Um amor assim'


Derluh Dantas
Contaram-me que não estou em condições de escolher. Talvez, estejam certos... Mas, no amor não importa muito a razão certeira dos sábios. Ficamos meio tolos quando estamos apaixonados. Sendo assim, digo que meu próximo amor tem que gostar de chuva. Não precisa ser o mais belos dos amores do mundo, mas precisa gostar de música. E o mais importante de todo gosto, me acompanhar e gostar de mim assim como sou, nem sempre disposto, nem sempre alegre... Por completo e correspondência, preciso gostar desse amor assim como ele vier, claro que sim. Precisa gostar de barba e da falta dela, pelo menos por uns dois dias no mês. Precisa saber dançar de olhos fechados, ainda que saia do ritmo e pareça uma dança ridícula, eu quero acompanhar. Não precisa ser combinado, oposto ou nada desse clichê vendido por aí... Eu quero um amor sincero, que aconteça por espontâneo e me faça sorrir, não menos que os sorrisos que eu provocar nesse ser mais lindo para mim. Eu quero amor que aprecie o sol, goste do mar [amar] e saiba ficar na areia apreciando as ondas e que queira comigo nadar. Quero um amor que venha com amigos, mas que sejam pessoas do bem que consigamos partilhar. Não quero um amor desses com final feliz, mas quero com o caminho repleto de alegrias, sorrisos, companhia e porque não dizer felicidade? Eu quero amor divertido, que haja confiança, mas que acima de qualquer coisa cumplicidade, companheirismo e respeito mútuo. Teremos brigas, provavelmente sim, mas que elas durem menos de um segundo e que logo em seguida as desculpas sejam mútuas não importando muito quem errou. Eu quero um amor real, mas que não consegue sair da minha mais imatura fantasia. Quero tudo que tiver de ser, por gentileza, sem hipocrisia. 

C H U V A
´´´   ´  ´A - O ´ ´ ´´´
M
´   A  ´ ´
 ´ R ´ ´´
M Ú S I C A

Little Reverie'


Derluh Dantas
Um dia, provavelmente, me torne outro de mim. Um dia, talvez, eu seja para além do louco que você vê aqui. Eu não sei bem, mas a chuva desta noite que me contou. Disse que a mudança é só uma questão de forma e cor. Eu sei que aquele voo não me cabe mais ao céu, assim como nadar na mansidão escura do mar à noite.  São tortos desejos, mas são meus. Sim! Ainda são meus. Amarelinha na rua de baixo ou esconde-esconde na casa abandonada da esquina... Roubar goiaba e correr descalço na ladeira. Era meu tempo de menino. Agora, ser adulto, amadurecer, onde encontro um emprego? Preciso ganhar dinheiro, procurar um abrigo e beber nos finais de semana com colegas de trabalho, outros amigos, sozinho. São coisas do tempo, esse traquino que vai e vem, às vezes, faz sem perceber. Envelhecer. Amadurecer... Onde fui me perder de mim? Eu antes era acotovelado por mim, querendo sair pelos poros apertados e espinhas. Agora a oleosidade da pele não disfarça o olhar cansado, pelo contrário, retoca-o ainda mais. De todos os desalentos, tenho aprendido a caminhar sozinho... Tem momentos de sombra em bifurcação de caminho, que a saudade azeda o sorriso, provoca suspiro e faz falta o já ido. Saudades das metáforas partilhadas e entendidas. Daqueles diálogos na madrugada de uma profundidade querida. Ultimamente, tenho sido mais falta de mim. Sem fim...

Criança 'perversa' - Cristina!

