Derluh Dantas
Caminhou pela casa. O ambiente
era escuro e silencioso, estava sufocado com aqueles pensamentos. Era desejo
pecaminoso, era vontade, era cio... Era assexualidade, era falta, era vazio.
Tudo milimetricamente apertado, acotovelando-se no espaço escasso de seus
brios. Havia rima para além daqueles passos noturnos, para além daquelas
lágrimas incolores, multicolores, cores. Adjetivos diversos foram pensados e
armengados. Esqueceu o ritmo de seus passos e seu corpo se mexeu pro lado
errado. Era seu dom de menino desempregado, abandonado, dramático... Seu dom de
fazer, arriscar tudo errado. E do erro fez-se outro ritmo, outro rito. Era
outono lá fora e na alma do menino. Agora os passos se assemelhavam a dança,
dança calada, cálida, embriagada de amarelo, rubro, anil. Lá fora silêncio,
indiferença do povo que se cansa sem luta, se acomoda sem cabimento. Tudo
errado lá fora e o erro do menino, era o pecado maior a ser discutido. Ele não
cabia na rotina, não cabia na expectativa... Ele era massa excedente, covarde
demais para sumir e corajoso de mais para não assumir!
– Esse menino era eu, dançando no
caminho para cozinha, um som que só eu ouvia.
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