Little Reverie'


Derluh Dantas
Um dia, provavelmente, me torne outro de mim. Um dia, talvez, eu seja para além do louco que você vê aqui. Eu não sei bem, mas a chuva desta noite que me contou. Disse que a mudança é só uma questão de forma e cor. Eu sei que aquele voo não me cabe mais ao céu, assim como nadar na mansidão escura do mar à noite.  São tortos desejos, mas são meus. Sim! Ainda são meus. Amarelinha na rua de baixo ou esconde-esconde na casa abandonada da esquina... Roubar goiaba e correr descalço na ladeira. Era meu tempo de menino. Agora, ser adulto, amadurecer, onde encontro um emprego? Preciso ganhar dinheiro, procurar um abrigo e beber nos finais de semana com colegas de trabalho, outros amigos, sozinho. São coisas do tempo, esse traquino que vai e vem, às vezes, faz sem perceber. Envelhecer. Amadurecer... Onde fui me perder de mim? Eu antes era acotovelado por mim, querendo sair pelos poros apertados e espinhas. Agora a oleosidade da pele não disfarça o olhar cansado, pelo contrário, retoca-o ainda mais. De todos os desalentos, tenho aprendido a caminhar sozinho... Tem momentos de sombra em bifurcação de caminho, que a saudade azeda o sorriso, provoca suspiro e faz falta o já ido. Saudades das metáforas partilhadas e entendidas. Daqueles diálogos na madrugada de uma profundidade querida. Ultimamente, tenho sido mais falta de mim. Sem fim...

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