Meu Sábado assim'

Derluh Dantas

Era uma chuva insistente, sem aviso e que surgia mesmo sem o céu estar nublado. De onde viria toda aquela água? Já não importava, ninguém percebia suas lágrimas discretas. Seus passos eram calmos, mesmo com o toró que lhe encharcava as vestes. Havia uma tristeza dissimulada em seus braços, em seu olhar. Os pensamentos eram tortos e torrentes como a chuva que lhe encontrava. O que aconteceu com sua vida até aqui? Onde se foram os amores e paixões que o envolviam? O que tem acontecido com sua magia íntima? As perguntas foram crescendo em número, tamanho, complexidade. Seus passos começaram a vacilar, ficaram incertos, talvez, fosse melhor parar por um tempo. Levantou o olhar, preferiu continuar seu caminho, mesmo sem vontade alguma de chegar. Havia encontros em seus últimos dias, mas já estava gasto demais para brincadeiras infantis, miudezas e vinganças pirracentas de não se sabe ao certo o porquê. Ele já não era mais um menino. Apesar da vontade de ciranda, de brincadeira de roda, de corrida ao ar livre, já não lhe interessava a disputa do ‘é meu, é seu’ ou ‘você que começou’. E cada lágrima que lhe escapava, lhe dava uma certeza de céu ainda mais nítido. Haveria chuva, tempestade, arco-íris, bonança... Haveria a complexidade simples de cada caminho, passo, caminhada, mas de todo encanto, ele agora sabia que precisava a cumplicidade de um ser distinto, de um ser nítido, de mais um tanto... Chovia!

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