [...] Não diga isso, você é um dos sujeitos mais lindos que conheço e você que pensa que a gente não sabe quem você é... E eu lhe aceito, lhe amo e lhe admiro exatamente por você ser como é.”


Com amor e sem fim.

Nenhum comentário:

Santa Pesquisa: