Derluh Dantas
Eu que deveria começar pelo
começo, não sei ao certo onde ele se encontra, como o desenhar ou reconhecer em
meio ao caos. Sinto que de alguma forma eu deveria começar pelo dia atual,
dizer sobre os acontecimentos, mas seria retórica vazia. Sendo assim e por
tantos outros pontos, não sei qual deve ser o começo, lanço-me desse jeito:
“Minha opinião!” Parece uma frase
inofensiva, não deveria doer em ninguém. Parece uma falácia boba, um conto
qualquer na quitanda de Seu Sardão. Porém, essa máxima costuma acompanhar uma
lança afiada, que crava lá no fundo de algum peito e se demora muito a sair.
Não precisa ser objetiva, às vezes, ela é só uma fala perdida numa conversa
fiada. Mas, alguém ouve, alguém sente que aquela “opinião” lhe estraçalha um
tanto a alma tão bem guardada. “Foi só uma opinião!” Infelizmente ela não fica
vazia no espaço, surgem outras que comungam de sua energia e acaba crescendo. E
cada vez que a “opinião” ganha adeptos, mas a alma se machuca, infecciona, faz
doer o resto.
Talvez, você diga que a
responsabilidade não é de quem “opina”, mas é de quem a ouve e a leva consigo,
poderia deixar ali naquele papo bobo, naquele novelo perdido, naquela nuvem
cinzenta de dogmas e “verdades” inverídicas. Contudo, aquela “inocente forma de
ver o mundo”, que se diz da opinião, é como um veneno eficaz, pode não ceifar a
vida imediatamente, mas, de certo que aquela ladainha, vai destruindo a alegria
e o sentido de alguém, pouco a pouco, até o sujeito definhar completamente e
sucumbir ao dito de outro dia.
“Por que falo isso? Como sei
dessas coisas?!” É simples, já me escondi no quarto pra chorar das “opiniões ou
verdades” ouvidas. Lembro-me de uma amiga que ocultou sua crença e seu rito,
cansada da “opinião de que ela celebrava e chamava pelo Mal”, ela foi
escondendo a sua “escolha”. Até um dia que ela rendeu sua alma e foi fingir
outra fé, hoje ela parece mais cansada, mais triste, porém afirma que encontrou
sua “salvação do mal”. O mais grave é que hoje ela desfaz e julga das suas “antigas
irmãs”. Tem se tornado um sujeito sisudo e amargo, crente de muitas regras e “Verdades”,
se tornou dona delas e de outras mais.
Eu poderia citar a cor da pele de
alguém, que “ninguém discrimina”, mas costuma ter uma “opinião” de como a
tonalidade interfere no caráter ou na beleza ou mesmo na capacidade de aprender
e se relacionar. É comum partilhar a opinião do gingado baiano, da sexualidade
do negro, do cabelo bom ser o liso e o ruim ser aquele cheio e frisado. Falam
que “negro isso ou aquilo”, quando é um de tom claro e “traços finos”, vem só o
pronome “ele”. “Como ela é linda” – quando a moça é “branca”. “Que negra linda” – precisa detalhar? Parece que toda vez que um ‘não-branco’ tem sucesso ou qualidade, isso é exceção.
Mas, quando o caso é justiça e equidade, vem a “opinião” ou “teoria” tão bem arraigada
de que “somos todos iguais”. Que conveniente essa opinião sem reparação.
“Gordo que é feliz”... Mas, “é
preguiçoso e só pensa em comer”. “E essa barriga de chope”, mesmo que a pessoa
nem beba ou beba, e daí? As pessoas por terem “opiniões tão dignas de expressão”,
esquecem-se que o cativo da opinião tem espelho em casa, tem olhos, mãos, tem
sentidos que lhes apresenta aquela informação, sem precisar de “uma opinião”
pra lhe trazer a “verdade”.
Voltando ao começo... Eu poderia
narrar tantos exemplos, dizer de tantos contos e encontros. Porém, a dor incapacita
um tanto e não quero me enveredar em exemplos. Meu desejo é expressar um
lamento pela “opinião” tão descaradamente lançada como arma, ainda que não seja
determinado tão claro seu alvo. Eu quero falar desse lamento.
“Minha opinião!” não diminui o
peso da dor que certas palavras provocam. Somos sim responsáveis pelo mal ou
bem que expressamos e oferecemos ao mundo. Um dia, uma opinião qualquer, foi
sentida tão profundamente em meu peito, que até hoje quando ouço sua variação,
a dor aumenta, lembra-me de sua existência, faz lágrimas correrem. Quando você
traz uma “opinião” como uma verdade universal, como elemento de emoção/comoção,
como um argumento para qualquer discurso ou dor, ela se torna uma doença
crônica – pra você que não consegue ir além da miudeza de sua visão; e para o
outro que ao sentir aquele dito, se sente desprotegido, é contaminado por uma
dor, uma depressão, um veneno de difícil absorção ou antídoto.
Sobre as opiniões que são afrontadas,
debatidas, as pessoas ou se reservam à burrice da agressão vazia e pejorativa
ou trazem argumentos soltos de fontes não pesquisadas, não refletidas, só
lanças atiradas e a velha ladainha da “liberdade de expressão e isso é A Minha
Opinião” (em aparente grito e exaltação). Em ambos os casos, jeitos, há mais
perdas que benefícios. Para ser mais preciso, eu acho que o único benefício de “algumas
opiniões” é percebermos que quem a sustenta precisa de ajuda, mas é teimoso(a)
demais para admitir ou aceitar. Assim, contra a rocha “inabalável” que alguns
se tornam em defesa da “opinião própria”, só nos cabe tentar diminuir o dano de
quem sente, de quem é gente, de quem vive.
Seres vivos costumam sentir,
crescer, mudar, se machucar, aprender – tudo meio sem ordem visível. E o “não
mudo minha opinião”, fica ali, correndo em um ciclo viciado e vicioso,
cultivando pragas, pecados, injúrias, afastamentos.
Eu que pensei em falar da dor de
quem se machuca com a opinião alheia, acabo não deixando de falar do mal que o “opinador”
causa em si.
Calma, amigo(a)! Algumas vezes
sua cruz vai pesar e machucar um tanto mais, isso faz parte de seu cansaço, do
seu maravilhoso dom de sentir, sentir muito. Quando pensar que o mundo se
contaminou de “opiniões” nocivas e afiadas, respira fundo e permita-se
descansar em um abraço, em um colo, nos lençóis. Eu que me senti tão inútil e
incapaz, sei que me importo, eu me preocupo, eu me doo por você e posso sentir
o quão maravilhoso(a) você é em meio à essas “inocentes opiniões próprias”
sobre “tudo”, seu jeito, suas vestes, suas cores, sua fé, seu amores, ritos,
você...
Agora que minha alma se perdeu no
chão frio e meu corpo tenta puxar ela de volta pra dentro da casca, eu quero
dizer pra você, ainda que seja apenas um leitor, um alguém, que eu o/a amo. Eu
o/a amo por cada luta que você travou, arriscou. Sobre as suas perdas ou das
coisas que desistiu, eu te entendo, eu sinto como você. Mas, antes de explodir
aquilo que você é ou se tornou, pra colocar um ídolo qualquer, um personagem
que alguém traçou e desenhou pra você, seja forte... Você já chegou até aqui e
agora eu afirmo, no fundo você sempre soube, você não está sozinho. Há quem se
importe, há quem brigue pela expressão, pelo desenho desse seu sorriso (torto,
desdentado, sincero, largo, estridente), SEU SORRISO na sua face, em sua alma.
Quem preferir “opinar” ao descaso
da vida, opine... Mas, saiba que sua opinião nos machuca, faz sangra, faz doer.
Pode até matar alguns, pode silenciar outros, corromper, mas no processo o bem
permanece. A verdade é uma traidora das massas, das argumentações, das feras. A
verdade é vitoriosa na grande Batalha. E pra cada alma que você destroça com
sua “liberdade de expressão”, nós – as vítimas dessa sua consciência distorcida
e brutalidade travestida de erudição – nos tornamos mais fortes e humanos.
Entenda que nossa fortaleza é na construção da liberdade, do amor e da justiça,
ainda que tropecemos e erremos em muitas tentativas, nos descobrimos mais
humanos e nos damos conta de que podemos nos perdoar, podemos te perdoar.
“Minha opinião só diz respeito a
mim” – Então para de cuspir ela na vida e alma dos outros. Ou continua, é sua
escolha... Seu cuspe tem servido de irrigação a novos sonhos e planos, seu
veneno tem servido de fertilizante à nossa expressão mais legítima e
revolucionária. Se eu lamento, é pela dor que você nos provoca, mas me cabe
também agradecimento. Graças à sua ignorância e fixação em dizer aquilo tanto
que somos, cada vez mais descobrimos o que não queremos ser. Não quero ser de
pedra, pedras podem conter energias, brilho, poder... Mas, seres vivos são mais
falhos e divertidos. Essas lágrimas provam que eu sinto e muito. Não há nada de
errado em sentir.
Agora seria o ponto para um
fim... Mas, como o começo foi confuso e o meio tortuoso, eu deixo a conclusão
com você. Ainda que eu tenha apresentado tantas “opiniões”, prefiro lhe
oferecer um abraço apertado, depois de um tempo de descanso nele, a gente fala
mais sobre isso, aquilo, outra coisa e tal. ABRAÇO!
Nota
do autor: O
abraço é um oferecimento real, sinta-se abraçado ou reivindique a expressão do
mesmo por comentário’s. Seja livre pra “Opinar” a beleza de estarmos/sermos
vivos desse ou daquele jeito. O abraço pode ser nossa arma por um mundo melhor,
quando nele deixamos transbordar respeito, empatia, amor
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