Meu corpo em brasa'

Derluh Dantas

Havia muitas cinzas em volta dela, muitas palavras desnecessárias partidas no chão. Eram tantas nuvens escuras, que ela não queria mais vítimas, lágrimas, lamentos. Os homens ainda atiravam algumas acusações, defendiam algumas barbáries, mas ela estava em outra conexão. Foi ao chuveiro frio, que em contato com sua pele, neblinava todo ambiente. Ela queria dançar. Em cada toque de pele, uma pedra afiada era lançada, eram muitos adjetivos nocivos para um único ser. Mas, ela pegava cada palavra e separava as letras, fazia novo cordão de contas. Ela vestiu-se de deusa guerreira, mas não era pra guerrear, era para dançar vermelha em meio aquela caótica multidão. Bailou com raios, mas não os usou para assustar, só queria iluminar um tanto mais aquela escuridão branca. O que aconteceu com eles? O que eles estão defendendo? Eles já não sabiam, pensavam em alguma conspiração universal, política e lançavam acusações há quem tentasse som. Mas, a mulher de longos cabelos crespos, encaracolados, revoltos, estava de pés descalços e não queria briga. Cruzou-se com uma ventania e resolveu deixar pra ver onde iriam dar. E os homens, assim como muitas mulheres, corriam em círculos, defendiam contradições e tomavam partidos contra si, contra todos, contra o grupo. E ela sentia dor por ver seus filhos tortos, violentos, incoerentes. Mas, era mãe, era deusa, era anciã... Virgem de umbigueira desatada, de tornozeleira de latão, era rainha dos raios, era dona Iansã.

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