Um bolero acontecido

Derluh Dantas
Segura a minha mão. Não precisa ter medo. Eu só quero te mostrar todos os meus segredos e encantos. Mas, pra isso eu preciso de todos os seus sentidos apurados e desnudos.
- Silêncio -
Eu preciso que me responda, eu necessito saber sua vontade. Não me deixa ser autoritário ou invasivo. Os segredos só podem ser revelados com a cumplicidade do desejo.
- Sorriso -
Essa meia-lua que se desenha em seu rosto, o que significa? Eu devo dar mais um passo? Devo retroceder alguns outros? Ou aguardo aqui, no mesmo lugar, até que você apresente a sua vontade? Estou confuso e meus segredos parecem mais profundos. Eu quero, mas meu querer precisa correspondência, cuidado, parceria.
- Silêncio -
Não sei se isso é indiferença, não sei se é timidez, estou confuso. Ao mesmo tempo em que me fecho por não achar alento, você segura minha mão e sorri. Você se aproxima, mas não permite abraço, beijo. O que você deseja de mim?
- Sorriso -
Meus segredos fugiram para o telhado. Meus encantos se borraram, perderam o tom e parece um desastre anunciado. Meu sorriso amarelo se fez presença, minhas mãos já não sabem onde devem pousar ou como parar de tremer. Tudo parece nebuloso e frio. Você não vai, não chega, não se aproxima, não permite, não me deixa.
- Silêncio -
Olhei em volta, meu desejo era que os segredos fossem nossos, uma partilha a dois... Mas, ao olhar as estrelas do céu, só por um segundo – calculava minha percepção - você se perdeu em outros braços, os beijos ali pareciam fáceis e fartos. Lágrimas sutis.
- Sorriso -
Tudo bem! Eu fico feliz pela sua “conquista”, pela sua desenvoltura e destreza sensual. Você tem uma luz quente e conflituosa. E minha alma retoma os segredos, eles são meus de novo. Ainda sou capaz de me apaixonar. Acho que combino com tempestades intensas.
- Silêncio -
Foi loucura meu desejo de te levar aos meus encantos e segredos. Somos feitos de coisas diferentes. Eu sou de carne e desejo, você prefere jogos de conquistas e julgamentos. Não há melhor ou pior nessa comparação, somos apenas distintos. Agora, depois da tempestade e com a terra molhada, o rio revigorado, as ervas daninhas crescidas, eu sei que sou novamente inteiro, próprio, poesia.
- Som e riso -


Nenhum comentário:

Santa Pesquisa: