PETERSON RICARDO DE OLIVEIRA.

Derluh Dantas
Peterson Ricardo de Oliveira. Você conhece? Já ouviu falar? Ele tem 14 anos e não poderá saber o que vem depois dos rompantes e inconstâncias da adolescência, não chegará a ser adulto, não terá os dilemas de que curso irá tentar no ENEM, não vai planejar as próximas férias de verão. Ele foi morto pelos “coleguinhas” de escolas, aqueles que defendem a “família tradicional” e que pensam no “melhor” para nossas crianças. Dizem que ele foi espancado por cinco colegas na escola, aquela que ele estudava desde os seis anos de idade. Os cinco colegas são “heróis” para alguns, eles defendem as piadas diárias, a chacota, eles fazem coro que “homofobia” não existe, “é viadagem dessa galera alternativa que vê problema em tudo”. Desde os seis anos de idade ele convive diariamente com as “brincadeiras inocentes” de crianças que vivem num “lar normal”, os coleguinhas do adolescente são filhos do amor e do bem incentivado pelos pais heterossexuais e de bem (não pense que todo heterossexual é bom, alguns ensinam respeito e amor aos seus filhos – coisa muito progressista e vanguardista pra outros, para os pais dos cinco provavelmente). Peterson foi morto e convivia com seus algozes diariamente, dizem que o motivo era o amor de seus pais. Peterson foi condenado por um crime que alguém inventou, possivelmente os pais e professores de seus carrascos. Peterson foi morto porque não era filho de um casal ‘normal’, foi morto por ser cuidado, amado, educado, respeitado por um casal homoafetivo.

Peterson, agora eu queria falar contigo, espero que possa me ler onde quer que esteja nesse vasto universo pós-morte. Peterson, sua vida não é menos importante que a de quem quer seja, você foi morto, mas nem por isso será menos amado por aqueles que puderam conviver contigo. Você não está sozinho e mesmo que tenha medo, não pense que seu medo é algo errado, você pode confiar em alguém. Não permita que lhe digam que você é menor ou menos digno, você foi uma flor plantada no jardim da vida e por ser tão belo e bem cuidado, alguém teve a infeliz ideia de querer lhe arrancar de seu caule, por isso te peço perdão. Perdão por alguns ainda se acharem melhor ou maior do que você, acho que as pessoas têm medo do amor, o amor bem sucedido assusta, prova a falha de algumas escolhas, prova a ineficácia das regras e tabus preconceituosos. O amor é sempre amor... E mesmo que alguém lhe diga que sua vida é menos digna pela forma que ama, veste, fala, convive, não se assuste, você não está sozinho e tem gente que quer lhe estender a mão, lhe fazer abrigo, cuidar de ti. Perdão, Peterson, perdão e espero que onde quer que esteja não deixe os carrascos vencerem. Mesmo com o medo que deve ter sentido e a raiva que sentimos ainda vivos, eu espero que você opte sempre pelo respeito e pelo o amor. Do outro lado da vida, tenta continuar sendo o menino que seus pais lhe ensinaram a ser e se for possível, semeia um pouco de amor aos vivos que ainda estão a labutar pela vida. Aos seus pais, perdão. Perdão por eu não ter corrigido meu colega de trabalho que pensa que ser bom é ser apenas heterossexual; ou minha vizinha que tem amigos gays, mas não aceita suas práticas e os vêm como bichinhos exóticos para o mal; perdão por não ter alertado e respondido a piada sem graça de meu tio sobre homossexualidade; perdão por não ter convocado uma manifestação ou ter saído da zona de conforto do meu sofá; perdão pela sua dor ser tão imensurável; perdão pela sua perda... Eu não consigo conceber um argumento válido para que o relacionamento de vocês, seja motivo para matarem seu filho ou quem quer seja, mas eu ainda me calo. Perdão pelo meu silêncio frente a essa opressão diária. Perdão, perdão por saber que teremos outros Petersons, outros Bobbys (esse tirou a própria vida por não aguentar o amor materno de sua mãe, tão boa cristã, que não o aceitava e o tentava curar de ser homossexual) e outros tantos ainda sem nome nas lápides e terrenos baldios... Perdão por sermos tão racionalmente brutais.

... lágrimas me rasgam à alma ...

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