Por mim'

Derluh Dantas
O espelho estava embaçado, mas ainda assim pude reconhecer um sorriso misto de lágrimas. Aquela ansiedade, a dúvida, a esperança de que exista realmente um caminho próprio a ser descoberto. E me veio uma dúvida, quantas vezes nessas histórias confusas, já tivemos por perto sem nos conhecermos? Será que nossos olhares já se cruzaram, mas por alguns segundos de desencontro não pudemos nos encontrar? E aquele arrepio no meio da estrada, a leve irritação na nuca, será que era a nossa aproximação no tempo ou no espaço? Será que você realmente existe? ... Ou há apenas esse sentimento platônico de te querer um pouco mais próximo e sempre ter que me contentar com a fotografia, a música partida, o desejo borrado? Talvez, eu realmente me saia bem tendo a solidão de companhia, porém fica uma cadeira vazia me alertando que possivelmente você irá chegar – algum dia. Eu ainda continuo no sofá da sala, entre algumas tristezas e alegrias, tentando me manter lúcido. Mas, há o canto do guarda-roupa, há o armário, ainda há máscaras que não me cabem muito bem e que tenho que sustentar. O espelho, mesmo embaçado, denuncia um crime à minha alma, que parte, me racha, me faz voltar ao salgueiro chorão mais uma vez sozinho. E a correnteza do rio me faz despertar ao opaco que tenho que assumir durante uma rotina cansativa, sem sentido e dizem que necessária. E assim, vou me desenhando sem assumir muito bem os contornos da minha própria vida, minhas alegrias, minha alma, minha face!

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