Derluh Dantas
O céu não tinha cor anil, para onde teria ido aquele azul? As
flores não desabrocharam e tudo era meio opaco e sem cor. Não era primavera nem
verão... Que estação seria aquela? Não havia termômetro que conseguisse
determina a temperatura.
As pessoas pareciam manequins de vitrines com máscaras muito
nítidas, sem feição, sem brilho, lágrima ou sorriso. Tudo era brando, era
calmo, era sem sentido. O único movimento era o de ondas na superfície,
provocadas pelo amontoado de meus desejos em uma represa transbordante, que não
deixava se quer uma gota transbordar. Era contradição.
O som era silêncio perturbador, ao menos aos meus ouvidos
atentos ao nada. As mãos estavam inertes, buscavam o tato que parece impossível
encontrar. A pele fria escondia uma alma quente, vibrante, que já não parecia
está desperta naquele lugar. Eis que tudo era o mais completo vazio inundado de
nada. Eis que era igual e rotina... Eis que o som começou a tocar:
“Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des
malentendus
Et le
temps perdu
A savoir comment”*
Assim
as flores se sacudiram, provocaram novos movimentos, cores, sorrisos naquele
lugar. A paz se tornou a presença de lágrimas, de risos, de lembranças. O não
sentir não era possível. As almas todas ainda continham máscaras, mas algumas
sangravam, outras tingiam a face de cores rubras... Era um tanto de cores a se
experimentar. Tudo isso com música: Piaf sobre o amor, sobre o tempo, sobre a
vida a declamar, deleitar:
“Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir”*
* Trechos da música “Ne Me Quitte Pas” de Jacques Brel, interprete Édith Piaf
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