pós três atos'

Derluh Dantas
Três fatos distintos me provocaram profunda imersão em mim, saudade intensa se transbordou e o silêncio superficial ocultava um barulho estridente da alma. Perdoe-me os períodos longos, as redundâncias e possíveis confusões, aqui falo apenas de verdade. Verdade é coisa simples, mas que provoca uma inversão contraditória no cotidiano social. Vamos aos fatos:

1) Queixei-me com uma amiga sobre o sumiço e indiferença de outro amigo nosso. Falei das tentativas de contato e da total falta de resposta, interesse, cuidado da outra parte e por fim me queixei dos afastamentos sem despedidas, sem aviso, sem perceptível consideração. Ela, por sua vez, alertou que nenhuma distância é unilateral, que o afastamento ou fim de um relacionamento envolve ambos os lados.
2) Um conhecido, daqueles que sobrevivem ao tempo, me questionou sobre meu relacionamento com algumas amigas. Ele lembrou-me que eu convivia muito com aquelas meninas, mas há um tempo ele somente me vê sozinho e na maioria das vezes sem qualquer companhia. Pediu desculpas e perguntou-me se algum fato havia ocorrido para minha aparente solidão e afastamento.
3) Uma literatura antiga e inacabada, aquele livro que a gente gosta de ler, se delicia com o enredo, com a magia do começo se afastou. O livro foi perdido por um tempo, sabia que outro alguém lia, alterava a capa, amarelava as páginas, coisas comuns a livros em uso. Acidentalmente, assim digamos, foi reencontrado numa tarde de domingo, não foi empréstimo ou devolução, só um tempo curto para suprir algumas lacunas do enredo, foi bom reler o conto, mas provocou novas dúvidas, novos desejos, mas a literatura já não é a mesma.

Três fatos distintos e em diferentes momentos, coisas que me fizeram mergulhar no infinito perturbador de uma alma anciã com síndromes de menino ainda pequeno. Eu quero pirulito, quero gritar que “tô de mal” - querendo que o outro me peça desculpas-, quero chorar em berro alto e que todos se acomodem na tentativa de mais um mimo pra mim. Ando querendo carinho e já não suporto essa universalização das coisas. Não, não foi um afastamento que desejei, eu tentei contato, eu corri atrás, eu soprei brisas de abraço e até pedi garoas de sentimentos com lembranças dos tempos idos, mas o outro simplesmente não me deseja por perto, soube está se afastando dos velhos amigos e eu me tornei mais um personagem qualquer de folhetim nacional impopular. Não tenho optado pela solidão, não me afastei das antigas amizades, mas as histórias foram se desenhando assim. Tenho uma nítida e objetiva sensação que enquanto o tempo corria, o tecido se fiava, eu fui aquele personagem que foi ficando e apenas assisto muitos partirem do lugar, da história, do enredo ou literatura. Sobre a literatura do terceiro ato, não sei, não consigo elaborar melhor esta história sem dar spoiler, eu preciso vivê-la um pouco mais, porém já não sei se há oportunidade ou paciência pra isso.

Pois é, Tempo... Algo tem se partido, tem se perdido, tem se transformado, mas minha alma ainda que inteira, sente muitas faltas.




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