Derluh Dantas
A menina derramava algumas lágrimas na raiz daquele belo salgueiro. Ela parecia ter se arrependido, mas não havia crime, era apenas uma criança que em um dado momento falou o que pensava. Algumas pessoas levantaram a mão, gritaram, queriam acabar com aquela pequena criatura. Mas, quais palavras foram ditas? O que pareceu tão grave aos adultos presentes? Então, agora eu narro:
- Cristina! Fez a redação sobre a coisa mais importante para você?
- Sim, professora Carla.
Então, depois de ler suas pequenas palavras escritas em papel reciclado, uma reunião foi feita com a direção, professores e os responsáveis. Cristina teve que ler tudo de novo na frente de uma platéia diferenciada e particular. O texto era mais ou menos assim:
Ainda não sei o que é mais importante para mim.
A professora disse para escrever em algumas linhas, podia ser poesia, narrativa, dissertação...
Mas, o que seria mais importante para mim?
Os belos cachos da Aninha e seu cheiro de jasmim?
O beijo que não foi mostrado na novela das oito?
Ou o filme que eu quis assistir, mas tinha o amor de dois homens e meu pai me proibiu de ver, mudando o canal para um filme qualquer de sangue, lutas e tiroteios?
Eu não sei o que é mais importante para mim.
Mas, gostaria muito que algum dia fosse mais importante o amor, independente de sua forma e expressão.
Mais importante do que o dinheiro que o diretor desvia da escola, o carro importado que a professora ganhou de seu amante e mesmo as traições e brigas lá de casa.
Acho que o que mais me importa é o que me faz feliz.
Então, fico com os cachos da Aninha e seu cheiro doce de jasmim.
O silêncio dos ouvintes foi seguido de palavrões, reclamações e ameaças... Só restou a bela e pequenina Cristina correr por entre o bosque nos fundos da escola. Ela não entendia muito bem, mas uma coisa aprendera: O mais importante ainda é ser livre para ser quem se deseja, mesmo que isso machuque alguns hipócritas pelo caminho!

Feel Free'


Derluh Dantas
O que eu poderia te dizer agora? Poderia me desculpar pelos encontros e desencontros que tivemos, por ser eu, por ainda querer você comigo. Risos. Um sorriso amarelo me surge e os pensamentos são tão belos que penso em me deitar nessa nuvem multicor. Não saberia que palavras usar se estivesse aqui agora. Há momentos que só queria te observar, poder ser invisível e te observar sem constrangimentos. Adoraria ver o que você faz quanto está sozinho e acha que ninguém te ver. Em outros momentos, quando fecho os olhos, ainda consigo ver a água do chuveiro escorrendo e molhando todo o seu corpo, acho que deve ter esquecido que eu já tive essa visão. Mas, queria poder tocá-lo com as pontas dos meus dedos, com as palmas da minha mão. Tem lugares, acho, que teria o impulso de querer saber seu gosto.  De todos os meus desejos, o maior deles é provocar em você a mesma alegria e a inspiração que você provoca em mim. Mas, essas palavras são súplicas silenciosas dispensadas na madrugada, são apenas palavras exposta por mim. Pretensiosamente, o oráculo só teria uma resposta específica às minhas maiores dúvidas... E o meu desejo é poder mais uma vez te sentir dormir, com minhas mãos, meus olhos, meu olfato, meu corpo inteiro. Todo esse tempo que estive longe, que tentei estar perto... Por todo esse tempo, eu quero você comigo!

E ele apenas me diz: "Feel free"

Jogos atemporais'


Derluh Dantas
- O que você está fazendo aqui? – Perguntou sem muitos rodeios, sem um oi, sem cordialidade alguma.

- Eu procurava por você...

- Depois de tanto tempo? Por que agora você me chama justamente para esse lugar? O que você espera de mim depois de tantos anos? – Não conseguia entender aquele contato agora... Sua mente vasculhava qualquer ponto de apoio, mas nada fazia sentido com aquele encontro. – Nem mesmo sei por que vim... Ou o que estou fazendo aqui.

- Desarme-se por um segundo, sei que é difícil... Mas, não quero falar do passado, foi você quem disse que eu não poderia me acercar de sua presença, atenção ou companhia... Acho que se lembra. – Algumas lágrimas desejam cair pela face, mas fecha as pálpebras e as obriga ficarem devidamente onde estão: ocultas àquele momento – Eu desejo que você me inspire...

