Derluh Dantas
Estava sozinho no apartamento. Curtia a solidão e olhava, ficava
tentando entender como aquele pequeno espaço podia guardar e conter tantas
lembranças. Lembranças boas e umas tantas memórias borradas de informações que obteve
nesses últimos tempos. Antes, ele acreditava que aquele conto de fadas era para
sempre, até descobrir que o sempre tem um momento de fim, também.
Desesperou-se
com o conto de fadas desfeito, mas ficou feliz com as lembranças que seriam para
sempre suas, aqueles sorrisos compartilhados, os olhares trocados e as
maravilhosas carícias. Ele sabe que tudo aquilo foi maravilhoso, mas descobriu
que havia outros naquele jogo sensual.
Pois, sim, enquanto ele ofertava
exclusividade e acreditava que era recíproca, depois de alguns meses
pós-partida, ele descobriu algumas traições... Não relevantes agora, porém, o
apartamento vazio estava sufocante de tantas memórias físicas: fotografias,
cartas, o cheiro, as marcas na parede, nas fronhas, no espelho. Tudo o fazia voltar
ao conto que não existe mais. Ele tem saudades, ele sente falta, sabe que o
outro, talvez sinta, também... Saudade, nem sempre é desejo de volta, não tem
como voltar ao paraíso desfeito.
Hora de começar um rito em fogo, queimar as
fotografias, borrar as tatuagens da alma, deixar as lembranças livres e
libertar o coração para novas saudades. Assim, ele decidiu mudar a cor da varanda,
o amarelo, agora fosco, será lixado e tingindo de outra cor... Cor essa ainda em
discussão com as emoções e a solidão.
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