Incongruências desnecessárias'

Derluh Dantas
O que tem acontecido com alguns? São feridas e ataques sem qualquer motivo aparente. Trocam-se tiros, ofensas, tapas e indiferenças, quando apenas o silêncio e um ‘desculpas’ seria o suficiente para sanar tantas dores presentes e futuras. Alguns parecem buscar o sentido da vida justamente onde ela se perde, na violência gratuita e infundada. Acho ainda mais nocivo essa falta de gratidão, não precisa se submeter pelo feito no passado, mas é desnecessário atacar com toda artilharia no presente quem te fez bem antes. É uma falta de humor, de riso, de abraço... Toda palavra parece se tornar ataque, para alguns. O cômico é que até o elogio, o lisonjeio, ofende quem se cega com a mágoa, o rancor, esse ‘não vai passar em branco’. Recentemente, tenho discutido com alguns essa defesa à pena de morte, confesso não entender. Como pode alguém julgar o outro por ter matado e defender a morte de alguém? A morte, a ferida, a ofensa, por vezes machucam muito mais quem não tem a ver, do que quem está na relação tênue, dicotômica, variável entre culpado e vítima. Por vezes, é tanta maldade no mundo, que eu não tenho como negar minha empatia quase que patológica com os animais irracionais que vagam por aí. Hoje, vi um cachorro com olhar triste e distante, ao me aproximar do portão, ele não se abalou. Apenas se levantou de seu canto, com latidos, abano de rabo, brilho no olhar, quando seu dono chegou. E o cão, o irracional, não se preocupou muito com a indiferença de seu dono, ele apenas estava feliz por saber que seu companheiro chegou bem em casa, depois de mais um dia de luta e batalha. Não digo com isso que devemos ter amor incondicional, ou que devemos acolher quem nos agride, mas confesso que defendo o respeito sobre todas as coisas, principalmente sobre a vida e as escolhas do outro. Já sofremos tanto pelo tempo e inconstância da história, que não consigo compreender a função nociva de fazer o outro infeliz, que alguns parecem escolher e desempenhar tão bem. Não falta amor ao mundo, falta aos sujeitos permitirem-se amar!

Retalho das más notícias'

Derluh Dantas
Então... Já chorei, tive vontade de vomitar. Até me escondi no canto do quarto, ali no apertadinho entre o guarda-roupa e a parede. Quis mais uma vez ver o mundo sumir diante de meus olhos, mas não aconteceu - apesar de ter sentido algo bem por aí. Quis poder desfazer alguns passos alheios, quis poder evitar, proteger... Algumas palavras me surgiam, enquanto as lágrimas faziam companhia. Vieram lembranças que nem aconteceram de fato, mas são sinceras às minhas memórias. Eu me lembrei do sorriso, do olhar brincalhão e mesmo de algumas expressões de deboche e desafio. Mas, existe a morte. Não que ela seja ruim. Ela não é. O que machuca é a falta que ela provoca. A ausência, aquela certeza de que não nos esbarraremos de novo para um abraço ou só uma admiração calada e distante. Fomos apresentados algumas vezes, outras nem foi preciso, não era necessário. Acho que a vida tem dessas: a pessoa chega, te faz bem mesmo que de longe e vai embora ainda cedo. Cedo?! Não sei bem... Porém, falo da precocidade apenas pelo meu desejo de mais alguns encontros, outras palavras, mais abraços. Voltando a essa partida, para quem fica é dor. Para quem vai, não sabemos. Acho que se fosse possível, faríamos a vida ainda mais duradoura do que parece. Contudo, acho que a morte é a prova viva de como desperdiçamos o bom, o belo e depois temos que viver com o arrependimento do que poderia ter sido... Mas, ainda nos restam as maravilhosas lembranças de quem se foi. E volto ao apertadinho, volta o desejo de vômito, o choro e a sábia necessidade do silêncio. 

Com saudades e tristeza,
Que assim seja!

Ser Sozinho'


Derluh Dantas
Talvez. Talvez, realmente eu tenho aprendido a ser sozinho. Não é uma questão de simples costume, é de aprendizagem, de descobrir gozo, onde antes existia apenas medo e desespero. Engraçado, em meio a esse ser sozinho, algumas lembranças tentam causar certo desconforto, certa loucura, desejos de volta. Mas, ser sozinho ensina um tanto do malabarismo entre silêncio e som. Já não assusta o espelho, as formas começam a serem aceitas com um tanto mais de carinho e acalanto. Os olhos piscam! Já não têm a fome infiltrada, apenas reconhece as cores, o belo por entre o pseudovazio de algumas rotinas. Risos. As lembranças, quer dizer... As músicas, as pedras, lugares, que antes causavam dúvidas sobre a dignidade que parecia perdida, se tornaram lugares míticos, fantasias de um tempo que já não cabe mais. Ser sozinho – é engraçado eu me categorizar assim, ainda não vou às baladas sem um amigo em presença, ainda não me sinto a vontade na estrada sem uma companhia para prosear... Porém, sim, considero-me ser sozinho em tantos outros aspectos. Já não consigo mais a adulação, a insistência... Aprendi a deixar voar. Ao mesmo tempo em que vejo os poucos que chegam... Partirem! Já não dói tanto. Creio que por ter aprendido a voar sozinho, também. As fotografias já não necessitam de poses, de mordidas, beijos ou abraços, são fotografias sinceras de mim. Sim, há belas companhias, sinceros abraços, beijos, mas já não há mais o anseio dos mesmos. Há o respeito ao tempo, à estadia, ao pouso e à despedida, que há vezes que nem existe. Apenas chegam, fazem umas cócegas ímpares e simplesmente viram nuvens indo embora com o vento. Não há remorso, pelo contrário, aprender a ser sozinho me faz valorizar o tempo, ainda que aparente efêmero, por vezes se torna infinito. E por isso, agradeço em sinceridade descabida, o reconhecimento de ser sozinho.

Santa Pesquisa: