Derluh Dantas
O céu já se faz negro com
pequenos pontos de luzes coloridas. Estrelinhas que piscam em silêncio, lá de
longe, me fazendo companhia. Já não ouço mais sua voz dentro do meu peito, eu
deixei as janelas abertas e parece que só agora você percebeu e se foi. Em meio
à sala vazia, o Jazz já não me faz mais suspirar. Algumas lágrimas ainda rolam
no rosto quanto toca aquele sambinha antigo, aquela voz feminina, o sax e a
bossa. Eu aumento o som, talvez uma tentativa vã de fazer calar essa saudade
escandalosa. Não se preocupe, não estou falando de você aqui... São saudades de
ter alguém para abraçar, de desejar o toque da pele, do gosto. De ter uma
companhia mesmo que a solidão seja rotina. Engraçado, eu sei o desenho dos
olhos, eu sei a cor dos lábios, eu imagino cada detalhe da pele macia, do pelo
arrepiado, do toque delicado com a ponta do nariz... Mas, você ainda não existe
para meus acalantos, para meus lamentos, para meus sorrisos desenhar. Engraçado
como amar, para mim ao menos, não precisa necessariamente do presente e da
companhia, é algo além da insana vontade que se forma no maracatu, no frevo
ardente, no axé cadente. Eu gosto mesmo de dançar e amar, se querem me condenar
por isso, sou intensamente culpado e não paro de amar e dançar nem uma vez
mais! Assim, se faz dança nessa noite de lento luar.