- Enlouqueceu? Como poderia fazer isso? Eu mudei e não sei se tenho esse poder sobre você.  Depois de tantos anos, acredito que nunca tive. – Assustou-se com aquele louco pedido.

- Preciso te confessar: Eu sempre observava você de longe. Vi seu corte moderno, vi seu rosto ganhar novas feições. Percebi que sofreu alguma desilusão um tempo atrás e que se agarrou a companhia de alguns amigos. Mudou de visual algumas vezes, pareceu arriscar um estilo novo... Mas, mesmo em silêncio e entre arbusto, eu observava você. Vi que se formou, amei as fotografias da festa, do convite, do ensaio... Só que cansei de estar oculto, queria que me inspirasse novamente. Não sei como, mas seu sorriso sempre me provoca uma magia distinta dos demais sorrisos. – Agora as lágrimas foram inevitáveis... Não queria sofrer tudo de novo, mas tinha algo que unia esses seres.

- E como você está? – Foi uma pergunta comum, parecia querer deixar claro a superficialidade daquele momento.

- Eu poderia dizer que estou bem e perguntar como você vai. Mas, sinto as lanças afiadas do gelo a me atravessarem o peito. Eu tinha razão, tudo em você me inspira. Até sua bela presença mostrando-me que me esqueceu. – E na certeza que não podia ser dita, percebeu que nunca deixou de amá-lo.

Foi assim que ambos se despediram novamente... Um voltou para sua vida de cores, raves, amores... E o outro, para o arbusto próximo, se esconder novamente... Ou tentar mais tarde outro encontro.


*Não é um diálogo real nem completamente fictício... Mas, uma inspiração solicitada que de maneira sutil foi correspondida. E respondendo a pergunta: Sim, você ainda me inspira só pelo fato de transpirar uma energia, vida.

Dança e Chuva'


Derluh Dantas
Era dia comum de céu meio cinza. O calor anunciava uma provável tempestade, com trovões, relâmpagos, vendavais molhados. Tudo parecia entediante. Mas, ela preferiu arriscar outra coisa, ir contra as recomendações das anciãs que diziam para tomar banho e ficar em casa. Se a chuva viria mesmo, então, melhor aproveitar logo. Vestiu-se de vermelho, pés descalços, cabelos soltos, ela chamou os meninos todos. Fez um samba no terreiro. Os meninos batucavam e sorriam, ela dançava como uma deusa de corpo e alma. Rodopiava e fazia a poeira levantar, girar. Algumas crianças desobedeceram e caíram na roda. No terceiro batuque da quarta melodia, o céu desabou. A chuva fez um baile com a dança da menina. Era como se o vento e as gotas de chuva fossem seu par naquele samba de roda. Enquanto os de fora se molhavam e se divertiam, as anciãs se orgulhavam de sua Iansã muleca e dividiam uma xícara de café quente, outras bebiam chá. Assim, entre regras quebradas, todos conseguiram contemplar a beleza da tempestade e a manifestação pura, sincera da vida, do bailar.

Bifurcação íntima'


