Derluh Dantas
E o menino olhava aquele rio com uma familiaridade que a alma bem
conhecia. Ele estava em casa de novo. E todo o lugar lhe parecia o mesmo, eram
as mesmas árvores, com uma poda diferente, os ladrilhos da rua, aqueles antigos
casarões... Mas, o menino já não se reconhecia naquele lugar, era a sua casa,
mas não parecia lhe caber naqueles cenários. Onde estão seus amigos? Cadê as
brincadeiras barulhentas por ruas e vielas daquela cidade? Onde se esconderam
todos aqueles sonhos e planos? Todos cresceram, foram embora, estão por outros
caminhos. O menino desenha um sorriso na alma e algumas lágrimas lhe escorrem
pela face, ele tem saudades. Que vontade da guerra de água, do faz de conta de
ter superpoderes ou mil e trinta e sete ideais. Que vontade de ter amigos
reais, que brigam, ficam de mal e logo na sequência máxima e ‘pra sempre’ de
três dias, está tudo de volta ao normal e mais sincero. Ele que pensava mudar o
mundo, olhando a correnteza do rio, lembra-se de que precisa arrumar o quarto.
Ele percebe que precisa jogar alguns souvenires no lixo, desentulhar os
armários e quem sabe sair de algum deles. Precisa novos planos, outros sonhos,
precisa permitir que o tempo faça o seu trabalho. O menino não tem do que se
lamentar, ele apenas sente gratidão por ter conhecido histórias tão diversas,
belas, coloridas... Mas, está na hora de levantar, o rio já se tornou pequeno e
raso demais. O menino precisa sair desse banquinho e se lançar de uma vez por todas
no mar, no oceano da vida. Mas, o menino tem medo e não sabe de qual janela
deve se esgueirar e se lançar. Que vontade de voltar a ser menino e sonhar com
o aquário, o jardim, a liberdade que terei quando for grande e adulto... Mas,
mesmo não permitindo o trabalho do tempo, ele se faz implacável e inexorável.
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