Para Justiça: Não teve intenção de matar
Mas para a família que perdeu seu ente, fica a dor da saudade
A vontade da volta e o nunca mais vai voltar
É engraçado, se não fosse doloroso demais
Imprudência no trânsito, álcool, velocidade
E para Justiça: Não teve intenção de matar
“Não teve a intenção de matar”
A cama vazia, o cheiro ainda em roupas sujas
Que agora são limpas para trazer a lembrança
As lágrimas insistentes, loucura
Vontade d’aquele doce olhar
Do sorriso do filho, das conversas e conselhos da mãe
E a lembrança:
No asfalto o sangue ainda quente, o pulsar de uma vida
Aquele antes tão alegre, agora inerte no chão
Aquela que falava de amor, agora com lábios cerrados e úmidos pelo próprio sangue
E a Justiça “imparcial” determina:
“Não teve intenção de matar”
“O álcool e a direção não combinam, mas eu faço”
Diz um motorista
E a família em lutada, se muda para amenizar a dor da saudade
Há todo momento a lembrança
E para aquele que “não teve a intenção de matar”
A vida pacata continua, regada a álcool e festas, e no final delas a direção
Fala-se em assumir o risco, mas e a criança que na calçada brincava
O que ela assumiu?
As conseqüências de alguém: “que não teve a intenção de matar”
Sei que todos nós podemos cometer um acidente
Mas as causas devem ser consideradas mais a fundo
O não ter a intenção de matar acontece em acidentes
Mas se se sabe que o álcool, a direção e a velocidade não combinam
Por que o faz?
Por não ter a intenção de matar?
Mas o único irmão foi perdido, aquele que não bebeu
Fazia seu caminho com um amigo, e agora se foi
E o assassino que “não teve intenção de matar”
Porém, estava embriagado, há mais de 120 km/h
Continua sua vida sem perdas por aquele “acidente”
E a irmã, com esperança impossível do irmão voltar
Fala da dor de não ter dito que o amava
Minhas lágrimas e minha revolta têm justificativas
Sim, é pessoal
Dirão que estou misturando emoção, sem razão minha revolta
Mas só sabe a dor da perda, quem perde
Mas a Justiça, como não foi ela a ferida e amputada
Fala que o motorista imprudente “não teve intenção de matar”
Mas fica a dúvida, se sabia do risco, teve intenção de que?
O fato por si se explica.
Desculpem-me a falta de outras justificativas
Só não entendo quem a Justiça protege
Porque quem sofre a perda de uma vida estimada fica em luto
Enquanto quem causou esse luto fica impune
Ou melhor, absolvido pela Justiça
Enquanto a família recebe a sentença de nunca mais ter o abraço ou sorriso do ser amado.
O motorista alcoolizado, o assassino para mim, tem a sentença de “não teve a intenção de matar”...
Ponto final para o começo da dor, da falta insistente, da ausência eterna de quem ver seu filho, sua mãe, amigo, tia, seu pai, seu irmão morto em “acidente”.
E reticências para o motorista imprudente que não teve conseqüência real do seu ato criminoso, reticências para demonstrar que na vida dele, aquele acidente pode ter custado uma quantia em dinheiro, mas na realidade ele não tem noção nenhuma do dano que provocou na vida do outro, porque “não teve a intenção de matar”, porém queria dizer a estes e aos futuros potenciais criminosos: que mataram, não só o que está no asfalto sangrando, mas quem em casa tem a noticia da morte de uma parte daquele (a) que antes era parte de sua vida, e agora é uma parte significante que fora amputada...
savesave
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