Derluh Dantas
Era dia comum de céu meio cinza. O calor anunciava uma
provável tempestade, com trovões, relâmpagos, vendavais molhados. Tudo parecia
entediante. Mas, ela preferiu arriscar outra coisa, ir contra as recomendações
das anciãs que diziam para tomar banho e ficar em casa. Se a chuva viria mesmo,
então, melhor aproveitar logo. Vestiu-se de vermelho, pés descalços, cabelos
soltos, ela chamou os meninos todos. Fez um samba no terreiro. Os meninos
batucavam e sorriam, ela dançava como uma deusa de corpo e alma. Rodopiava e
fazia a poeira levantar, girar. Algumas crianças desobedeceram e caíram na
roda. No terceiro batuque da quarta melodia, o céu desabou. A chuva fez um baile
com a dança da menina. Era como se o vento e as gotas de chuva fossem seu par
naquele samba de roda. Enquanto os de fora se molhavam e se divertiam, as
anciãs se orgulhavam de sua Iansã muleca e dividiam uma xícara de café quente, outras bebiam chá.
Assim, entre regras quebradas, todos conseguiram contemplar a beleza da
tempestade e a manifestação pura, sincera da vida, do bailar.
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