Derluh Dantas
Eu quero você, seja lá qual for sua cor. Espero que seus olhos sejam iluminados por uma alegria particular, principalmente quando me vir sorrir para você. Não sei nem seu nome, mas já te espero empolgado na janela do quarto. Fico eufórico em cada possibilidade de te encontrar. Seu sorriso já me faz um carinho particular, quando tudo parece triste. Eu o imagino acarinhando meus cabelos, quando a tristeza não permitir palavras. Ontem, eu quis tanto você aqui perto, para um abraço, apenas. Eu sei que de alguma maneira você existe, eu sinto isso. Não tem como ser apenas uma loucura leviana de um sonhador. Se for, você é o sonho mais real e belo que posso ter. Eu o imagino de cabelos rebeldes, de remela nos olhos, de sorriso tímido ao acordar e me ver admirando seu despertar. Eu quero você de bom ou mau humor, porque sinto que mesmo quando a raiva nos tomar de susto, nós não seremos nem um pingo distantes ou cruéis um com o outro. Teremos muitas brigas, bem verdade... Sobre o cardápio, sobre a pizzaria, sobre que filme nós assistiremos como tentativa de nos alegrar. Provavelmente, você terá uma camisa predileta que eu não vou gostar muito, já está desbotando e você insiste em usar sempre que temos uma ocasião “especial”... Quer dizer, todas as ocasiões nos serão especiais por algumas sutilezas que somente nós perceberemos e riremos delas muitas vezes, mesmo depois que passarem tempos. Nossas fotografias serão belas, haverá uma cumplicidade que ficará impregnada na imagem, um amor particular. Eu não sei onde você está agora, mas sei que de alguma forma o universo tem conspirado para nos encontrarmos na nossa íntima bifurcação do caminho.

Sou Louco Querer'


Derluh Dantas
Sou homem, masculino... Assim tem no registro, nos documentos, como me vêem por aí. Não uso saias, nem batom, muito menos vermelhos. Não uso maquiagem, nem salto alto. Sou desses sujeitos comuns que você vê na rua. Talvez, minha forma de andar ofenda alguém, chame atenção de outro, nada muito especial. Meus lábios foram elogiados duas vezes, se não me engano pela mesma pessoa, ou mais. Gosto dos meus olhos, apesar de às vezes parecerem meio diabólicos, mas são meus. Gosto de meu cheiro, não tem nada que desperte grandes interesses alheios. Mas... De olhos fechados me sinto outro, tenho tantas sexualidades que nem mesmo as mais variadas definições me permitem acessar, quem dirá os outros. De olhos fechados, sinto-me num salto agulha tamanho 16cm. De corpo inerte, tenho os lábios rubros como o cintilar do rubi mais puro e tradicional já visto. Minha genitália, são todas as permitidas e outras tantas criadas pela minha mais leviana criatividade. Sou desses sujeitos meio homem, meio mulher, meio outro. São tantos de mim, que minha sinceridade fica a flor da pele e no reflexo do espelho me vejo nu, nua, sua. Sua mais atormentada abstração. Pois é, não caibo nos planos, não quero caber, não posso. Sou um louco querer!

Sobre mim, mar'

Derluh Dantas
O mar estava calmo, iluminado por um tom laranja que vinha do céu. Aquele raio solar, refletido pela lua, quando encontrava as ondas tornava-se um prateado em dança. O menino, que o tempo se fazia sentir na pele e na alma, lançava ao vento seu lamento de vida e morte. Seu desejo era alcançado pelo vento, batia nos coqueirais e caia ao mar adentro como um desejo quente. Ele pedia por vida, por caminho próprio, asas, alegrias. Era o desejo de caminhada, era o agradecimento de todo dia. Em meio aos devaneios de seus pensamentos, agradecimentos e pedido, uma luz azul em misto vermelho lhe surgiu. Uma voz não conhecida cantou uma dúvida: “quem é você aqui?”. Aquela pergunta fez girar a cabeça, o espírito, o lamento. Um menino, agora homem fez chorar lágrimas torrentes, não sabia o que responder. Ele era o que os outros fazia dele, inseguro ou mais um? Fechou os olhos e tentou sinceramente responder. Quem se é, não se sabe... Mas, deixou que aquela imagem o atravessasse e cantou... Fez girar a dança e assumiu para si mesmo que agora o que lhe restava era arriscar. Ousar à vida pode não ser tudo, mas é o caminho que se deve traçar quando viver é tudo que se resta. Abriu os braços, deu alguns passos e se lançou aos braços do mar. Importante lembrar: era noite e foi assim que se fez curar, amar.

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