Orando ao mar e sendo instigado pelo céu e pelo vento!

.                                                    Derlour Dantas
Olhando o céu, exatamente no momento em que costuro essas palavras, me veio um desejo de ficar em silêncio e de fazer uma música, na mesma medida e ao mesmo tempo. Se eu soubesse compor e cantar, de certo que agora nasceria uma melodia, surgiria o ritmo, descobriria uma harmonia e um canto eu faria. Aqui mesmo, diante do vento, da mata, do mar. O céu estava de um lado barulhento com suas nuvens e tons, do outro um silêncio completo, sereno, estático. E eu... Mas eu sou mesmo do desafino e da poesia meio crua... Eu sou esse descompasso de buscar e testar sentidos. Eu sou sinestesias e desafino... E mesmo por tantas vezes querendo partir, hoje me deu uma vontade danada de chegar, chegar em meu próprio ritmo e caminho, aceitar esse prazer e essa tormenta de ser quem se veio para ser. Viver meu processo e minha cadência, ainda que fora do tom e do ritmo, com uma certa realização de estar em movimento e vivo. Eu não sei me despir e também não sei me vestir, é de tanto não sei que eu te digo, diante da diversidade do céu, da música do mar, do bailar do vento, da areia, da mata que viver é mesmo sobre estar, sentir e permitir-se ser vivo! Ah, que bobagem essa mania de escrever e tentar atribuir alguma mensagem relevante ou algum sentido que faça sentido, agora eu fico em silêncio e se quiser, permita-se de verdade se encontrar e se amar! 

De um filho do vento.

pensando na fé'

                                                      Derlour Dantas
Fui buscar a definição de fé no dicionário, nos artigos científicos e em livros sagrados, mas para cada explicação do que era a fé, algo me faltava para aquele momento em que buscava um "porquê"! Sempre dizem que "a gente colhe aquilo que planta", mas em nenhum canto de terra vai nascer só o que a sua mão semeia, porque a vida é diversa e se a terra fértil, outras sementes e brotos hão de nascer ali. Caso ela não seja tão fértil assim, seu plantio talvez não vingue, mas de certo haverá algumas ervas ainda assim. É que coisas boas vão acontecer com pessoas ruins, assim como coisas ruins acontecem com pessoas boas também, e sim, ninguém é completamente bom ou ruim, eu sei, mas não é sobre isso aqui! É que não há garantia alguma na vida e para mim, bobo que sou, meio ferido, decepcionado ou frustrado (não sei qual cabe melhor aqui, talvez os dois sejam relevantes) e quebrado com tudo em mim e com tudo o que experimento por aí, a fé era um abraço do tempo, dizendo que mesmo não parecendo coisas boas hão de pintar por aí. Eu sei, a roseira que plantei ainda não deu flor, mas tem espinhos, a pintangueira que ganhei, depois da primeira frutificação, começou a adoecer e podamos na esperança dela se recuperar, a jabuticabeira ainda não deu fruto e não saiu do tamanho que chegou... É isso, tá bem complicado de manter a fé em mim, mas eu ainda tenho ela por aqui e de algum jeito eu tenho tentado cultiva-la, diversifica-la e acolhê-la para não desistir. De algum jeito, é uma fé alimentada por coisas miúdas, alguns detalhes que parecem bobos, encantos sutis que me fazem não desistir ainda. De algum jeito, contra muitos conceitos e fatos, eu ainda mantenho a fé acesa no altar que sou. Ah! E preciso agradecer algumas excessões, que nem sabem que são, pela poesia e dissonância que são e me provocam, elas costumam dar ânimo a fé que por vezes capenga e vacila também. Fé para seguir.

Tentativas de voltas'


 Derlour Dantas - Com saudades do Cajuh

Meus melhores textos e poesias, eu sinto que me surgem quando eu não tenho ao alcance das mãos a possibilidade ou oportunidade de registros. Tento gravar na memória, mas se perdem como um sopro de outras palavras que surgem. E eu fico com aquela sensação de que o mais importante eu não digo, não registro, não exponho e vou vivendo aos poucos como consigo. De exemplo, no banho *da pouco me veio uma prosa bonita entre o eu, o tempo e as feridas. Era algo sobre uma vontade miúda de voltar aqui, de voltar lá, de voltar para mim. Mas no findar do banho, a poesia já era espumas se desfazendo com o cair das águas do chuveiro e indo para longe com o sugar do ralo. É que o Tempo nem sempre é esse Deus bonito que falaram à canção e tanto dizem em cantigas e orações. O tempo pode ajudar a curar feridas, é verdade, mas o tempo não ajuda com as dores da alma e com as cicatrizes. É que o tempo é bom mesmo, ao que parece, em desgastar, cansar, romper, não sei dizer mais, é que eu queria voltar aqui com um arranjo bonito de palavras e rimas. Mas nem fui pular carnaval, nem senti uma vontade legítima. E eu voltando aqui é o incentivo de um amigo de prosas virtuais e da vontade constante de eu me encontrar comigo e ser de novo esperança, coragem, poesia, vida, sentido e um tanto mais que eu sei que já fui um dia. O tempo não tem sido muito o meu amigo, mas sempre que penso, ele é generoso e eu vou tentando um acordo dele comigo.


Santa Pesquisa: