Derluh Dantas
Ele nasceu como quem fosse um
presente dos mais divinos. Era inteligente, sagaz, sublime. Antes de aprender
leitura, já fazia poesias e entendia as coisas do mundo. Gostava dos pés descalços,
pouco importava se o caminho estava úmido ou quente. Era daqueles sujeitos de
uma expressão e pensamentos únicos. Frente à hipocrisia, ele se valia da ironia
e sarcasmo. Se o caldo engrossasse, ele colocava um sorriso no rosto e desfazia
a turbulência do encontro com tenacidade. Mas, se fosse violência, ele não se
acanhava em entrar no terreiro e defender seu apego ou a justiça. Era tão
brincalhão, que certa vez fez dois amigos provarem a amizade com uma boba
pegadinha: com roupa de um lado preta e do outro lado vermelha, os amigos
brigaram ao dizer da vestimenta do homem. Assim, ele logo mostrou como os
sentimentos humanos são inconstantes. Mas, ele era de tribo diferente. Mesmo
sendo o primeiro a desvendar selvas, mesmo abrindo os trabalhos de nossa gente,
há quem não entenda seu enredo, há quem o julgue mal sujeito, há quem o coloque
na cruz que não lhe cabe nem os dentes. Mas, pouco importa isso pra ele. Ele se
fez livre e como presente divino que era, fez-se um sujeito sempre íntegro e
diferente. O que ele pode fazer, se você não compreende nossa gente? Ele não
quer lhe agradar. Para ele, só lhe cabe proteger sua gente. E se a folha virar,
ser mais uma vez sujeito sorridente. Ah, e sobre sua mania de chamá-lo sujeito
ruim, não há importância alguma ou lamento... Ele é o sujeito do movimento, não
o tente parar ou julgar!
Laroyê Exú!